Cientificamente comprovado, não!
Acredito que este equívoco deve ter surgido e é alimentado, possivelmente, por duas razões: a primeira deve-se ao facto de, quase sempre, acreditarmos naquilo que desejamos, e a segunda, por haver atividades com o nome muito sugestivo como, por exemplo, ginástica localizada, que neste caso, é uma atividade que propõe exercícios de resistência para regiões específicas do corpo, e com o objetivo de desenvolver as capacidades físicas deste segmento, como força, resistência, etc. Contudo, isto não é emagrecimento localizado.
Essa preocupação, na maioria das vezes, está localizada na barriga, para os homens, e nos quadris, glúteos e coxas, para as mulheres. E como se sabe, a ideia mágica de resolver essa questão de forma quase milagrosa, é também frequentemente explorada em campanhas publicitárias, através de várias alternativas: cremes, chás, terapias, dietas específicas e até mesmo certas modalidades de atividade física, para “queimar” gordura localizada numa certa região do corpo.
No que diz respeito ao exercício físico, o argumento para este efeito tão desejado é bastante simples: se você exercitar uma parte específica do seu corpo, poderá perder gordura e tonificar aquela região. Por exemplo, se fizer abdominais poderá queimar a gordura da barriga e conseguir um abdômen tonificado. Acontece que não é assim que funciona, e para compreender melhor, devemos observar o exercício como um todo.
O processo completo do exercício físico deve ser analisado em dois períodos distintos: o período de realização do exercício, e o período de recuperação – as fases catabólica e anabólica, respetivamente.
Durante o catabolismo, ou seja, quando se realiza o exercício físico com resistência suficiente para o recrutamento das fibras musculares, com algum vigor, os tecidos são parcialmente lesionados devido ao stress mecânico a que foram submetidos; e nesse momento, a energia utilizada para a realização do movimento provém das reservas de glicogênio contido no próprio músculo, e se houver continuidade e for necessário, também da reserva hepática.
No período seguinte, após a realização dos exercícios, se houver as condições necessárias – alimentação e repouso, o organismo irá promover a regeneração do tecido muscular, reparar ligações quebradas e repor as reservas de energia, para desenvolver músculos mais fortes e adaptados ao trabalho que foi exigido deles, e a esse processo denomina-se anabolismo.
Assim, depois de um período de esforço prolongado, os níveis de glicogênio nos músculos e no fígado diminuem e, por consequência, o organismo vai buscar açúcares para converter em glicogênio e repor as reservas muscular e hepática. Estes açúcares poderão estar diretamente disponíveis na corrente sanguínea, quando provenientes da ingestão de hidratos de carbono, especialmente os de cadeias simples (doces, massas, frutas, etc), ou poderão vir das reservas de gordura, pela quebra das moléculas de ácidos gordos, provocada pela liberação da hormona Glucagon pelo pâncreas. Isto ocorre quando o corpo identifica um nível baixo de açúcar na corrente sanguínea.
Uma vez que o sistema circulatório é o mesmo para o corpo todo, e afeta todas as partes e não somente o segmento corporal em questão, a busca de ácidos gordos nas células de gordura – adipócitos, será também por todo o corpo, onde houver reservas, e não somente na região trabalhada. É também importante considerar que a localização e concentração das células de gordura no corpo humano dão-se por características genéticas – biótipo e pelas características sexuais secundárias, nas mulheres da cintura para baixo, e nos homens da cintura para cima.
Podemos concluir, portanto, que a mobilização de gordura através do exercício físico se dá em todas as reservas distribuídas pelo corpo, e os efeitos da sua redução serão mais evidentes nas regiões de menor concentração de adipócitos, uma vez que nos pontos de maior concentração, a mesma redução será menos visível.
Jales Carvalho
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