O nascimento de um bebé pode desencadear um conjunto de emoções intensas e mistas, como a alegria e o medo, mas também pode resultar em algo mais grave, como a depressão. Muitas recém-mamãs experienciam momentos de tristeza logo após o parto, designados de “baby blues”. Estes episódios ocorrem nos primeiros dias após o nascimento do bebé e são caracterizados por mudanças de humor, episódios de choro, ansiedade e dificuldade em dormir, que podem prolongar-se até duas semanas.
Contudo, algumas mães podem ainda experienciar uma forma mais severa de mudança de humor: a designada depressão pós-parto. Trata-se de uma perturbação de humor que pode afetar as mulheres após o parto, não tendo uma causa única. Ao contrário do que se possa pensar, a culpa não é só das hormonas, embora as alterações hormonais se relacionem efetivamente com alterações do humor. No entanto, a depressão pós-parto advém da combinação de uma série de fatores, tais como biológicos, psicológicos, familiares, socioeconómicos.
Sabe-se hoje em dia que um dos principais precursores da depressão pós-parto é a ansiedade que está associada à gravidez. Geralmente, os primeiros sinais de depressão pós-parto começam durante a gravidez e têm maior expressividade depois do parto. Os sentimentos de tristeza, ansiedade e exaustão podem ser extremos e podem interferir na capacidade de uma mulher cuidar de si mesma e/ou do bebé e, se não for tratada, pode perdurar no tempo. No entanto, não são apenas as mulheres a terem esta perturbação. Segundo um estudo publicado no Archives of Pediatric & Adolescent Medicine, cerca de 4% dos homens também sofrem de depressão pós-parto.
Os sintomas da depressão pós-parto iniciam-se normalmente nos primeiros três meses após o parto, mas podem aparecer nos dezoito meses subsequentes e são semelhantes aos de uma depressão major (por exemplo, irritabilidade e choro fácil; tristeza prolongada; falta de energia e incapacidade de realizar tarefas do dia a dia; desinteresse pelo bebé ou ansiedade exagerada pelo seu estado de saúde; sensação de culpa, vergonha ou fracasso; baixa autoestima e autoconfiança; dificuldade de concentração, atenção e memória; alterações do apetite e do sono).
Embora qualquer mulher possa ter uma depressão pós-parto, há circunstâncias que aumentam esse risco, tais como o histórico pessoal ou familiar de depressão, histórico de depressão ou ansiedade durante a gravidez; complicações na gravidez ou no parto; experiência traumática em partos anteriores; perdas gestacionais anteriores; má relação conjugal, entre muitas outras.
Como prevenir a depressão pós-parto?
Eis algumas dicas importantes:
- Tente descansar o máximo possível. Por exemplo, aproveite as visitas para dormir ou para tirar algum tempo só para si. Tentar dormir e fazer um sono o mais reparador possível é fundamental para se manter estável.
- Se possível, divida com o seu parceiro os trabalhos domésticos e os cuidados com o bebé.
- Delegue algumas tarefas domésticas ou de rotina (ir às compras, tratar de assuntos fora de casa), para não acumular funções.
- Ignore as críticas de pessoas que estão sempre prontas para julgar e dar sugestões do que deve ou não fazer. Siga os seus instintos e procure informação útil.
- Não tente ser perfeita – tente ser o melhor que consegue ser, dadas as circunstâncias.
- Verbalize os seus sentimentos e, se considerar necessário, procure ajuda profissional.
A depressão pós-parto pode ter um impacto negativo tanto na saúde da mãe, como na saúde e no desenvolvimento do bebé. Felizmente, a depressão pós-parto é tratável, existindo medicação segura mesmo durante a gravidez e durante amamentação. No entanto, não caia no erro de se automedicar. Só o médico poderá dizer qual a medicação apropriada para si e como a tomar. Além disso, é fundamental que a par da psicofarmacologia, tenha acompanhamento psicológico, uma vez que os resultados serão mais consistentes, duradouros e preventivos, diminuindo a recorrência.
Ser mãe não é fácil. Cuide de si, para poder cuidar dos seus rebentos. O cordão umbilical é para sempre, assim como o amor e o bem-estar físico e emocional devem ser.
Um artigo da psicóloga clínica Laura Alho, da MIND | Psicologia Clínica e Forense.
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