Segundo o Instituto Nacional de Estatística, a população idosa em Portugal (indivíduos com 65 ou mais anos) sofrerá um forte aumento, atingindo cerca de 32% da população total em 2050, o que a verificar-se, constitui uma duplicação da percentagem contabilizada para o ano de 2000.

No entanto, os idosos, na sua generalidade, não pretendem a institucionalização, preferindo manterem-se no espaço que sentem como seu, que lhes é familiar e no qual se sentem confortáveis. Perante os factos identificados, de acordo com a OMS, considera-se que neste contexto, o apoio domiciliário surge como uma atitude eficaz. Para esta Organização, o domicílio é um local com ligações/associações de emoções, memórias e conforto.

O apoio/cuidado domiciliário pode ser entendido como cuidados fornecidos por profissionais de saúde no domicilio de forma a dar resposta às necessidades individuais. Estas necessidades podem ser desde reabilitação, apoio de Enfermagem em procedimentos técnicos ou acompanhamento, apoio nos serviços domésticos e necessidades básicas, como os cuidados oferecidos pelos cuidadores informais.

O apoio domiciliário pode variar de cuidados para pessoas com necessidades complexas (por exemplo auxilio 24 horas por dia), para pessoas que só necessitam de ajuda de forma pontual e para tarefas relativamente simples (serviços domésticos ou auxilio na higiene). Têm por finalidade promover, manter ou recuperar a saúde, maximizando o nível de independência ou minimizando os efeitos da deficiência / doença, bem como fornecer apoio social ao indivíduo e sua família.

Durante décadas, os custos relacionados com a saúde por toda a Europa têm vindo a crescer exponencialmente. De forma a evitar uma quebra no setor e com consequente diminuição da qualidade dos cuidados prestados, várias hipóteses de contenção de custos estão a ser analisadas pelos diversos governos europeus. Muitas considerações económicas ao longo da Europa têm convergido na necessidade de retirar os doentes o mais cedo possível do hospital e como consequência mais pessoas são tratadas no domicilio e com condições patológicas cada vez mais complexas.

O custo associado ao internamento é bastante elevado, com os riscos associados ao mesmo, como por exemplo o risco de infeção. A despesa com infeções nosocomiais tem um peso significativo nas despesas em cuidados hospitalares e podiam ser significativamente reduzidas com altas precoces para o domicilio e respetivo acompanhamento no conforto do seu lar.

Tendo em conta o custo-eficácia dos cuidados, muitas das intervenções em saúde podem efetivamente ser realizadas na comunidade ou em casa. Estudos efetuados em doentes com Insuficiência Cardíaca, com necessidade de antibioterapia e com DPOC revelam a redução de custos no tratamento, sem perda de qualidade, em relação aos efetuados em meio hospitalar. Torna-se deste modo imperativo estender os serviços de saúde para além do Hospital.

Neste sentido as políticas de saúde vão no sentido de privilegiar o domicílio como local de eleição para a prestação de cuidados às pessoas dependentes, onde uma grande parte são pessoas idosas, responsabilizando as famílias/cuidadores informais pela prestação desses cuidados, desde que apoiados por profissionais de saúde e da área social. Será importante referir que 25% das pessoas com mais de 65 anos têm algum tipo de dependência de terceiros e aos 80 anos a percentagem aumenta para 50%. Na maioria dos casos (70%), o apoio é assegurado por familiares, amigos ou vizinhos e sem qualquer ajuda estruturada, sobretudo económica, pelo empregador ou pelo próprio Estado.

Porém Portugal tem a maior taxa de cuidados continuados e paliativos, prestados por pessoas sem preparação nem qualificação para tal, e uma das mais baixas taxas de cobertura de cuidados prestados por profissionais, em toda a Europa, revela um estudo efetuado pela Entidade Reguladora da Saúde.

O Ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, já veio informar que é intenção do governo criar uma rede de cuidadores informais já a partir do próximo ano, mostrando assim que os cuidados domiciliários, a problemática da dependência de idosos faz parte do programa do atual Governo.

Este é, portanto, o desafio que enfrentamos e que esperamos que seja colmatado com apoio estatal e desenvolvimento de projetos particulares/privados.

Juntos cuidamos melhor, juntos cuidamos mais!

Por João Lourenço Rombo, Diretor Geral da IberSaúde