No âmbito da educação para a saúde é imperioso divulgar todas as estratégias que contribuam para promover um estilo de vida saudável e um envelhecimento ativo, incentivando as boas práticas como forma de prevenção e fomentando a transmissão de conhecimentos básicos que permita a cada pessoa individualmente e à população enquanto grupo, ajudar a combater o flagelo universal que são e continuarão a ser as doenças da coluna vertebral.
A coluna vertebral constitui o eixo central do corpo humano. É composta por 33 vértebras, cuja função primordial é suportar o peso do corpo e proteger a medula espinhal e os nervos raquidianos, que são as estruturas anatómicas responsáveis pela transmissão dos impulsos nervosos necessários para o movimento, sensibilidade e controlo esfincteriano. As vértebras estão unidas por articulações e separadas pelos discos intervertebrais, que funcionam como amortecedores, absorvendo ondas de choque e pressão exercidas sobre o corpo e garantindo a flexibilidade da coluna vertebral. Os músculos paravertebrais inserem-se nas vértebras, desde a região occipital na nuca, até ao cóccix, e têm como função sustentar a coluna na posição correta, constituindo o principal pilar de suporte da coluna vertebral.
As doenças da coluna vertebral podem ter um efeito devastador na qualidade de vida, causando dor e incapacidade, limitação de movimentos e impotência funcional. Podem impossibilitar a realização de atividades diárias básicas, afetar o rendimento profissional, as relações interpessoais, o desempenho sexual e o padrão do sono, podendo provocar défices neurológicos graves, distúrbios psicológicos e sociais, incluindo elevadas taxas de absentismo.
Estão identificados alguns fatores de risco que potenciam o desgaste da coluna, o aparecimento de dor e das doenças vertebro-medulares. Alguns são modificáveis, devendo ser evitados e tratados, tais como o excesso de peso, a carga de pesos excessivos, a adoção de posturas incorretas, a realização de movimentos repetitivos e viciosos, os traumatismos e impactos sobre a coluna, o sedentarismo e consequente perda de massa muscular paravertebral, o tabagismo e a fragilidade óssea (osteoporose ou osteopénia). Como fatores de risco não modificáveis, destacam-se a idade avançada e os defeitos congénitos.
Estas agressões, em conjunto ou isoladamente, promovem o aparecimento de alterações degenerativas, desgaste dos discos intervertebrais originando hérnias discais, aceleram a degenerescência das articulações provocando artroses, e facilitam a formação de esporões ósseos (vulgarmente conhecidos como “bicos de papagaio”) que poderão originar apertos ou estenoses do canal vertebral e compressão da medula e dos nervos raquidianos, originando consequentemente, dor, rigidez, diminuição da flexibilidade e amplitude dos movimentos, alterações da sensibilidade e falta de força muscular. As lesões vertebro-medulares por traumatismo são frequentes e resultam de quedas, acidentes de viação, prática desportiva ou traumatismos minor em doentes com osteoporose ou osteopénia.
Queixas como dor persistente na coluna vertebral, com ou sem irradiação para os membros, diminuição da força muscular nos membros, dormência ou formigueiro, sensação de pernas pesadas ou cãibras, dificuldade na marcha ou na elevação dos braços, perda da destreza manual, impotência funcional, alterações urinárias ou dificuldade na micção, deverão motivar a observação por um neurocirurgião especialista em patologia da coluna vertebral.
Para prevenir as dores na coluna e minimizar a degenerescência própria do envelhecimento, devemos manter um estilo de vida saudável, adotando posturas corretas, carregando pesos de forma equilibrada, evitando sobrecargas com pesos excessivos, ter um peso adequado à altura e fazer exercício físico regularmente. Os doentes com mais idade deverão fazer o rastreio da desmineralização óssea, para diagnosticar e tratar atempadamente a osteoporose, evitando fraturas vertebrais graves. A cessação tabágica é fundamental uma vez que o tabagismo acelera a desidratação e desgaste dos discos intervertebrais.
O diagnóstico das doenças de coluna depende de uma avaliação médica completa com particular atenção à história clínica e caracterização rigorosa das queixas de cada doente. É essencial um exame clínico e neurológico detalhado, incluindo a execução de testes específicos para avaliar a necessidade de realizar exames complementares de diagnóstico.
A maioria dos problemas que afetam a coluna vertebral, não requerem tratamentos invasivos. O tratamento medicamentoso deve cingir-se à fase aguda, sempre por indicação do neurocirurgião especialista em coluna. Deve evitar-se a automedicação, devido aos potenciais efeitos secundários dos medicamentos utilizados, assim como ao efeito nocivo do uso crónico e prolongado de medicamentos analgésicos e anti-inflamatórios, e também para não mascarar sintomas que impossibilitem o diagnóstico atempado de problemas mais graves, antes dos défices neurológicos se instalarem ou de ser tornarem irreversíveis. Poderá ser necessário fazer tratamentos de fisioterapia, mas sempre após avaliação do neurocirurgião para obtenção de um diagnóstico preciso e por sua indicação. A massagem e manipulação vertebral, devem ser evitadas, sem ter um diagnóstico médico rigoroso.
A cirurgia de coluna é uma opção terapêutica válida e segura, estando indicada sempre que exista compressão da medula ou das raízes nervosas, quando as dores não são controláveis com o tratamento médico, sempre que exista défice neurológico e impotência funcional ou na presença de fraturas vertebrais, tumores da coluna, infeções ou malformações.
O progresso científico e os avanços tecnológicos, associados à medicina baseada na evidência, oferecem à cirurgia de coluna atual, padrões de elevada segurança e eficácia. As mais recentes técnicas cirúrgicas minimamente invasivas, permitem reduzir os riscos em torno do procedimento e otimizar a recuperação dos doentes, com vantagens substanciais, tais como menos dor pós-operatória, menos perdas sanguíneas, menor risco de infeção, preservação da anatomia funcional, menor tempo de recuperação, períodos de internamento mais reduzidos, regresso mais rápido à vida normal e melhor efeito cosmético.
A título de exemplo, atualmente tratam-se hérnias discais, compressões medulares, compressões dos nervos raquidianos e estenoses (apertos) vertebrais, por incisões com menos de 2 cm, e fracturas vertebrais, tumores, ou dores articulares por incisões com menos de 0,5 cm.
Como médico neurocirurgião especialista em doenças da coluna vertebral, congratulo-me por trabalhar num centro de referência nacional e internacional, dispondo de um arsenal tecnológico de ponta, necessário para o tratamento de todo o espectro de patologias da coluna vertebral, da mais simples à mais complexa, para benefício dos nossos doentes.
Um artigo do médico Vítor Moura Gonçalves, neurocirurgião no Hospital Lusíadas Lisboa e Clínica Lusíadas Almada. É ainda Fellow of the European Board of Neurological Surgery e Fellow of the American College of Surgeons.
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