A condicionar esta decisão existe a crença de que uma criança deixa de ter tempo para ser criança a partir do momento em que entra na escolaridade. No entanto, precisamos de ter consciência que iniciar a escolaridade e estimular a aprendizagem nunca deve implicar que uma criança deixe de brincar e deixe de ser criança.

Por sua vez, a impulsionar esta decisão há a crença de que as crianças que ficam mais um ano no pré-escolar acabam por ‘perder’ um ano e ficar ‘atrasadas’ em relação às outras crianças.

Perante tudo isto, chegada à hora de decidir se uma criança deve, ou não, entrar no primeiro ciclo, aquilo que é importante é analisar os fatores de desenvolvimento de uma criança, dos quais destacamos:

desenvolvimento emocional - o desenvolvimento da maturidade emocional é essencial para uma criança conseguir ligar-se à escola e à aprendizagem. Por isso, quando temos de decidir, devemos tentar perceber se uma criança é, ou não, capaz de lidar com as suas emoções, nomeadamente se é capaz de tolerar a frustração e de reagir ao imprevisto. Porque nunca nos esqueçamos que aprender implica errar e, naturalmente, ser-se capaz de lidar com a frustração;

desenvolvimento social - a entrada na escola, implica conseguir lidar com a autoridade, com o grupo de pares e a adaptação a um novo contexto e a novas exigências. É, por isso, importante, que ao entrar na escola uma criança seja capaz de ser plural nas suas relações, de se afirmar e de criar novas relações;

desenvolvimento cognitivo - há uma janela de oportunidade ideal que se torna mais favorável à aprendizagem, nomeadamente, da leitura e da escrita. Mas, há também requisitos absolutamente imprescindíveis — por exemplo, coordenação olho-mão, motricidade fina, consciência rítmica, entre outros — por isso, chegada à hora de decidir, há um conjunto de áreas que devem ser tidas em consideração.

Perante tudo isto, nunca nos esqueçamos que cada criança é única e que mais importante do que pensarmos se uma criança vai deixar de brincar ou vai ficar atrasada, é olharmos para uma criança no seu todo, olharmos para o seu desenvolvimento global e, a partir daí, de uma análise minuciosa do desenvolvimento de uma criança tomar uma decisão ponderada, consciente e com vista a tudo aquilo que pode promover a exponenciação dos recursos de uma criança e, principalmente, que a entrada na escola se dá na janela de oportunidade ideal para cada criança.

Um artigo das psicólogas clínicas Cátia Lopo e Sara Almeida, da Escola do Sentir.