Investimos tanto do nosso tempo a planeá-las. Fizemos tudo para aproveitá-las ao máximo e, depois, num ápice, acabam! Sim, falamos das férias. Essas que passam sempre tão depressa, não concorda? Como que por magia, todos os seus efeitos terapêuticos parecem desaparecer mal regressamos à vida de todos os dias. Até parece que nos sentimos ainda mais cansados, mas não somos os únicos.
Estudos realizados no Brasil apuraram que quatro em dez pessoas, logo após o regresso ao trabalho, manifestam tristeza, irritabilidade, cansaço e alterações no apetite e no sono. Serão estas reações inevitáveis? De que forma podemos prolongar os benefícios de uns dias de descanso e não nos deixarmos derrotar pelo stresse pós-férias?
Kathleen Hall, fundadora do The Stress Institute, um organismo que estuda o fenómeno nos Estados Unidos da América, também autora de livros como «Life in Balance» e «Alter your Life: Overbooked? Overworked? Overwhelmed?», dá-nos todas as ferramentas para ultrapassar a síndrome pós-férias.
Reação natural
O stresse que costuma marcar o regresso ao trabalho envolve uma reação, muitas vezes difícil, de adaptação ao dever, em oposição ao lazer registado durante as férias. De acordo com Kathleen Hall, embora não exista muita investigação sobre este problema, já que a maior parte das pesquisas concentra-se nos benefícios psicológicos e para a saúde que as férias nos trazem, trata-se de uma perturbação muito comum e natural.
«O nosso organismo abrandou durante as férias e o corpo desenvolve um ritmo novo, mais lento, do qual gosta muito mais. Recarregamos baterias ao nível físico e emocional e é normal que nos mostremos resistentes a acelerar novamente. Não fomos programados para viver a um ritmo tão rápido e o nosso corpo e a mente tentam dizer-nos isso mesmo», explica a especialista.
A ansiedade e tristeza sentidas no regresso à rotina serão tanto maiores quanto mais longo for o período de férias, salienta ainda Kathleen Hall. Muitos especialistas aconselham, por isso, as pessoas mais propensas a este tipo de stresse para, em vez de fazerem períodos de férias muito prolongados, tirarem menos dias de férias... mais vezes!
Quem sofre mais
Segundo a fundadora do The Stress Institute, a nível geral, as mulheres serão mais lesadas pelo stresse pós-férias, porque veem-se confrontadas com o trabalho que ficou por fazer. As mulheres costumam ver-se submergidas de imediato num sem número de tarefas domésticas associadas ao regresso a casa, grande quantidade de roupa para lavar e arrumar, compras para fazer, refeições para preparar e, em simultâneo, todas as obrigações associadas ao retorno ao emprego.
Mas não são só os adultos que sofrem. Os filhos também são afetados pelo fim das férias. Como alerta Kathleen Hall, «depois de um período de relaxamento, os mais novos podem sentir-se cansados, mal-humorados e com dificuldade em levantar-se cedo. O apetite diminui e a memória pode tornar-se mais lenta. No entanto, esta é uma situação apenas temporária, de adaptação».
Stresse ou insatisfação?
A esfera onde a síndrome pós-férias se costuma refletir mais é a laboral. Mas, mais do que uma reação de adaptação, quando o stresse é muito intenso e prolongado, pode ser um indicador de descontentamento em relação ao local de trabalho e, em alguns casos, à própria profissão, obrigando a um balanço sério.
Um estudo recente conduzido em São Paulo, no Brasil, pela ISMA-BR (International Stress Management Association no Brasil), apurou que 93 por cento dos brasileiros que manifestaram stresse depois das férias se sentia descontente profissionalmente. Desses, 71 por cento confidenciou que o ambiente no seu local de trabalho era hostil.
De acordo com o Labour Force Survey, realizado em 2010 nos Estados Unidos da América, o stresse prolongado é a segunda causa de doença associada ao local de trabalho. Outra investigação, levada a cabo no Reino Unido, concluiu ainda que o stresse conduz a uma taxa cada vez maior de absentismo laboral.
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Prevenir antes de regressar
Tentar minorar o impacto do regresso à rotina é a estratégia aconselhada pela fundadora do The Stress Institute. Esta especialista sugere «voltar para casa um ou dois dias mais cedo do que a data em que começa a trabalhar, para desfazer as malas, arrumar tudo e preparar-se física e mentalmente para o retorno à rotina». Estabeleça também prioridades e não se deixe esmagar pelas obrigações.
«Quando sentir a ansiedade a chegar, respire fundo e repita para si própria uma frase que a faça sentir bem», refere Kathleen Hall. «Várias pesquisas têm demonstrado que, quando estamos stressados, só o facto de repetirmos uma afirmação positiva reduz os níveis de produção de hormonas associadas ao stress», acrescenta esta especialista. Em vez de suspirar pelas férias que já lá vão, siga, por isso, estes conselhos:
- Defina etapas
Não precisa de fazer tudo ao mesmo tempo mal regressa a casa. Divida as tarefas domésticas pelos dias da semana e trate primeiro do que é realmente urgente. Ir ao supermercado abastecer-se de compras para o mês provavelmente será prioritário masfazer cinco máquinas de roupa consecutivamente não.
- Faça refeições com sabor a verão
Houve algum prato novo que experimentou durante as férias e do qual gostou particularmente? Procure a receita num livro de culinária ou na internet e confecione-o para a sua família.
- Partilhe histórias
Durante o jantar, reserve dez minutos para conversar sobre as férias, procurando que cada um conte as melhores recordações que tem. A comunicação e a partilha reduzem os níveis de stresse.
- Relembre momentos
Tente lembrar-se de um momento particular das suas férias que lhe desperte a sensação de paz. Podia ser quando olhava para o mar, quando passeava na montanha ou, simplesmente, um jantar em família.
- Reuna-se com amigos
Convide familiares e amigos para um serão especial em sua casa e vejam juntos um slide show com as fotografias das férias.
- Faça caminhadas regulares
O stresse e a ansiedade podem ser atenuados através de um passeio ao fim da tarde ou depois do jantar. Sem dar por isso, passaram 20 minutos, o stresse desapareceu, e vai adormecer com enorme facilidade.
Texto: Teresa d'Ornellas com Kathleen Hall (fundadora do The Stress Institute nos EUA)
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