Acolhe-nos o pátio do Hotel Pestana Cidadela Cascais - Pousada & Art District. Arte porque, aqui, criadores residentes desenvolvem o seu trabalho e expõem-no in loco, nos espaços comuns da unidade hoteleira, membro da Leading Hotels of The World. Uma dimensão cultural que, historicamente, não é estranha a este espaço recuperado para pousada em 2012. Nos idos do século XIX, início do século XX, por altura da presença em Cascais de D. Luís I e, mais tarde, D. Carlos, grande parte da corte e da aristocracia ia a banhos. A Cidadela servia então de acomodamento. Vários relatos descrevem o ambiente boémio, de conversas acesas, de pelejas com as palavras.
Palavras que neste século XXI continuam a povoar a Cidadela, na livraria solidária Déjà Lu (iniciativa que decorre do blog homónimo gerido por Francisca Prieto), localizada no piso superior do restaurante Taberna da Praça. O espaço é amplo. Três salas pejadas de livros. Todos em segunda mão, porque todos eles doados. Sem exceções, as obras encontram-se em bom estado de conservação. Manuseiam-se como novas e há-as para todos os apetites literários: terror, policial, romance, poesia, ficção científica, ensaio, culinária, literaturas de diversos países, autores de muitas épocas e escolas. De notar a livre e humorada catalogação dos títulos. Fica um exemplo: “Autores que todos os anos e por um triz não ganham o Nobel”. Dentro de uma caixa de madeira espreitam, entre outros, Murakami, Lobo Antunes, Houellebecq. Sublinhe-se os preços, tentadores. Veja-se: “Ensaio sobre a Lucidez” de José Saramago por seis euros.
Um desembolso feito com uma garantia: todas as vendas revertem em 100% para a Associação Portuguesa de Portadores de Trissomia 21. Não custa assim tanto a generosidade. No caso presente oferece-nos boa leitura e a possibilidade de, descendo um lanço de escadas, desembocarmos em plena esplanada do restaurante Taberna da Praça.
E, supondo que é sábado ou domingo, que o sol espreguiça os ponteiros nas 12 horas e que a fome é galopante, damos graças pelo brunch. Refeição inventada no século XIX por notívagos britânicos, o brunch cativou quem, saltando a sono solto as manhãs, remediava a mesa com uma refeição misto de almoço e de lanche.
Na Taberna da Praça porque os livros não morrem no primeiro andar do edifício o brunch é literário. Isso mesmo nos recorda o escaparate pejado de revistas de arte, literatura de viagens e jornais. Dispensamo-los desta vez. Seguimos com o “Ensaio” de Saramago pela mão e temos encontro marcado com Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão. Nestes dois casos na homenagem que é feita aos escritores na carta do “Brunch Literário”.
O “Brunch Eça de Queiroz” inclui uma seleção de viennoiserie, bolo de iogurte, pãezinhos, iogurte com fruta e muesli, uma seleção de compotas, café, chá ou leite, sumo de laranja. Por seu turno o “Brunch Ramalho Ortigão” propõe-nos as panquecas com molho inglês e frutos vermelhos, uns scones com manteiga e compotas e tomate grelhado. No caso vertente, também não dispensa a gula uns bons ovos, juntando à mesa uma dupla clássica: uns ovos Benedict a que se somam uns ovos Arlington (salmão curado em gin, lima e pimenta rosa em tosta de pão alentejano).
Para os corredores de fundo a carta propõe ainda uma tábua de carnes fumadas com espargos e pickles e um “festival de fruta fresca”.
O diálogo com a carta termina com um singelo café. Repousa sobre a mesa a “Lucidez” de Saramago. Como mote para o livro: no decurso de umas eleições regionais o poder político fica atónito. Todos os votos saem em branco das urnas, isto mesmo depois de repetido o ato.
Uma leitura que poderá causar a certas digestões mais sensíveis ou políticas algum agaste. Para mais, depois de um bom brunch.
"Brunch Literário" no Pestana Cidadela Cascais - Pousada & Art District
Horário: 12h00 às 16h00 (sábado domingo)
Local: Taberna da Praça
Preço: 13,00 euros (Brunch Eça de Queiroz) - 7,50 euros (Brunch Ramalho Ortigão). Preços por pessoa.
Reservas: 214 814 300
Texto: Jorge Andrade
Fotos: Pestana Cidadela Cascais - Pousada & Art District
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