A semana antes de o Rui partir para Londres foi a mais alucinada que tivemos na cozinha. De certa forma, foi uma maneira de não pensarmos nas saudades e na distância que em breve nos iria separar. Tomei como missão pessoal ensiná-lo a mexer-se na cozinha e a ser um homenzinho independente. Afinal de contas, não queria o rapaz a alimentar-se a hambúrgueres e batatas fritas todos os dias. Aquele pneuzinho não precisava de mais gorduras…

O SOM PARA ESTE MOMENTO

Nesses últimos dias, foi o Rui quem fez o jantar todas as noites, com algumas dicas minhas e muito acompanhamento de vídeos na internet. Confesso que os três primeiros jantares foram um pouco dececionantes. É preciso algum jeitinho para conseguir brilhar na cozinha, mas acreditem que é preciso um jeitinho ainda maior para conseguir salgar e queimar um prato ao mesmo tempo…

Mas ao quarto dia, a revelação! Depois de me ver a torcer o nariz, e antecipando já a fominha que iria passar em Londres se não pensasse num plano infalível para se autoalimentar – ou o quanto iria engordar se andasse a viver de fast food – o Rui foi espertalhão. Antes de ir para casa tirou umas horas para passear pelo supermercado. Acho que nunca o tinha feito daquela forma, com tempo e com real interesse pelo que encontrava nas prateleiras. Quando chegou a casa trazia quatro sacos de compras e um ar de miúdo que aprendeu a andar de bicicleta pela primeira vez:

- Sabias que agora há massas de tudo e mais alguma coisa? E boas! Até há massas integrais e sem glúten, vê lá tu! Posso comer esparguete e macarrão à vontade, acrescento uns molhos, uns camarões, umas lascas de queijo…

Até lhe brilhavam os olhos! E não sei que milagre aconteceu, mas dizem que a necessidade é a mãe da criatividade. E deve ser mesmo, porque nesse dia, mesmo sem tutorial da internet, o Rui fez uma massa deliciosa, sozinho, no ponto e com um tempero impecável.

Entretanto já está há um mês a viver em Londres. E até já convidou os colegas do emprego a irem lá a casa jantar. Quem diria?

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