A trabalhar há alguns anos nesta área, e sendo também adepta desta alimentação e estilo de vida, foram já muitas as vezes em que ouvi alguém dizer que a cozinha vegan não é para todas as carteiras. Compreendo. Primeiro, porque existem ainda muitas dúvidas no que diz respeito a este tema. As pessoas não sabem exatamente o que come um vegan.

Depois, porque os alimentos da “moda” aparecem constantemente e baralham ainda mais a equação. Quinoa, abacates, sementes de chia, tâmaras! Mas isso é tudo muito caro! E o preço das bebidas e dos iogurtes vegetais? Um absurdo quando comparamos com as versões de origem animal.

Vou baralhar-vos um bocadinho com a próxima afirmação: É verdade. É verdade que nem todos os alimentos que listei acima são acessíveis a todas as carteiras. Mas significa isto que a alimentação vegan é mais cara? Não. E passo a explicar:

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A base de uma alimentação vegan saudável e equilibrada são os vegetais, as frutas, os cereais, as leguminosas e as oleaginosas. Podemos também acrescentar a esta lista alguns fungos (como os cogumelos) e as algas, por exemplo.

Quase todos estes alimentos encontram-se facilmente em qualquer cidade e mercado/supermercado local e a grande maioria tem preços acessíveis, principalmente se forem locais e de época. Falo dos vegetais (que devem ocupar cerca de metade de um prato vegan saudável!), mas também das leguminosas (como o grão e o feijão), das frutas da época e dos cereais (como o arroz, o couscous, o bulgur).

A alimentação vegan é mesmo para todas as carteiras?

Em Portugal, só o custo das oleaginosas (frutos secos e sementes) é que foge um bocadinho a esta regra e tem um preço mais elevado. Ainda assim, esse acréscimo não é suficiente para fazer disparar o custo geral de uma alimentação vegan, até porque são grupos de alimentos que devem ser consumidos com mais moderação.

Relativamente à quinoa, podemos dizer que ela é o Ferrari dos cereais, mas isso não significa que precisemos de a incluir em todas as nossas refeições. Existem tantos cereais integrais interessantes do ponto de vista nutricional e muito mais acessíveis para o dia-a-dia. Comer quinoa é uma opção, não a regra.

Acrescento até que é possível fazer uma alimentação vegan maioritariamente biológica com base nestes grupos de alimentos e ainda assim gastar menos (ou o mesmo) do que numa alimentação à base de alimentos de origem animal.

A alimentação vegan é mesmo para todas as carteiras?

Mas então, porque temos a ideia de que comer vegan é caro?

Porque pode, de facto, ser mais caro. Tudo depende das nossas escolhas e do tipo de alimentação que queiramos fazer. Tal como uma pessoa que coma carne/peixe pode gastar mais ou menos do que outra, dependendo das suas escolhas.

O maior custo da alimentação vegan encontra-se nos alimentos processados como as bebidas vegetais, os iogurtes, os enchidos, os queijos, entre outros. Se compararmos estes produtos com os seus equivalentes de origem animal, é normal que achemos que ser vegan é muito mais caro. Mas estes produtos não devem representar a maior fatia da nossa ingestão calórica diária.

A alimentação vegan é mesmo para todas as carteiras?

Aliás, é perfeitamente possível fazer uma alimentação vegan nutricionalmente adequada sem estes alimentos, se assim o desejarmos. Outra hipótese passa por fazermos em casa estes produtos, como as bebidas vegetais e os iogurtes e gastarmos assim muito menos do que se comprássemos no supermercado.

Na minha perspetiva, e tendo já estado de ambos os lados, é tudo uma questão de orçamento. Se tivermos mais, tendemos a gastar mais e a optar invariavelmente por alimentos mais caros. Pelo contrário, se tivermos um orçamento limitado vamos fazer escolhas mais conscientes e optar por alimentos mais acessíveis: como aqueles que a natureza nos dá.

Posto isto, deixo-vos a sugestão de uns Croquetes de lentilhas no forno, um exemplo de receita económica e nutritiva para uma refeição principal.

croquetes de lentilhas no forno