Os chefes de cozinha são irrequietos por natureza. Dias e noites longos, tantas vezes longe de casa, muitas vezes longe da família. Coisas da vida. Que o diga Manuel Perestrelo, chefe de cozinha, protagonista de uma carreira nacional e internacional que o manteve, tantas vezes, longe.
Curso de gestão de empresas a meio, partiu a Barcelona, onde se formou em cozinha (e pastelaria). Ingressou na roda viva das cozinhas da capital catalã, e partiu de novo. Londres, Heston Blumenthal e The Fat Duck: foi responsável pela pesquisa e desenvolvimento de uma cozinha que, galardão maior do que as três estrelas Michelin que conquistou e reteve, ocupa um lugar mítico no panteão gastronómico do mundo anglo-saxónico. Mas, fora dos livros de nicho e dos reality-shows culinários de projeção global, muitas das inventivas que saíam da célebre cozinha-laboratório de Heston foram desenvolvidas por Manuel.
Seguiu-se o regresso a Portugal, a passagem pelo grupo Avillez e o primeiro projeto: o Salmora abriu portas em 2015, em Vilamoura, local privilegiado de onde Manuel Perestrelo explorou o Mar, sob os auspícios da cozinha portuguesa, sul-americana e asiática — uma cartografia de sabores que é roteiro de viagens pessoais.
Abriu mais sete restaurantes, experimentou a liberdade (e os constrangimentos) de ser chef-owner, e não parou de experimentar. E de crescer: o Moço dos Croissants, em 2017, e os restaurantes Qura, de autor, e Boato, em 2019 e 2020, todos em Lisboa.
O novo projeto, o Mom, é um serviço de take away de comida pronta e congelada — mas com um pequeno restaurante, na Rua João de Freitas Branco n.º 16G, no Alto dos Moinhos. Promete ser uma extensão da nossa cozinha. Melhor ainda, uma extensão da cozinha das nossas mães, diretamente até à casa do cliente. O mote é "comida caseira como só a mãe faz".
Caseira mas não tradicional. A Mom não pretende reproduzir um qualquer receituário tradicional — português ou outro. Os pratos são, antes, desenvolvidos como quem cozinha em casa, naturalmente. À influência cultural dominante, por herança familiar ou lugar(es) de infância, somam-se as memórias gustativas construídas pelas viagens, pelos encontros, pelos "truques" que se inventam ou descobrem no quotidiano. Exatamente como cozinhamos em casa, para família e amigos, qualquer um de nós. Comida do dia a dia.
Arroz de pato, com a inclusão de couve portuguesa, para que não fique seco, e uma redução de soja para aguçar o contraste dos sabores (12 euros/2 pessoas); bochechas de porco, com redução de cebola caramelizada (12 euros/2 pessoas); ou ainda o quase típico bacalhau espiritual, aqui com o twist de uma crosta de crumble de parmesão (12 euros/2 pessoas).
Pratos pensados para duas a seis pessoas, de entradas como pastéis de bacalhau e croquetes (7,5 e 7 euros, respetivamente), a sobremesas para oito a dez pessoas, como tarte de maçã americana ou o extravagante cremoso de chocolate (29 e 25 euros), passando por sopas, pratos vegetarianos, de peixe ou de carne, e sem descurar numa oferta completa de acompanhamentos (como couve salteada com bacon e farofa, arroz de coco e limão ou esparregado).
Cada prato feito pela Mom chega a casa, por estafeta e já congelado, num recipiente ideal para descongelar e levar ao forno — ou para guardar no congelador, para mais tarde.
Algumas preparações pedem apenas que se aqueça na panela ou frigideira. Para encomendar, há que ligar para o telefone 969 770 060 ou escrever para encomendas@mom.com.pt.Pode também visitar a loja, no Alto dos Moinhos.
A cozinha onde Manuel Perestrelo prepara os seus pratos é também um simpático restaurante que serve pratos do dia, num menu com sopa, prato principal, bebida e café. Uma oferta vegetariana, de peixe, carne ou de salada, por 9 euros, mais um se se quiser sobremesa. Todos os almoços, de segunda a sexta.
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