Quando pensamos em visitar um restaurante, a maior parte das vezes é pelo tipo de cozinha, pela localização ou pelo Chef/serviço. O Cícero Bistrot destaca-se não só por estas características, mas também por ser um restaurante que é também uma galeria de arte.
A história deste espaço, inaugurado em julho de 2022, situado num dos bairros mais conhecidos de Lisboa, Campo de Ourique, está ligada a um dos sócios, Paulo Dalla Nora Macedo, cujo passado sempre esteve ligado à arte. A mãe tinha uma galeria e não é por isso de estranhar que neste bistrot encontremos uma série de obras em exposição, tudo da sua coleção pessoal, que demorou 25 anos a ser feita. A inspiração veio de um espaço de um dos seus sócios, também em Campo de Ourique, mas com uma coleção de vinis.
A personagem principal e que dá nome ao restaurante é Cícero Dias (1907 – 2003), pintor pernambucano e um dos ícones do modernismo brasileiro, que acaba por ser o elo de ligação entre três países – Brasil, Portugal e França – uma vez que o pintor viveu em Paris, sendo amigo de Pablo Picasso, e em Lisboa, na década de 1940. O regresso de Cícero a Lisboa faz-se assim através da sua arte, mas tem companhia: Marianne Peretti, João Câmara, Lula Cardoso Ayres e KIlian Glasner, num total de quase 30 obras, divididas em três salas - Modernista, Contemporânea e Origem, esta última para um jantar mais privado.
A ligação entre os países continua na ementa da responsabilidade do Chef Hugo Cortez – que passou por locais como o Eleven ou a Tasca da Memória – com a criação de um menu com “pratos de base francesa, ingredientes portugueses e um twist brasileiro”, como nos explica Paulo Macedo.
No conjunto, este restaurante-galeria é uma forma de “mostrar um Brasil diferente. Sempre foi um país de muita criatividade e alegria, ao contrário do que tem sido mostrado. Queremos mostrar algo mais para além da picanha”, frisa ainda Paulo Macedo para quem Lisboa é um hub na Europa para os brasileiros, assim como foi Nova Iorque nos anos 1990.
Para começar pode optar, por exemplo, por pão de queijo, pão de moagem artesanal e grissini, manteiga de ervas, azeite com alecrim e salmão fumado au crème fraiche (8€) ou cupita de bolota de porco preto (22€) e seguir para um creme de peixe da nossa costa com telha trufada de moagem artesanal (12€) ou bacalhau seleção fumado em cesto de brick, mescla de alfaces e rúcula, pesto de manjericão e aneto, areia de azeitona preta (22€).
Da terra chegam-nos propostas como lombo de novilho maturado por 12 dias, brunoise de batata com poejo, espargos verdes grelhados, molho de palmito (35€) ou perna de pato francês cozinhada a baixa temperatura, arroz de caju e uva passa, salada de funcho com laranja (25€) e do mar lombo de atum com alcaparras, em flambé de Porto branco, cremoso de batata-doce laranja e folhas de espinafres baby (29€) ou o carabineiro e robalo do mar, pescado no anzol, em molho de coco e azeite de dendê, arroz basmati, salpicado com salsa (39€), para já o best-seller.
Nas sobremesas há banana levemente panada em farinha de rosca, molho de chocolate negro da Amazónia e gelado de açaí (11€) ou pudim conventual do abade com sorbet artisanal de lima (13€).
Há ainda uma opção vegetariana, moqueca de palmito com cogumelos frescos e crocante de papadams (22€) e menu executivo à hora de almoço por 22€ com entrada, prato sobremesa e café.
A carta de vinhos tem 47 referências, todas portuguesas, e pretende ser menos comercial, apesar de na lista constarem rótulos como o Pêra Manca ou o Mouchão, numa consultoria de Rodolfo Tristão.
“Há a crença que a arte agrega”, explica-nos Paulo Macedo, e à mesa é onde muitas vezes se constroem memórias, dizemos nós.
Além das salas e do interior, destaque para a esplanada. Quem por ali passar vai viajar diretamente para “les caffés” parisienses, sem sair de Lisboa, num restaurante que teve a visita do atual Presidente da República do Brasil, Lula da Silva.
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