Houve um tempo em que o mundo se transportava nos porões de caravelas. Durou séculos esta viagem que miscigenou continentes e alterou profundamente as mesas globais. Hoje, vivemos um tempo em que o mundo também se transporta, continua a fazê-lo por mar, mas permuta à boleia de contentores. Tornaram-se estes as bagagens do comércio global. Não vem a despropósito que um espaço lisboeta, a dois passos do Porto marítimo da capital, fim de caminhos e início de outros tantos para uma multidão de contentores, nestes se inspire para criar uma das mais singulares casas de comeres e beberes.
Em boa verdade são dois os conceitos gastronómicos que aqui nos detêm. Chamam pelos nomes de ZAZAH GOOD VIEW Bar & Lounge e Restaurante ŌKAH. Uma dupla que, não obstante as caraterísticas distintivas entre si, se completa e que coabita as alturas, no topo de um edifício histórico situado em Santos, onde antes funcionavam as cantinas e os balneários do Porto de Lisboa. Um espaço atualmente tornado o LACS Rooftop - Conde D´Óbidos - Communitivity of creators.
Pois, saiba o leitor, que a mais de 15 metros de altura, onde a vista nos devolve 360 º de lonjura sobre a capital, o Tejo e tudo aquilo que combina e recombina esta paisagem urbana e natural, se instalou uma mão cheia de contentores. Esses mesmos, que vemos empilhados nos portos de mar mundo fora. Mas, aqui, com um objetivo distinto. O ZAZAH GOOD VIEW Bar & Lounge, de tapas, petiscos e cocktails; e o Restaurante ŌKAH, mesa de sabor internacional, acomodam-se confortavelmente no âmago dos contentores. Um espaço criado pelo Atelier Jorge Mendonça Carrão e onde o comensal vai encontrar uma arquitetura contemporânea e industrial. Confortável quando o tempo é de humores atmosféricos mais ríspidos; aberto à envolvente nos meses de verão.
Se no ZAZAH GOOD VIEW vamos encontrar alguns dos clássicos que o chefe de cozinha Moisés Franco já nos habituou na casa mãe, no Príncipe Real; já no Restaurante ŌKAH o convite é para uma viagem por comeres de permuta internacional, mas especificamente pela grande Ásia. Faz sentido sentarmo-nos à mesa, aconchegados no ambiente inusitado das grandes caixas férreas. Dá-nos noção de dimensão e mote para cogitarmos na ligação óbvia entre almoçarmos e jantarmos, literalmente dentro de contentores, promotores das permutas internacionais e do objetivo da carta deste ŌKAH.
Estará o leitor a perguntar-se neste momento “porquê ŌKAH?”. A origem para a resposta está a mais de seis mil quilómetros, do lado de lá do Atlântico, na terra mãe de Moisés. Oca são habitações indígenas brasileiras. O que se nos afigura uma ligação natural a estas 15 grandes “cabanas” lisboetas. Falta o H, aqui como peça decorativa da marca criada.
A comandar a mesa deste ŌKAH lisboeta o chefe de cozinha Bruno Rodrigues. Mentor, a par de Moisés Franco e da equipa da cozinha, de uma carta que apresentando o compromisso com os comeres asiáticos não se funda numa cartilha espartilhada. Ou seja, mesa do oriente, mas sem um compromisso com uma cozinha específica, antes troca e partilha entre várias.
Na carta, vamos encontrar, por exemplo, a Gamba em fio de batata, acompanhadas de molho agridoce (6,50 euros), o Camarão Sriracha com gambas brancas confecionadas com molho sriracha, levemente picante (10,50 euros), o borrego com hortelã, composto por lombinhos da dita carne de proveniência neozelandesa com puré de batata e molho de hortelã (18,50 euros) ou um peito de galinha Adobo (15,50 euros).
Pratos de substancia que nos chegam à mesa acompanhados por várias guarnições como os arrozes basmati simples ou com coco e sementes de sésamo (3,5 e 4,5 euros, respetivamente), o caril de legumes e cogumelos (9,50 euros) ou a salada cambojana, tépida fornecida de pimentos vermelhos, gambas brancas, cebola roxa, pak-choi e tomate cereja (12,50 euros).
Como remate à refeição, no item sobremesas, um Ananás yuzu, grelhado com canela e gelado de Yuzu (7,5 euros), Banana flambada com sakê, salteada sobre tapioca de hibisco (6,50 euros), ou um Pudim de leite cambojano (6,50 euros).
A seleção de vinhos foi desenvolvida pela sommelier do Zazah, Stephanie Dejongh.
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