Na noite de 10 de outubro Nuno Baltazar encerrou a ModaLisboa com o último desfile da 57.ª edição, onde o Capitólio encheu para ver uma coleção muito pessoal, onde se cruzam os diferentes processos, projetos e clientes que são parte integrante do atelier onde trabalha com a sua equipa. O branco foi a cor dominante, numa paleta diferentes tonalidades, do ótico ao marfim, em diferentes estruturas, técnicas e texturas. Neste desfile o designer contou com a presença de Catarina Furtado, a sua musa, a encerrar a coleção num pedestal com o seu nome.
A coleção é um diário visual que projeta o futuro, incerto e ainda sem cor, que é também reflexão sobre o tempo presente, sobre a identidade da marca e os seus códigos. Uma página em branco onde ganham protagonismo o processo, a desconstrução e a experimentação conceptual. "DIARY" é também uma proposta seasonless com assumida intenção de desacelerar o ritmo de consumo da moda, de forma sustentável e que abra espaço para um outro tempo, mais delicado e autoral. Detalhes tridimensionais em draping, plissados e em construção sobre bustos de atelier coexistem com peças de caráter masculino e oversized.
Este dia foi também marcado pela apresentação de Gonçalo Peixoto, que já tinha sido mostrada pela primeira vez na Semana de Moda de Milão e que contou com várias figuras públicas na plateia. Numa viagem pelo baú de lembranças da sua avó Alice, a coleção para a próxima primavera/verão 2022 de Gonçalo Peixoto, traduz a esperança de um reencontro com a pessoa que marcou a sua infância de forma impactante, e recria o lugar imaginário e utópico onde as suas almas se vão encontrar novamente. Esta coleção, de seu nome "Alice we will meet in wonderland", traz de volta silhuetas e tecidos que lembram o designer da imagem que tem da avó, explorando intensamente a beleza dos padrões florais, do crochê feito à mão e dos brocados, que o transportam de imediato para o jardim de Alice e lhe devolvem todas as lembranças felizes daquela casa.
Ainda a destacar o desfile de Nuno Gama, que de regresso às origens, encontrou inspiração na paz de espírito da imensidão da planície Alentejana e na transposição de alguns detalhes que nos remontam, à autenticidade da sua essência.. O formalismo mantém-se impecavelmente intocável, mas opcional, contra novas influências mais descontraídas, que inspiram liberdade de movimento. Matérias certificadas desde a origem/processos, até ao consumidor final, através de reciclagens, reaproveitamentos ou na promoção do produto nacional. Entrada em força do tencel em contraposição com fibras naturais, sustentáveis e a excelência do Merino nacional. Destaque para uma nova linha de calçado, quase 100% sustentável.
O dia de desfiles começou com Valentim Quaresma, um designer que expressa a criatividade através da moda e da arte. Nesta coleção mostrou como é estar "Perdido no tempo", através das suas criações arrojadas e artísticas.
Seguiu-se a marca Buzina, que fez a sua apresentação na plataforma LAB. "WHIM" é o nome da nova coleção da Buzina e é sobre caprichos, é sobre vontades súbitas e fundamentadas, é sobre extravagâncias urgentes, e é sobre ser-se inteiro, sem receio de espantar. Com peças que partem de um lugar de celebração do belo, do único e do particular, esta coleção veste as divas que se recusam a deixar de agir como tal, veste a tradição dos rituais de preparação e as últimas inseguranças dos momentos a sós, veste a perseverança, a tenacidade, as vozes que se elevam além das outras e veste as mulheres que a partir de um camarim que só existe na ficção se preparam para entrar no palco da realidade. Porque a divindade não se resume a um rosto só, a um devaneio só, a um talento só, a uma caixa só, 4 mulheres dão corpo, nome e som às camadas infinitas que compõem o imaginário coletivo de diva. Com realização de Gustavo Imigrante, Inês Herédia, Gisela João, Sónia Balacó e Vera Deus falam de impulsos, sonhos e Moda e de como o poder pode ser vestível mas no final do dia parte sempre de nós.
Este último dia foi também marcado pela nova coleção de Aleksandar Protic, apresentada de forma digital, e que foi construída sobre pinturas do deserto de Georgia O´Keeffe. Desejo, pele, corpo e calor foram as palavras de inspiração do designer, que usou materiais como linho, sedas e misturas com seda, seda estampada e algodão, em tons de salmão, champagne, rosa, bronze, castanhos, cinza.
Para a próxima estação, João Magalhães renova algumas das formas mais importantes das suas últimas coleções. E fê-lo num desfile em forma de concerto musical. Kimonos, tweed bouclé, xadrez geométrico e streetwear, os códigos da marca, são revistos e desconstruídos em formas novas e acabamentos inovadores. Os pontos de partida para esta história são a década de 70 e a cultura psicadélica, que poderá ser um comentário aos passados dois anos, onde o conceito de festa tem sido marginalizado e empurrado para o underground, em circuitos e experiências cada vez mais pessoais e privadas. "Crying rainbows in the sky" foi o nome escolhido para ilustrar esta coleção.
Veja ou reveja todos os momentos desta 57ª edição da ModaLisboa aqui.
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