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A alta-costura, que até agora era um terreno quase exclusivo das mulheres, abriu espaço para os homens que ousam trocar o smoking preto por plumas, lantejoulas e bordados.
"Os casacos não foram feitos com essa intenção, mas quando chegamos aqui ajustamos para os tamanhos masculinos e ficaram incríveis", explicou o estilista à AFP.
Os travestis vestem-se como mulheres há décadas, mas nesta Semana da Moda houve um esforço para incorporar detalhes no vestuário de um homem cada vez mais metrossexual.
"Há cada vez mais homens que se permitem mais fantasia e sedução. É um regresso à cultura do século XVIII, quando os homens, os reis e os aristocratas não tinham medo de se exibir", declarou Pierre Alexandre M’Pelé, diretor editorial da revista GQ France.
Entre as celebridades, atores como Jared Leto, Billy Porter e Timothée Chalamet são símbolos desta tendência.
O americano Thom Browne e o francês Charles de Vilmorin, que se estrearam neste certame, misturaram os géneros da forma mais natural possível.
"Se outros não o fazem, eu não o farei. Na vida real, há muitos homens que se vestem de alta-costura" declarou Charles de Vilmorin, de 26 anos.
"Amo as pessoas que têm personalidades verdadeiras, que são autênticas", afirma o holandês Ronald van der Kemp, que trabalha com homens nos seus desfiles desde que fundou a sua maison em 2014.
A sua proposta é uma alta-costura reciclável, com roupas usadas. O seu estilo é exuberante, com looks que invocam a transexualidade.
"A fluidez de género tem o seu espaço na alta-costura. Chegou o momento", declara o estilista francês Julien Fournié.
A sua contribuição foi colocar na passerelle Romain Brau, ator e figura LGBT em França, com uma tiara na cabeça e uma crinolina (estrutura rígida para dar volume às saias) na cintura. Já as mulheres tinham uma aparência militar.
"Na próxima temporada, talvez coloque mais rapazes heterossexuais", explicou. "Os homens heterossexuais querem vestir alta-costura", garante o estilista.
"Os que têm poder aquisitivo vão a Londres para fazer um smoking. Querem sofisticação, bordados, detalhes em couro gravado", explica Julien Fournié.
É possível pensar numa Semana de Alta-Costura masculina um dia? "Eu não iria tão longe", pondera Serge Carreira, professor da faculdade de Ciências Políticas e especialista em mercado de luxo.
"Ainda não chegamos a isto, mas dentro de alguns anos, por que não?", estima Pierre Alexandre M’Pelé.
A casa italiana Dolce & Gabanna já realiza desfiles de "alta-moda" e "alta-alfaiataria" (trajes feitos sob medida) para "os que desejam destacar-se e têm meios para isso", explica.
Se não vemos homens vestidos com alta-costura nas ruas "é porque vivem vidas muito mais extravagantes que as nossas", assegura M'Pelé.
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