Mais de quarenta anos se passaram desde a estética confusa e maravilhosa dos seventies, onde a música, o sexo, o amor, a paz e a criatividade sem limites ganharam tal expressão, que nunca mais se voltou a fazer nada semelhante. Até agora! Jane Birkin, Serge Gainsbourg e Juliette Greco, três ícones franceses idolatrados no mundo inteiro, serviram de fio condutor a Laura Lusuardi, coordenadora de moda da Max Mara para desenhar a sua coleção deste verão. Casacos perfeitamente cortados, padrões florais dos pés à cabeça, chapéus e cores suaves, desfilaram numa versão aburguesada da época.
Ao mesmo tempo, Frida Giannini, naquela que foi a sua penúltima coleção para a casa Gucci, invocou Ali MacGraw em «Love Story». «A minha inspiração veio da cena musical dos anos 70 de Janis Joplin, Jimi Hendrix e de todos os bons grupos e concertos da época. Também me inspirei em Lauren Hutton e no jet-set de então e na maneira como misturavam as tendências populares com o luxo», explicou Peter Dundas diretor criativo demissionário da Emilio Pucci, que criou o desfile mais seventies da estação, com coletes cor de mostarda, vestidos de inspiração Woodstock, calças flare , camisas de seda e botas de camurça.
Espírito livre
Mas porquê este fascínio todo? O espírito livre foi o veículo para os códigos de vestuário mudarem. Tudo passou a ser menos rígido e há uma menor preocupação com a roupa. Desse caos aparente nasce uma nova estética. Mais do que o estilo hippie boémio, largamente visto e reutilizado, nos anos da década de 1970 impera o glamour e a sofisticação, impregnados do espírito Rive Gauche de Paris e da aristocracia boémia. A inspiração também advém das noites loucas da discoteca mais mítica de sempre, o Studio 54, em Nova Iorque, bem como na elegância e atitude das mulheres famosas que o frequentavam, como Bianca Jeagger ou Lisa Minelli. Sem esquecer os costureiros de referência da época, que mais enriqueceram a moda dos anos de 1970.
Foi Yves Saint Laurent quem criou a saharienne (casaco em tecido fino) e o smoking para senhora, entre muitas outras peças. O criador americano com maior prestígio, Halston, que tornou a moda americana num sinónimo de elegância, tinha como clientes mulheres famosas e aristocratas. Já a francesa Sonia Rykiel era a rainha das malhas. Este trio de costureiros tinha como musas as atrizes Farrah Fawcet, Jacqueline Bisset e Romy Schneider, o ideal da maioria das mulheres da época. A atitude seventies é o espírito desta primavera. Um género de mulher que todas queremos ser, confiante e sublime!
O que tem mudado na moda
Londres acolheu, até ao dia 5 de maio de 2015, uma exposição, no Museu da Moda e Têxtil, que celebrava, justamente, a moda boémia desta década e a obra da estilista Thea Porter. Falecida em 2000, as suas roupas só podem ser hoje usadas por um grupo restrito de colecionadoras, entre elas, a atriz Julia Roberts e a top model Kate Moss, que usou um vestido gipsy numa festa de despedida de solteira. Mas o que torna esta década tão influente na moda? «No final dos anos 60, as pessoas queriam uma mudança», explicou Dennis Nothdruft, curador-chefe do museu londrino ao site da BBC Culture. «A moda tornou-se mais leve, mais romântica, menos agressiva e mais fluída», refere.
«O movimento absorveu influências de outras culturas, principalmente as do Médio Oriente e do Norte de África, bem como de uma certa nostalgia pelos anos da década de 1930 e a era vitoriana. E a moda também se passou a sintonizar com o que ocorria no mundo da música», continua. Thea Porter, que o curador afirma ser da vanguarda do momento, passou a sua infância entre Jerusalém e Damasco e foi muito influenciada pela estética do Médio Oriente. Ao mudar-se para Londres para ser pintora, começou por se tornar designer de interiores e, depois, de moda.
Os Beatles e Jimmy Hendrix eram seus clientes e Elizabeth Taylor era fã dos seus caftans. Pouco depois, a designer expandiu os negócios para Paris e Los Angeles, cidades onde conquistou a sua clientela que vivia esta onda de contracultura. Outra das curadoras da exposição, Laura McLaws Helms, vai mais longe. «O look hippie começou como um modelo de afirmação política, uma espécie de antimoda, mas logo se tornou na própria moda», explica ainda.
Veja na página seguinte: As cinco peças-chave a usar este verão
1. Saharienne safari
Depois da roupa de trabalho, outra forma incontornável de reciclar a moda era o vestuário militar. Estas peças eram concebidas para serem discretas e fáceis de usar e, acima de tudo, existiam numa gama de cores sóbrias que se fundiam com qualquer estilo. Esta peça criada numa gama de cores neutras combina na perfeição com a tendência de mistura de cores vinculadas pelos movimentos flower power e psicadélicos. Hoje, o caqui tornou-se tão indispensável quanto os jeans e entrou de tal forma na moda que não se hesita em usá-lo num look total. Agora é reintrepertado com um tipo de acessórios mais urbanos: um cinto castanho, um par de derbys e uma carteira de mão, mais clássica.
2. Blazer glam
Esta é uma peça desviada do guarda-roupa masculino e adaptada por Pierre Cardin, que se inspirou nos casacos dos donos de iates. O nome é uma homenagem a H.M.S. Blaser, que obrigava os seus marinheiros a usar blazers assertoados com botões dourados. Na década de 1970, o blazer estava intimamente ligado ao universo do trabalho e das convenções sociais. Inspiradas por Annie Hall, a heroína de Woody Allen, as mulheres apaixonaram-se por esta peça e tornaram-na fundamental do seu guarda-roupa, combinado-a com umas calças largas e uma camisa branca. Hoje, em vez de o vestirmos sem nada por baixo, como nessa altura, pode ser usado com um top tipo lingerie.
3. Fato de macaco
É uma peça incontornável que, na sua origem, era uma vestimenta de trabalho, com ou sem corte, prática e simples, e que foi recuperada pela moda como todo o universo da roupa de trabalho. Na época, o objetivo era constituir um guarda-roupa para marcar a individualidade, pois não havia receio de sair à rua com um macacão. Bastava torná-lo mais feminino com um grande decote e uma silhueta ajustada, saltos altos e bijutaria. Hoje, pode modernizar o seu visual com esta peça. Com um relógio masculino, o macaco (agora usa-se mais o termo jumpsuit) é usado num estilo tomboy (maria rapaz) mais largo e de cintura descaída. Valorize-o com saltos altos e, para afirmar a feminilidade, combine-o com acessórios em encarnado vivo.
4. Calças flare
São umas calças justas de cintura subida, que se tornam mais largas a partir do joelho. Esta que foi a peça mais icónica dos anos da década de 1970, na altura dava-se-lhe o nome de calças à boca de sino, pois eram ainda mais largas em baixo do que o modelo flare. Claramente inspiradas nas calças dos cowboys, eram usadas com blazer cintado branco, uma camisa branca ou blusa dourada. Acessorizava-se o look com sandálias abertas ou sandálias de plataforma, sem esquecer a mítica écharpe comprida.
Com a simplicidade de uma camisa branca, um relógio masculino e umas botas de camurça é possível modernizar, hoje, este visual. Para um look mais boho, pode complementá-lo com um casaco de camurça ajustado à silhueta e sandálias de plataforma. Menos é sempre mais e ganha em estilo.
5. Vestido voile
É um vestido ligeiro de voile de algodão solto, que liberta os movimentos e o corpo. Uma reivindicação que passa suavemente para o espirito boémio, mas, agora, com uma dose de graça e erotismo. Quer estejamos a usar uma túnica marroquina ou um grande vestido fluído e flutuante, como os das heroínas do cinema, esta peça destina-se aos verões quentes de Ibiza, com sandálias em couro nos pés e um espírito cool. O charme de quem sabe utilizar o seu carisma.
Hoje, para um look moderno de inspiração seventies, sofistique o vestido com sandálias e bijutaria prateadas ou douradas. Não pode, todavia, esquecer o cinto para ajustar a silhueta. Tanto o pode levar para a praia, sem acessórios, como para uma festa ao final do dia, com todos os acessórios a que tem direito, para brilhar em todo o esplendor.
Texto: Margarida Figueiredo
Comentários