Samantha Yammine, que fala sobre temas relacionados com saúde no Twitter, diz que viu várias mensagens de homens vacinados que afirmam ser "totalmente seguros para um contacto íntimo".
Com esta afirmação esperam aproveitar ao máximo uma vantagem ainda inacessível para a grande maioria da população, especialmente para os jovens.
“O mais desejável num site de namoro no momento é estar vacinado”, explica Michael Kaye, gerente de comunicação da plataforma OkCupid.
Assim, 43% dos quase 1.500 utilizadores consultados na plataforma de namoro "Coffee Meets Bagel" disseram que se sentiam mais atraídos por alguém que se declarou vacinado.
A jornalista Sarah Kelly, que ainda não recebeu a tão procurada injeção, contou no Twitter que sofreu recentemente a "maior rejeição do mundo em 2021", quando um homem vacinado lhe respondeu num site de namoro: "és muito simpática, mas encontrei alguém que já se vacinou”.
Dezenas de utilizadores especulam nas redes sociais, de forma bem humorada ou com intenções empresariais, como seria uma app de namoro reservada exclusivamente para os felizes destinatários das doses da Pfizer-BioNTech ou Moderna.
Procurada por alguém que afirmou estar imunizado, Kimberly Te, que ainda não recebeu a vacina, não considerou a informação decisiva. “Só tinha recebido apenas uma dose, então, para mim, não estava protegido da covid”, afirmou.
Em geral, não dá credibilidade a um estranho que afirma ter sido vacinado. "Eu não conheço essas pessoas, então não tenho razão para acreditar nelas no meio de uma pandemia."
Além disso, como destaca Cristina Vanko, que viu a palavra “vacinado” multiplicar-se nos sites de namoro, “ainda existem poucos estudos sobre a transmissão [do vírus] por parte dos vacinados”.
“A vacina ajuda principalmente quem é vacinado”, sem proteger automaticamente as pessoas com quem estaria em contacto, diz.
Mais 'likes' na pandemia
Para Brittany Biggerstaff, também utilizadora do Twitter, as pessoas que dizem que foram vacinadas não são mais atrativas pela sua imunidade ao vírus, mas pela confiança na ciência.
“Isso dá uma ideia das opiniões políticas e do conhecimento científico de um potencial parceiro”, afirmou. “Isso aponta para alguém que se preocupa com a covid-19, o que provavelmente é algo que dá um pouco de segurança ao outro”, diz Dawoon Kang, cofundadora da plataforma Coffee Meets Bagel.
Com a polarização atual, até o namoro pode tornar-se político. Na página do fórum de discussão do Reddit, alguns utilizadores gozam de "todas aquelas mulheres" que encontraram em aplicações de namoro, "que são cobaias dos gigantes farmacêuticos", nas palavras de um internauta.
“Uso as opiniões sobre as vacinas e máscaras para evitar aqueles idiotas que fazem tudo o que lhes mandam”, acrescenta outro, representante dos céticos da vacina.
Da mesma forma que atrai uns, a vacina afasta outros.
Imunizados ou não, depois de quase um ano de pouca ou nenhuma convivência social a vontade de se relacionar continua, nas vésperas do Dia dos Namorados, no domingo.
“As pessoas querem alguém ao seu lado, mesmo que seja virtualmente”, explica Michael Kaye do OkCupid.
No caso das mulheres, os "likes" aumentaram quase 10% (8,8%), em relação ao mesmo período do ano passado, apontou.
Desde o início da pandemia, os sites de namoro ampliaram as suas ofertas, com uma expansão das videoconferências, pouco utilizadas até então, e um aumento dos cafés virtuais e outros encontros.
A pandemia colocou as conversas e afinidades à frente do contacto físico, fortalecendo as relações com o tempo, substituindo as saídas imediatas que muitas vezes não evoluíam para um segundo encontro.
“Muitas pessoas dizem-nos: eu analiso mais (...) sou mais honesto com os meus 'matches' [os contactos pelo site], sobre o que eu quero”, explica Dawoon Kang.
Para a dirigente do Coffee Meets Bagel, site que defende encontros que façam "sentido", a pandemia terá sido, desse ponto de vista, como "uma descarga elétrica".
Entre os internautas que se registam na plataforma, mais de 90% afirmam que buscam um relacionamento de longo prazo. "É o nível mais alto que já vimos."
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