Os motivos mais frequentes que levam os casais a discutir costumam estar relacionados, muitas das vezes, com o dinheiro, com os filhos, com o sexo e/ou com a dependência emocional. Existem, no entanto, comportamentos que podem facilitar a convivência quotidiana. Analise o problema que vos está a afastar e adote a solução que poderá agilizar o diálogo e reavivar a sintonia entre o casal e acabar com as armadilhas que tendem a sabotar as relações e que, por norma, se agravam com o passar do tempo.
1. Dependência emocional
O maior erro é pedir ou esperar que o nosso companheiro gira a nossa felicidade. Depositarmos no outro a responsabilidade da nossa própria satisfação pessoal, o que pode acarretar outros conflitos, já que pode produzir uma profunda frustração. Com esta atitude potencia-se o aborrecimento no casal, a monotonia e o vazio interior, se a outra pessoa não agir de uma forma ou de outra, porque só vivemos a nossa vida através dela. Devemos observar-nos a nós próprios e descobrir até que ponto precisamos do outro.
"Não posso viver sem ele ou sem ela" é uma frase perigosa para a nossa individualidade e, portanto, torna-se lancinante para a saúde do casal, pelo que deve aboli-la. Às vezes, esta frase que se diz quase sem pensar esconde uma necessidade que, no fundo, cria ódio e contradição de sentimentos. Perante esta atitude, interiorize outro conceito. "Não preciso de ti para ser feliz, porque a felicidade é um assunto da minha responsabilidade. Em todo o caso, decidi escolher-te para a partilhares comigo". É assim que deve pensar.
2. Expetativas frustradas
Este problema costuma estar, na maioria das vezes, relacionado com o anterior e é muito mais comum do que aquilo que possa pensar. Manifesta-se, por norma, quando se criaram expetativas, habitualmente baseadas nos nossos próprios desejos, que, depois, o companheiro não consegue cumprir, porque, como são nossas, nunca fizeram, na realidade, parte da sua personalidade nem do seu projeto de vida. Nalguns casos, nem nunca sequer lhe foram comunicadas com clareza nem sequer abordadas pelo casal.
Muitas pessoas sonham em mudar os seus companheiros em seu próprio benefício ou esperam uma perfeição que não existe, o que acaba por criar as tais expetativas que depois não são cumpridas. Todos gostamos que gostem de nós, que nos mimem, entendam, esquecendo, às vezes, que o amor é recíproco e que o outro também precisa de nós. Quando o companheiro não responde como queremos, é possível começarem a existir conflitos, porque nos aborrecemos e frustramos injustamente. Existe, todavia, uma solução. O truque é aceitar a pessoa tal e qual como é.
Além da necessidade de trabalhar os aspetos mais fracos do casal, começando pelos próprios defeitos, é preciso ter em conta a maturidade emocional para distinguir o que é que está a afetar a relação e que aspetos do nosso companheiro não nos agradam. A ideia é chegarem a acordo de como se podem polir certas atitudes negativas para melhorar a convivência comum sem nenhum ter de renunciar à sua própria personalidade. No segundo caso, estamos perante um problema e é preciso aprender a tolerar mais o outro.
3. Falta de comunicação
É preciso fazer a distinção entre comunicação e informação. As contas, os filhos, o trabalho... São temas quotidianos, mas trata-se de informação prática. Comunicar aquilo que fez com que cada um crescesse durante o dia é, por isso, essencial. A comunicação é saber como o outro está e não apenas conhecer a sua agenda diária. Por outro lado, muitas vezes, nem nos damos conta de que, com o cansaço do dia, a falta de tempo e a televisão ligada, não prestamos atenção suficiente àquilo que o nosso companheiro diz.
Aumentar a intimidade emocional, fazendo perguntas como "Como é que te sentiste quando sucedeu isto ou aquilo?", é uma das soluções preconizadas pelos especialistas em terapia de casal. É essencial criar espaço para falar, sem interrupções, sem a agitação da vida quotidiana, sem as contas da luz e do gás e sem as distrações comuns. É essencial aprofundar a conversa, não limitar-se apenas a ouvir, para saber qual o estado emocional do outro é o mais importante para se estabelecerem vínculos comunicativos eficazes.
4. Apatia sexual
Apesar de os casais se manterem juntos graças a outros poderosos pilares como a comunicação, o afeto, a cumplicidade e a admiração, a componente sexual também faz parte da relação. O desinteresse pela sexualidade pode ter origem em muitas causas, como, por exemplo, o stresse, a rotina, o aborrecimento e/ou as diferentes fases hormonais da mulher. Quando também damos pela rotina na cama e conseguimos adivinhar tudo o que vem a seguir, é normal que o encontro deixe de ser apelativo.
O excitante é a novidade, a intriga, o imprevisível, a sedução, como certamente saberá. Não é, no entanto, preciso ficar obcecado em vestir-se desta ou daquela forma e/ou em mudar de estilo ou de penteado nem em pensar em mil estratégias ou novas posições, algumas delas desconfortáveis ou até mesmo impossíveis de alcançar, nem incorporar extravagâncias nos seus hábitos sexuais, como alertam inúmeros terapeutas de casal e sexólogos em todo o mundo. A mente, por si só, é muito erótica e, numa relação em que exista admiração, afeto, cumplicidade, sintonia e comunicação com o companheiro, a sexualidade também encontra o seu lugar.
Uma relação saudável, madura e cheia de vida, com aquela que seguramente ambiciona para si, tem todos os motivos para incluir uma sexualidade satisfatória para ambos. Existem pessoas que só procuram o romance e a paixão para preencher esse vazio, sem se aperceberem que este aspeto não basta para preencher a sua vida interior. Uma lacuna que acaba, com o passar do tempo, por minar a relação do casal, levando os seus elementos a procurar fora de casa o que não têm no dia a dia, afastando-se, assim, mais.
5. Ciúmes
São a primeira emoção a surgir quando estamos perante um problema de autoestima e, portanto, de desconfiança. Aparecem de mãos dadas com a insegurança em relação ao próprio poder de atração sexual e também minam significativamente as relações. Os elementos do casal nessa situação comparam-se constantemente com os seus concorrentes, sentem por vezes que não atraem o companheiro e que, por isso, podem perdê-lo, porque estão constantemente a identificar ameaças ao seu objeto amado.
Se virmos os ciúmes como o desejo de ter o outro só para nós, é quase impossível não sermos invadidos por sentimentos de possessão e medo. O mais importante é recuperar a sua independência e a sua autoestima, pelo que o principal exercício é identificar os motivos pelos quais sente ciúmes e ver até que ponto é que fazem sentido. Deve fomentar a segurança da pessoa ciumenta, muitas vezes movida por carências afetivas na infância ou por situações anteriores de infidelidade ou abandono. Traumas pendentes a tratar.
6. Aborrecimento
Costuma surgir porque o nosso modelo de sociedade é tão acelerado e frenético que nos falta vida interior. Os estímulos são repetidos porque não temos tempo nem espaço para crescer internamente como casal, não se cultiva a sensibilidade criativa nem se criam novos caminhos. Cair no aborrecimento, na monotonia e na rotina é o mais fácil num casal, sobretudo com o passar dos anos, como provavelmente já se terá apercebido. Não inovar é o que menos esforço requer, até um dos dois sentir que precisa de algo mais.
O primeiro passo a dar para combater o problema é pôr fim ao pensamento de que o outro é que tem de nos entreter. Não é verdade! A ideia positiva é ter uma vida interior e cultivar uma forma de entretenimento pessoal que depois possa partilhar com o outro. Por outras palavras, é ter um mundo próprio para poder transportá-lo ao outro e incorporar novos elementos na relação. Assim, surge a surpresa e a motivação de ambos. É preciso que cada um sugira coisas, como sair com os amigos ou dar um passeio juntos.
E que cada um tenha vontade de falar com o outro e de ser ouvido. Nos tempos que correm, com a distração das redes sociais e das plataformas de distribuição de conteúdos digitais que, tal como a televisão e a internet, vampirizam o nosso tempo, é preciso voltar a encontrar tempo e espaço para isso. O truque é ver parte da relação como uma amizade, uma vez que com um amigo se tenta sempre fazer coisas que agradem aos dois. Este é o conselho que muitos terapeutas sexuais dão, atualmente, aos seus pacientes.
Comentários