A minha primeira (e então única) filha tinha apenas seis meses. Eu andava totalmente assoberbada por aquele amor grandioso que apenas há meio ano tinha aparecido na minha vida e, qual ingenuidade, nem sequer estive atenta aos pequenos sinais. Foi num evento de trabalho que, estranhando o apetite voraz que me fez enfiar na cozinha a devorar todos os canapés que saíam do fogão, ouvi alguém perguntar-me:

- Ouve lá, não estarás grávida?

Respondi com uma gargalhada. Era impossível estar novamente grávida. Eu andava num pico louco de trabalho e, para além disso, ainda tinha uma bebé tão pequena que não me caberia outra no colo.

Peguei em mais um canapé e, depois de o engolir quase sem mastigar, agarrei logo noutro, e depois noutro, e depois noutro. Foi então que comecei a perceber que aquele apetite diabólico era tudo menos comum em mim. Agarrei na agenda onde sempre tomei nota de todas as ocorrências da minha vida – inclusivamente aquelas que aos ciclos menstruais dizem respeito.

“Ora deixa cá ver… estive recentemente com o período… bom, afinal não foi há duas semanas… nem há quatro… nem há sete?!”

O pânico instalou-se na minha mente e, naquele preciso momento, os canapés ganharam um interesse tão grande quanto aquele que os erros na colocação de professores parecem ter para os gigantes da educação nacional: nenhum. Assim, e antes de ir para casa, resolvi comprar um teste de gravidez – que rapidamente se revelou positivo. Aos 27 anos, e com uma bebé pequena no colo, eu estava em vias de ter outro filho.

Quem me conhece sabe que, nos momentos de maior tensão, eu sou daquelas pessoas que reage da forma mais estúpida e infantil: com gargalhadas nervosas. E foi precisamente assim que recebi a notícia da chegada de mais um bebé na minha vida.

Oito meses mais tarde, tinha nos braços um dos seres mais especiais que já alguma vez tive a oportunidade de conhecer. Uma criança que todos os dias me ensinou novas histórias, novas experiências, novas aprendizagens. Uma criança que faz do humor e do charme natural as suas maiores qualidades e que conquista tudo e todos com abraços e sorrisos.

E é minha. Tão minha que quase a sinto como uma extensão da minha pele, do meu coração, de toda a minha essência. É tão minha que lhe adivinho os segredos mais camuflados, as palavras hesitantes e as confissões que, sem pudores nem barreiras, ela me partilha no vão dos nossos encontros. Ela é tão minha e eu sou tão dela que os nossos corpos se confundem, e se fundem, na profundeza de cada abraço.

- Sabes, mãe, mesmo que te tenha visto há meia hora, tenho sempre saudades tuas.

Demos-lhe o nome de Matilde. Mas nenhum nome é suficiente para representar a grandeza desta menina-mulher que, do alto dos seus agora 12 anos, todos os dias me faz perceber o que é ser-se uma boa pessoa. Ou melhor, apenas um nome o representa: “filha”. Filha do mundo e filha da bondade, que eu tive a bênção de acolher na vida, no colo e no coração.

São apenas 12 anos, minha querida Matilde. Mas já são 12, dentro desta imensidão que é a minha paixão por ti.

Parabéns, meu amor.

Alda Benamor