A realização das tarefas domésticas deve ser distribuída pelos vários membros da família, independentemente o género, e variar apenas em função da capacidade (e disponibilidade) de cada membro.
Independentemente de existir alguém externo à família responsável pela realização diária da maioria das tarefas domésticas, sou defensora de que todos devem colaborar, diariamente, na manutenção da harmonia em casa.
Nesta fase de quarentena que vivenciamos – e em que muitas famílias estão privadas da ajuda externa para organizar a casa ou, simplesmente, porque todos os membros da família estão 24h/24h em casa – a distribuição de tarefas por todos, incluindo crianças, é fundamental para garantir a harmonia do lar e desenvolver o sentido de responsabilização e cooperação dos nossos filhos.
Os meus pais sempre distribuíram as tarefas domésticas entre si e entre mim e o meu irmão. Talvez por ter sido educada no seio de uma família em que as tarefas domésticas nunca foram sensíveis ao género mas, tão só, às capacidades/disponibilidade de cada membro da família, que transmito a mesma filosofia aos meus filhos.
Para mim e para o meu irmão, as tarefas domésticas nunca foram tidas como algo penoso ou da exclusiva responsabilidade dos nossos pais: sempre fizeram parte do nosso dia a dia e, independentemente da ajuda externa que existisse, sempre existiram tarefas da nossa exclusiva responsabilidade (fazer a cama diariamente; arrumar o nosso quarto; por e tirar a mesa etc.).
Como podemos exigir a alguém a realização de uma tarefa com sucesso se não lhe conseguirmos demonstrar como é que a mesma deve ser realizada
Como tal, é da máxima importância distribuir, gradualmente, as tarefas domésticas (cozinhar, organizar a casa, limpar, compras para o lar, planeamento do orçamento familiar) pelos vários membros da família para que cada criança se transforme num adulto responsável e com capacidade para organizar a sua própria casa. Não nos podemos esquecer que estão em causa competências adquiridas, maioritariamente, no seio da família – estando, como tal, excluídas do plano escolar.
Já reparam que as crianças adoram “imitar” os pais na realização das tarefas domésticas? “Mãe, também quero um pano para ajudar a limpar o pó; Pai, posso ajudar a aspirar? Mãe, posso arrumar a loiça da máquina?” São apenas algumas perguntas frequentes cá em casa fruto do exemplo que ambos pais transmitimos aos nossos filhos.
Através do exemplo de distribuição de tarefas e respetiva responsabilização, as crianças aprendem a trabalhar em equipa, a cooperar e a trabalhar para um objetivo comum: a organização da casa e manutenção da harmonia familiar. Por outro lado, desenvolvem, desde tenra idade, boas relações ajudando-as, um dia mais tarde, a ser bem-sucedidas pessoal e profissionalmente.
A criança é, também, confrontada com a necessidade de gerir a sua rotina diária de forma eficaz: quanto mais rápido executar as suas tarefas, mais rápido pode ir brincar. Por outro lado, a não realização/realização fora do tempo das tarefas que lhe estavam atribuídas vai determinar uma redução do tempo livre responsabilizando a criança pela não realização da tarefa. Assim que a criança for adquirindo novas competências e responsabilidades, o passo seguinte é permitir que a própria criança possa decidir quando e como irá realizar as suas tarefas.
Ao serem responsabilizadas por tarefas de acordo com as suas capacidades, as crianças desenvolvem a sua independência, autoestima e autoconfiança sentindo-se úteis e capazes de colaborar para a harmonia do seu lar vendo as suas atividades valorizadas pelo pais e irmãos, seus pares. Com a atribuição de tarefas, as crianças aprendem a ser autónomas, a resolver (eventuais) problemas sozinhas e, aquando da realização da tarefa, a descobrir o sentimento de felicidade fruto da realização de algo que lhe estava atribuído.
Por fim, não nos podemos esquecer que é da máxima importância acompanhar e supervisionar a realização de novas tarefas garantindo a segurança da criança e a realização correta da tarefa em questão. É, também, o momento adequado para alertar a criança para os vários perigos existentes em casa (toxicidade dos produtos de limpeza; que os vidros cortam; que os equipamentos elétricos podem dar choque etc) garantindo a sua segurança.
Neste momento, com 3 e 5 anos, os meus filhos participam, ativamente, em variadíssimas tarefas domésticas.
Com três anos, a minha filha ajuda em várias tarefas simples e tem a responsabilidade “exclusiva” de alimentar o nosso cão!
- Arruma, no local correto, os brinquedos, jogos, livros depois de cada utilização;
- Ajuda a limpar o pó dos móveis ao seu alcance;
- Ajuda a fazer a(s) cama(s);
- Ajuda a varrer a cozinha com uma vassoura pequena;
- Separa o lixo nos vários ecopontos domésticos;
- Guarda o calçado na sapateira assim que entra em casa;
- Coloca a roupa suja no cesto ou dentro da máquina de lavar a roupa, de acordo com a indicação do adulto;
- Ajuda a arrumar a louça;
- Ajuda a colocar a toalha na mesma e coloca os pratos, talheres e copos, de forma autónoma;
- Retira a mesa, no final da refeição, e coloca a louça suja na bancada ou na máquina de lavar, de acordo com a indicação do adulto;
- Coloca a pastilha (detergente) da louça no local correto antes da máquina lavar;
- Retira a roupa da máquina de lavar quando acaba o ciclo de lavagem;
- Estende, de forma autónoma, pequenas peças de roupa e ajuda a estender a restante roupa;
- Ajuda a apanhar roupa seca e a dobrar peças de roupa simples;
- Ajuda a aspirar a casa;
- Ajuda a guardar as compras do supermercado;
- Participa na preparação das refeições.
Com cinco anos, o meu filho tem uma autonomia diferenciada o que lhe permite realizar tarefas de maior responsabilidade (além da realização das tarefas que também incumbem à irmã e que são dividas por ambos):
- Elabora, de forma autónoma, os iogurtes naturais que consumimos e alerta o adulto quando o stock de iogurtes está a terminar para poder fazer mais (necessita apenas da ajuda do adulto para lhe facultar os ingredientes que não estão ao seu alcance);
- Liga a máquina de lavar loiça colocando-a a trabalhar no programa correto (de acordo com a indicação do adulto);
- Liga a máquina de lavar roupa colocando-a a trabalhar no programa correto (de acordo com a indicação do adulto);
- Ajuda a lavar o chão com uma esfregona;
- Arruma o quarto de forma autónoma;
- Aspira parcialmente a casa (atribuo-lhe uma zona para aspirar de forma autónoma) e ajuda a ligar/desligar a aspiração central deslocando o aspirador entre as diversas zonas da casa;
- Participa na preparação das refeições mais elaboradas com possibilidade de utilização de um leque maior de utensílios;
- Ajuda a dobrar e a guardar a roupa lavada;
- Lava peças de louça simples;
- Ajuda a aspirar e a lavar o carro;
- Ajuda a mudar os lençóis da cama.
A distribuição equitativa das tarefas domésticas tem sido, sem dúvida, um ponto chave para a manutenção da harmonia familiar nesta época de quarentena.
Acredito que o facto de, nesta fase, estarmos juntos em casa tem feito com que cada um de nós, facilmente, reconheça a importância do trabalho em equipa para que possamos manter a harmonia em casa.
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