Devem ou não os pais interferir nas escolhas das amizades dos filhos? Sim, mas respeitando as diferenças e agindo com sensatez! O seu filho chega a casa e apresenta-lhe um amigo com o qual sente uma aversão imediata. Mas não estará esta sob a influência dos julgamentos que, muitas vezes, fazemos precipitadamente, sobretudo sobre os amigos mais fora do nosso círculo? Em Portugal, como noutros países do sul da Europa, a nossa cultura rege-se muito pela regra de que os filhos são propriedade dos pais.
Sob esta premissa, estes acham-se no direito de pôr e dispor sobre os filhos. Se os pais já foram crianças, mas estas nunca foram adultas, há algo que devemos ter sempre em conta. "Se as questionar, as crianças também sabem o que é melhor para elas e têm capacidade para dar a sua própria opinião", explica Melanie Tavares, psicóloga clínica. Muitos pais criam na sua cabeça um modelo de filho, mas essa idealização nem sempre corresponde à realidade, o que se pode tornar num problema na relação pais/filhos.
Daí que, muitas vezes, recorram a razões externas, como julgar os amigos dos filhos, para tentar justificar determinadas atitudes dos próprios filhos. "Às vezes, avaliam-se muito os amigos dos filhos em função do estatuto social, do nível socio-económico, das famílias dos amigos e até do nível cultural", explica a psicóloga. Estes chegam mesmo a ser usados como motivos para os pais se convencerem de que os filhos são os melhores e que aquilo que fazem de errado é por influência dos outros, a que chamam más companhias.
Amigos versus pais
Quando se é criança, os amigos são os melhores do mundo e a opinião destes é sagrada. Mas, até uma determinada idade, os pais conseguem, de alguma forma, controlar este jogo de amizades. "Com 5, 6 anos, conseguimos monopolizar melhor as companhias e a criança nem se apercebe. Os pais é que fazem os convites para ir lá a casa, ajudam a selecionar os amigos para as festas de aniversário... Acabam por condicioná-los com os filhos dos amigos do casal e, portanto, à partida serão boas companhias", refere.
"Mas quando começam a fazer relações exteriores à família e aos amigos dos pais, aí é que surge o conflito, o que acontece, sobretudo, na adolescência", referiu Melanie Tavares à Saber Viver. Já na adolescência, os jovens tendem a dar mais importância à companhia dos amigos do que à opinião da família, o que não será propriamente uma novidade para si. A mudança de amigos e a pertença a grupos permite aos adolescentes encontrarem a sua própria identidade e diferenciarem-se da identidade familiar.
"É, por norma, um período de experimentação e os amigos assumem papéis de encorajamento e companhia em muitas ocasiões", explica a psicóloga. A partir da adolescência, os filhos passam a não aceitar que os pais decidam a sua vida, querendo criar a sua autonomia e maturidade. O papel dos pais, aqui, é o de impor regras e limites para que eles possam perceber até onde podem ir, porque os jovens vão querer copiar comportamentos, para se sentirem integrados e estes nem sempre são os melhores.
A questão que se impõe
Proibir é a solução? Quando os pais suspeitam que um determinado amigo do filho é uma má companhia, o primeiro instinto é, quase sempre, proibir essa amizade. "Este é o primeiro erro dos pais", afirma, no entanto, Melanie Tavares. "Os pais devem fazer ver ao filho que, desde que anda com uma determinada pessoa, as notas baixaram, que não devia ter chegado a casa às três da manhã quando o limite era até à meia-noite", sublinha a psicóloga, que deixa ainda um desafio aos progenitores e aos educadores nacionais.
Devem tentar perceber, de uma forma racional e ponderada, até que ponto isso é mesmo influência de outros ou se é o próprio filho a querer soltar-se da asa da mãe e do pai. A atitude a ter é um bom diálogo, que é a base de um crescimento saudável. Devem tentar que eles compreendam que certos comportamentos podem, eventualmente, vir de uma relação de amizade que, por vezes, é quase simbiótica e que eles não conseguem ter opiniões próprias só por si porque são demasiado influenciados pelos outros.
A principal arma a que os pais devem recorrer
A principal arma está na maneira como os pais falam com os filhos e na proximidade que estes conseguem criar com eles. Os pais devem estar sempre atentos às amizades dos filhos, conhecer os amigos e torná-los próximos da família. Tomando uma posição de educadores, guiadores da vida dos filhos e não manipuladores dos seus atos. Devendo interferir nas amizades escolhidas caso percebam que alguma ou algumas destas amizades são prejudiciais aos seus filhos através sempre do diálogo franco.
Nunca o devem fazer proibindo de imediato uma amizade do filho. Se os pais têm também uma boa relação com a escola e se existe um professor em quem confiem, podem pedir para ser um orientador nesta relação. É na escola que as crianças passam a maior parte do tempo, mais até do que com a própria família. Vão, por consequência, retirar de lá os exemplos de comportamentos. Na opinião de Melanie Tavares, "um bom professor pode ser sempre uma boa referência para a educação, ao nível da escola".
A noção da amizade em cada idade:
- Até aos 7 anos
É até esta idade que se começam a cimentar as primeiras amizades. Os pais devem estar presentes, acompanhando as relações dos filhos com os seus amigos e, no caso de haver conflito, devem intervir na resolução dos conflitos entre as crianças.
- Até aos 12 anos
Quando se começam a criar os maiores laços, seja com os primeiros amigos da escola ou com os amigos da sua rua. Já são os próprios que fazem amigos na rua onde brincam e escolhem os amigos para as festas de aniversário. Os pais devem assumir aqui um papel menos controlador e mais vigiador, assim que percebam que os filhos conseguem resolver sozinhos as suas desavenças com os amigos.
-A partir dos 13 anos
Na adolescência, a participação dos pais nos laços de amizade dos filhos fica bem mais limitada, não querendo dizer que os devem ignorar. Devem estar atentos e seguir o caminho do diálogo para lidarem com as escolhas das amizades dos filhos e os alertarem e aconselharem em situações de perigo.
Texto: Cláudia Cordeiro
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