Habitualmente acredita-se que, quando uma relação chega ao fim, quem mais sofre é aquele foi ou se sente rejeitado. Porém, esta crença raramente corresponde à verdade. Para muitas pessoas terminar um namoro pode ser tão ou mais angustiante do que estar no papel contrário. Incerteza, culpa, mal-estar, tristeza, medo, são apenas alguns sentimentos que podem carregar a mente e a consciência de quem quer terminar um namoro.
Todos ou quase todos já passámos por experiências como estas e sabemos o quão dolorosas podem ser. São memórias que não gostamos de ir buscar ao fundo do baú. No nosso interior, torcemos sempre para que não se repitam. Mas… E quando são os nossos filhos a enfrentar dificuldades no namoro? Como devem agir os pais?
Vamos por partes. Primeiro certifique-se que o seu filho precisa ou quer a sua ajuda. É importante que os nossos filhos aprendam a lidar com as suas dúvidas, incertezas e conflitos de forma autónoma e com liberdade para escolher como preferem enfrentar as suas dificuldades. Ainda assim, mostre-se disponível e empático. Poderá dizer algo como: “Imagino que não seja fácil tomar esta decisão. Compreendo que estas angustiado/a” ou “não sei se queres mas se precisares, estarei aqui para conversarmos. Quem sabe se desabafar e falar com outra pessoa não te ajuda a organizares melhor as tuas ideias?!”.
Se o seu filho desejar ou mesmo solicitar o seu apoio, não se apresse a dar respostas precipitadas ou a fazer juízos de valor tais como: “eu sempre achei que não era pessoa para ti” ou “hoje em dia vocês andam sempre a saltitar de namoro em namoro”. Mais do que a sua opinião e perspectiva sobre o namoro deles, momentos como estes carecem de compreensão e das perguntas certas. O seu filho decidirá depois como agir mas, com sorte, fá-lo-á de modo mais seguro e consciente.
Peça ao seu filho que clarifique os motivos quer para manter quer para terminar a relação. Em alguns casos, o jovem poderá estar a agir de forma impulsiva porque está zangado ou por não saber como ultrapassar eventuais dificuldades no namoro. Considere com ele, hipóteses de resolução do problema. Se, pelo contrário, ele estiver seguro e motivado para terminar a relação, incentive-o a ponderar a melhor forma possível de o fazer, respeitando a pessoa de quem já gostou (ou ainda gosta).
É importante ser sincero sem ser cruel. Ser empático sem dar falsas esperanças. As expectativas devem ser ajustadas, assim como as consequências negativas do término da relação. Por exemplo, explique-lhe que se outro ficar devastado/a ou não aceitar a decisão é importante manter uma atitude firme mas apoiante. Aconselhe o seu filho a ser consistente com a sua decisão, a não mudar de ideias por pena ou remorsos e a evitar atitudes como ameaçar terminar o namoro esperando que o outro mude ou para obter ganhos da relação.
Incentive-o também a esclarecer os motivos da sua decisão ao outro. Muitas pessoas silenciam as suas insatisfações até ao dia em que “despejam o saco”, deixando o outro sem reacção e sem oportunidade para corrigir comportamentos menos ajustados. Por essa razão, é importante fomentar uma boa comunicação durante a relação. Verbalizar o que está a gerar mal-estar e insatisfação à medida que os problemas surgem dará ao outro tempo para acomodar esta informação e se organizar.
Por sua vez, com a massificada utilização das novas tecnologias, muitos jovens optam pela forma mis rápida e fácil de terminarem o namoro, enviando mensagens no telemóvel, no facebook ou no twitter. Comportamentos como estes limitam uma adequada resolução do problema e aumentarão a probabilidade de existirem mal-entendidos e ressentimentos. Incentivar a expressão directa e ao vivo de uma vontade e enfrentar reacções negativas por parte dos outros são competências que se aprendem em experiências como esta.
Pode aconselhá-lo a explicar ao outro as suas razões de forma clara e concreta para evitar que este se sinta confuso e sem explicações que lhe permitam lidar com a separação. Por outro lado, não se devem apresentar listas de motivos recheados de pormenores e acusações pois fará com que o outro se sinta ainda mais arrasado. Na maior parte dos casos, os namoros terminam porque uma das pessoas já não gosta o suficiente e isso não é culpa de ninguém. Os sentimentos podem sofrer alterações ao longo do tempo e é importante que as atitudes sejam congruentes com eles.
Pode ainda dar alguns conselhos mais práticos aos seus filhos. Por exemplo, é importante escolher um local calmo e neutro para conversarem, evitando sítios “especiais” para o casal, a casa de um dos dois ou locais onde não haja privacidade. Apesar de não existirem momentos “perfeitos” para a comunicação desta decisão, há alturas piores do que outras. Por exemplo, é preferível terminar o namoro durante o fim-de-semana em que poderão ir para casa e eventualmente ter o devido apoio por parte de familiares ou amigos do que na véspera do teste de quarta-feira.
Quando o seu filho tiver conseguido comunicar a sua decisão ao outro, deixe claro que se sente orgulhoso pela coragem que teve e pelo respeito que soube demonstrar. Após a “derradeira conversa”, tudo pode parecer mais tranquilo e esclarecido. Porém, para muitos jovens, esta é uma fase de muito stress. Na maioria das vezes, um ou ambos os membros do casal desejam manter o contacto com o outro ou insistem em “manter a amizade”. Prepare os seus filhos para a importância de manterem limites definidos após a separação. Quer eles quer os seus ex-namorados precisam de tempo para lidar com a separação e ultrapassá-la com a ajuda das pessoas que lhes são mais próximas. Não é aconselhável continuar a trocar mensagens a perguntar constantemente como o outro está ou convidá-lo para ir ao cinema na semana seguinte. Lembre-lhe que aprender a tomar decisões difíceis é uma aprendizagem dura mas necessária. Voltar atrás e ter atitudes contraditórias só irá boicotar a felicidade dele e a do outro que, obrigatoriamente precisa de tempo e espaço para sarar as suas feridas.
Por fim, o/a leitor/a, poderá ainda estar a pensar: “E se eles se arrependem? O que lhe digo?” De facto, pode acontecer. Em alguns casos, é importante ajudá-lo a distinguir entre arrependimento e saudade. Antecipe o que acham que iria acontecer se voltassem a namorar e ajude-o a reflectirem sobre o tema. Noutros casos, os jovens podem mesmo chegar à conclusão que tomaram a decisão de forma impulsiva ou pelas razões erradas. Muitos adolescentes têm medo de sofrer ou mesmo de ser rejeitados e, por isso, decidem terminar os namoros antes que “o assunto se torne demasiado sério”. Se assim for, incentive-o a ser sincero com o outro.
Deve partilhar estes motivos e as suas dificuldades pessoais ao outro para que este possa decidir se quer voltar a namorar ou não. Na pior das hipóteses, será tarde demais e o seu filho terá de aprender a lidar com a rejeição.
Na melhor das hipóteses, voltarão a namorar mas agora com maior Verdade.
Ana Beato – Psicóloga Clínica
ana.beato@pin.com.pt
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