Os conflitos são comuns. Sempre fizeram parte da natureza humana. Representam formas de relacionamento entre iguais, sobretudo na ausência de regras.  As próprias crianças, naturalmente, também são promotoras desses conflitos, quer no relacionamento em casa com os irmãos, quer na escola com os colegas. Quem nunca assistiu a desentendimentos, por exemplo, num parque infantil? Quem desce primeiro no escorrega, ou quem tem direito ao baloiço? Eis alguns dos obstáculos mais frequentes:

1- A ameaça e a intimidação 

 Muitas crianças são alvo de bullying. O bullying é diferente da provocação porque é repetido e muitas vezes aumenta com o tempo. Pode incluir insultos, ameaças, intimidações e até violência física. Por exemplo, um menino mais velho quando intimidado por outro mais novo num campo de futebol. Seja proativo e alerte a criança para os riscos a que está sujeita.  Explique o que é o bullying e certifique-se de que saberá defender-se. Incentive, sempre, a denunciar eventuais maus tratos. Uma criança informada é, regra geral, mais confiante e segura.

2- A agressividade 

Crianças com problemas de aprendizagem e atenção, por vezes, não controlam os impulsos e têm dificuldade em filtrar o que dizem. Podem empurrar outras crianças, correr sem prestar atenção ou até insultar sem consciência da ilicitude.  Como ajudar? O primeiro passo é conversar com a criança e esclarecer onde começa uma agressão física. Defina as regras para que distinga, também, as consequências. Incentive-a a comunicar usando palavras em vez do próprio corpo. Lembre que empurrar ou ser empurrado pode doer. Desafie a inteligência emocional da criança através de vínculos afectivos e efectivos. Reforce a autoestima.

3- Não saber ganhar ou perder

 É importante que vivencie choques de realidade. Crianças com problemas no controlo de impulsos e das emoções costumam vangloriar-se de ganhar, provocando, ao mesmo tempo, através da humilhação, sentimentos negativos nas crianças derrotadas. Faça entender que é um erro. Ao agir desta maneira, estará a convidar as outras crianças a não querer brincar mais com ela.  Crianças com este perfil, sentem maiores dificuldades em aceitar a derrota. Ensine a saber lidar com a perda. Tão importante como saber ganhar é saber perder. E isso aprende-se.

4 - Dificuldades em lidar com o equipamento

Crianças com dificuldades motoras, como dispraxia, podem não conseguir usufruir a cem por cento de um parque infantil.  É normal. Muitos dos equipamentos, por exemplo, escadas, barras e baloiços exigem coordenação de movimentos nem sempre ao alcance de todas as crianças.  Essa dificuldade, não raras vezes, gera frustações que têm de ser ultrapassadas. Procure recorrer a parques infantis em momentos de menor afluência. Ajude a criança a percorrer todos os equipamentos, do baloiço ao escorrega, se possível, quando não há crianças por perto para que se sinta mais confiante e possa disfrutar. Ao faze-lo estará a contribuir para melhorar as suas habilidades motoras e a sua autoestima.

5- Não saber esperar pela vez

No parque infantil há que saber compartilhar, comunicar e aceitar regras. Tem de ser assim para que todos possam divertir-se, por vezes, um de cada vez. No entanto, a obrigatoriedade de esperar pelo momento de escorregar pode ser mais difícil para as crianças com problemas de aprendizagem e atenção. Ensine-a interiorizar o funcionamento dos equipamentos. Reforce, por exemplo, o uso de expressões como "minha vez" e "sua vez".  Informe a criança que, em caso de necessidade,  poderá sempre pedir a um colega ou professor que esclareça eventuais duvidas.

6- Não quer brincar com outras crianças

O tempo do recreio ajuda ao desenvolvimento de habilidades sociais. Saber compartilhar e participar em conversas é importante, mas, por vezes, a criança não sabe como iniciar uma conversa ou entrar num jogo. Pode até não entender quando outras crianças a convidam para brincar. Esta barreira pode dificultar o nascimento de novas amizades. Há estratégias para contornar o problema. Simule, por exemplo, um diálogo com outras crianças: "olá, eu sou a Maria. Qual é o teu nome? "Queres jogar à bola comigo?". Mostre, também, que nem sempre é preciso perguntar rigorosamente nada para que consiga entrar num jogo e interagir com outras crianças.

7- Correr riscos nos equipamentos

Agir por impulso é algo normal numa criança. Esse comportamento resulta, muitas vezes, em situações de risco como saltar de muito alto, rodar demais no carrocel, ou entrar em conflito com outras crianças. Converse sobre a importância de respirar e pensar antes de agir. Sempre que possível, procure os parques infantis mais seguros para evitar eventuais quedas. Surpervisione todas as actividades.

8- Provocações

Nos parques infantis é frequente haver brincadeiras que, por vezes, são confundidas com provocações. Por exemplo, "não gosto dos teus sapatos, são feios". Algumas crianças não conseguem estabelecer as diferenças e é muito importante que o saibam fazer. Onde começa uma e acaba a outra?  Mostre a linguagem corporal, o tom de voz e as expressões faciais que acompanham uma e outra. Ajude a criança a saber o que responder quando se sentir provocado. Por exemplo, "não gosto que digas isso" ou "não concordo" ou, ainda, "não tens razão".