Um tipo de vírus comum pode servir como "gatilho" ao desenvolvimento de vários casos de diabetes, principalmente em crianças, segundo um estudo feito por investigadores britânicos, divulgado pela edição on-line da BBC Saúde. De acordo com os cientistas, sinais de enterovírus - uma família de vírus comuns que causam sintomas como vómito e diarreia - foram encontrados no tecido pancreático de 60% das crianças investigadas que tinham diabetes do tipo 1. O vírus, no entanto, quase não foi encontrado em crianças que não possuem a doença.
Os cientistas também informaram que em 40% dos adultos analisados que possuíam diabetes tipo 2, foram encontrados sinais de infecção pelo vírus nas células produtoras de insulina. O estudo, que foi publicado na revista científica "Diabetologia", sugere a possibilidade do desenvolvimento de uma vacina para a doença.
Embora já se saiba que a genética tem um papel importante no risco de uma pessoa desenvolver diabetes, factores ambientais também podem estar envolvidos e a ideia de que um vírus poderia causar a doença já era sendo considerada há décadas.
Segundo um dos autores do presente estudo, Alan Foulis, da Glasgow Royal Infirmary, o enterovírus poderia estar presente em várias amostras de tecidos estudadas anteriormente, mas só agora foi possível detectá-lo devido aos avanços tecnológicos.
Juntamente com colegas da Peninsula Medical School e da Universidade de Brighton, Foulis estudou sinais de enterovírus em tecidos retirados durante as autópsias de 72 crianças que morreram menos de 12 meses após o diagnóstico de diabetes e comparou-os com amostras retiradas de 50 crianças que não apresentavam a doença.
Nos tecidos de pessoas diabéticas em que foram encontrados sinais do vírus, ele foi descoberto especificamente nas células beta, que produzem insulina.
A partir dos resultados do estudo, os investigadores sugerem que, em crianças com predisposição genética para o diabetes do tipo 1, infecções por enterovírus poderiam desencadear a reação imunológica que inicia o desenvolvimento da doença.
Já em relação ao diabetes de tipo 2 - que é habitualmente relacionado com a obesidade em adultos - os cientistas especulam que a infecção afecta a habilidade das células de produzir insulina, o que, combinado com a grande demanda pela substância no organismo de pessoas obesas, seria suficiente para o desenvolvimento da doença.
Há cerca de 100 variedades diferentes de enterovírus, assim, apesar dos resultados da pesquisa abrirem caminho para o desenvolvimento de uma vacina, os cientistas ainda precisam descobrir quais os tipos que podem servir como "gatilho" para o diabetes.
Um dos autores do estudo, o professor Noel Morgan, da Peninsula Medical School, afirma que ainda são necessárias mais pesquisas para que uma vacina seja desenvolvida.
«Os próximos estágios da pesquisa são a identificação de quais enterovírus estão envolvidos e como as células beta são modificadas pela infecção. O último objectivo é o desenvolvimento de uma vacina eficaz, que, esperamos, irá reduzir drasticamente o número de pessoas ao redor do mundo que desenvolvem o diabetes tipo 1 e, potencialmente, o diabetes tipo 2 também», afirmou.
Para o médico Ian Frame, director de pesquisas da organização Diabetes UK, o estudo é «um grande passo» para identificar as possíveis causas da doença.
«Nós sabíamos há algum tempo que o diabetes de tipo 1 não pode ser explicado apenas pela genética e que outras causas ambientais também tinham algum papel no desenvolvimento da doença», disse.
Já Karen Addington, diretora-executiva para Fundação para Pesquisas sobre Diabetes Juvenil da Grã-Bretanha, que financiou a pesquisa, afirma que as descobertas são importantes, na medida em que a incidência de diabetes tipo 1 está aumentando a cada ano e ainda não há maneiras de prevenir a doença.
«O diabetes de tipo 1 é uma condição que ameaça a vida. O problema requer uma vida inteira de dolorosos testes sanguíneos e aplicações de insulina», disse.
09 de Março de 2009
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