FOTO: Dois migrantes sobreviventes à chegada à ilha de Lesbos, na Grécia (AFP/ARIS MESSINIS)

Uma mulher de 31 anos da Libéria, uma dos 29 sobreviventes que foram levadas para a ilha de Lampedusa, perdeu o filho de dois anos, a filha de 13 e o irmão de 21 – todos afogados quando a embarcação onde seguiam se virou.

Helena Rodriguez, ginecologista e mediadora cultural da UNICEF em Lampedusa, que está a trabalhar em colaboração com os serviços de saúde italianos, diz-nos que "a tragédia deixou esta mulher em estado de choque profundo depois de ter assistido ao afogamento dos filhos e do irmão sem poder fazer nada para os salva". "Esta mulher sofre também de pneumonia grave", acrescenta a médica.

"Apesar de ter pago aos contrabandistas 2.400 dólares (cerca de 2.162 euros) pela travessia da família da Líbia para Itália, quando ela e outras pessoas viram a embarcação sem o mínimo de condições para se fazer ao mar, não queriam entrar porque tiveram medo. Mas os contrabandistas começaram a disparar contra eles e obrigaram-nos a embarcar, e foi por isso que tantas pessoas morreram a apenas 12 quilómetros da costa da Líbia", diz.

Helena Rodriguez, que estava no cais para dar apoio aos sobreviventes na madrugada de quinta-feira, contou que os que foram resgatados estavam em condições físicas e psicológicas muito precárias – alguns em coma e outros com queimaduras graves devido à exposição ao combustível do barco. "A situação aqui é tremenda", afirmou.

Outras duas mulheres regatadas por uma embarcação norueguesa também perderam os filhos no mar. A maioria das vítimas eram oriundas do Senegal, Libéria, Guiné e Nigéria.

Tudo indica que 2016 venha a ser o ano com o maior número de vítimas mortais no Mediterrâneo. Até à data já morreram mais de 4.200 refugiados e migrantes nesta perigosa travessia. Desde janeiro até agora chegaram a Itália por mar cerca de 160.000 pessoas, segundo dados do Fundo das Nações Unidas para as Crianças, UNICEF.

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