Portugal tem registado um número crescente de casos de doença mental entre os mais jovens, um fenómeno que a pandemia viral de COVID-19 agravou. "A situação atual é bastante alarmante", confirma Eulália Calado, médica neuropediatra e futura diretora clínica da Clínica do Gil. "Chegam-me casos de crianças muito novas já com problemas ou adolescentes muito debilitados", revela a especialista em entrevista exclusiva na edição de setembro da revista Prevenir, já à venda nas bancas de todo o país.
"Por exemplo, recentemente, acompanhei uma criança de dois anos e meio com muita dificuldade em comunicar, optando por isolar-se, revelando uma linguagem corporal com movimentos repetitivos, além de ser pouco recetiva ao carinho. É um caso que indicia um problema do espetro do autismo e este é apenas um dos muitos exemplos que poderia dar, mas que deve servir de alerta para os pais procurarem ajuda o mais cedo possível", recomenda a neuropediatra. Muitos ainda desvalorizam os indícios.
O acesso fácil aos dispositivos móveis, que conduz a um uso excessivo, também não ajuda. Só agrava. "Muitas crianças, já desde a idade do pré-escolar ou até antes, passam seis a oito horas por dia a olhar para ecrãs. Esse comportamento é altamente prejudicial para a saúde mental, tornando-as em seres passivos, que não precisam de interagir, de comunicar. E o preço a pagar é muito elevado, dando origem a atrasos na linguagem, outra verdadeira pandemia", critica a futura diretora clínica da Clínica do Gil.
Muitos dos problemas de saúde mental das crianças e dos adolescentes de hoje são anteriores ao atual surto viral que confinou o mundo mas o isolamento que o combate ao vírus impôs no quotiadiano geral acabou por agravá-los. "A história da pandemia ainda está para ser contada, mas não tenhamos dúvidas que tem sido altamente prejudicial para a saúde mental de todos e das crianças e jovens em particular", assegura Eulália Calado na entrevista que pode ler na íntegra na edição de setembro da Prevenir.
"Por mais que se diga que eles gostem da interação digital da tecnologia, isso nunca substituirá a importância da comunicação cara a cara, do toque, dos jogos de futebol ou, mais tarde, dos namoros ou dos almoços de grupo e isso só acontece no recreio da escola, no convívio presencial", garante a especialista. "A pandemia robotizou os nossos filhos, sendo uma ameaça terrível à sua capacidade de socialização, podendo até prejudicar depois o seu percurso enquanto estudantes", adverte a médica neuropediatra.
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