Em declarações à agência Lusa, a investigadora do ISPUP responsável pelo estudo, Sarah Warkentin, explicou que o objetivo do trabalho foi “avaliar a satisfação e perceção de mães e pais sobre a silhueta corporal dos seus filhos”.

“Normalmente os estudos focam-se na silhueta corporal dos adolescentes e existem poucos estudos de avaliação a perceção e satisfação dos pais e mães sobre a silhueta em idade escolar”, referiu.

O estudo, publicado na revista Eating and Weight Disorders – Studies on Anorexia, Bulimia and Obesity’, incluiu 4.930 mães e 1.840 pais de crianças que integram a coorte Geração XXI, um estudo longitudinal levado a cabo na cidade do Porto pelo ISPUP.

Segundo Sarah Warkentin, foi pedido aos pais que, de um conjunto de silhuetas com tamanhos corporais diferentes, assinalassem a atual silhueta do filho e a que desejariam para a criança.

Dos mais de 6.000 pais, 35,7% tinham filhos com excesso de peso, ou seja, o equivalente a 1.759 crianças.

Uma das principais conclusões do estudo foi que “74% dos pais cujos filhos apresentavam excesso de peso afirmaram estar satisfeitos com a silhueta das crianças”, adiantou a investigadora.

“O reconhecimento dos pais quanto ao excesso de peso dos seus filhos acontece tardiamente e, muitas das vezes, não agem quando a criança efetivamente já tem excesso de peso”, disse.

Paralelamente, 36% das mães e 31% dos pais cujos filhos apresentavam um peso normal para a idade e género desejavam “uma silhueta maior para as suas crianças”.

“Num primeiro momento, ao avaliarmos o efeito da insatisfação dos pais quanto à silhueta dos filhos, parece plausível assumir que a insatisfação é um fator de proteção quanto ao excesso de peso”, referiu.

O estudo verificou também que as mães eram “quase três vezes mais insatisfeitas com a imagem corporal das filhas do que os pais”.

“Vimos que existia uma diferença: tanto pais como mães preferiam que as filhas tivessem uma silhueta mais delgada e que os filhos [apresentassem] uma silhueta mais encorpada. Isso mostra a realidade da sociedade, em que o desejo de um corpo magro é idealizado para as meninas e um corpo mais forte para os rapazes”, acrescentou.

De acordo com Sarah Warkentin, as conclusões do estudo salientam a necessidade de se planearem intervenções junto dos pais por forma a criar-se “um ambiente favorável para que a criança construa uma imagem corporal adequada e saudável de si própria”.

“Estes resultados destacam a importância de intervenções eficazes principalmente junto dos pais das raparigas, mas também de mães com menor idade e escolaridades e pais insatisfeitos com o próprio peso”, afirmou.

O próximo objetivo da equipa do ISPUP é perceber como é que os filhos, agora com 13 anos, se veem atualmente e qual a silhueta que desejavam.

“Queremos mapear os fatores associados e perceber, entre outras questões, se são as meninas mais insatisfeitas e até se a insatisfação dos pais se relaciona com uma eventual insatisfação dos filhos aos 13 anos”, afirmou.