“É uma velha questão. A Fenprof está disponível para fazer essa discussão. Em nossa opinião a forma como se acede ao ensino superior neste momento não é correta. Este recurso exclusivo a exames parece-nos que já era bem tempo de encontrarmos uma forma diferente, envolvendo até as instituições de ensino superior nessa discussão”, disse o secretário-geral da federação sindical, Mário Nogueira.
No Porto, em conferência de imprensa de apresentação dos resultados do levantamento feito pela Fenprof sobre os planos de recuperação elaborados pelas escolas, Mário Nogueira referiu que viu referências à discussão sobre o acesso ao ensino superior no programa de Governo do PS, e acrescentou que aguarda por saber se o futuro executivo de António Costa terá um ou dois ministérios ligados à educação para mostrar a disponibilidade desta federação de professores.
“Se o Ministério dos Ensino Superior estiver no Ministério da Educação até facilita a discussão. De qualquer forma o que interessa é aproveitar a oportunidade”, disse Mário Nogueira, lembrando uma resolução do Conselho Nacional de Educação tomada em 2020 sobre esta matéria.
O secretário-geral também reiterou a posição da Fenprof sobre os próximos exames nacionais, defendendo que este ano as provas devem ter as características dos dois anos anteriores, anos marcados pela pandemia da covid-19.
“Estar a massacrar os alunos com as provas de final de ciclo, nomeadamente no 9.º ano, ou com exames, no final do Secundário, que não são exames necessários aos alunos que querem prosseguir os seus estudos no Ensino Superior, é algo que não tem qualquer sentido”, justificou.
Para Mário Nogueira “a excecionalidade deste ano letivo justifica que haja uma abordagem excecional nas provas de aferição e nos exames” porque, disse o líder da Fenprof, “este ano não vai servir aferir nada”, uma vez que foi igualmente marcado por constrangimentos ligados à covid-19.
“Centenas de turmas que ficaram em casa [em isolamento]”, disse Mário Nogueira que adjetivou o primeiro período de “intermitente” e lembrou que o segundo período “começou atrasado”.
Já sobre o levantamento feito pela Fenprof sobre os planos de recuperação dos alunos elaborados pelas escolas, no âmbito do Plano Escola+ 21|23, Mário Nogueira começou por dizer que, embora “seja verdade” que a covid-19 contribuiu para “atrasos”, os “problemas são estruturais” das escolas “arrastam-se”, razão pela qual quer que este seja considerado o “ano zero”.
“Este foi o ano em que os professores, o melhor que conseguiram fazer foi evitar males maiores, maiores perdas. Este ano não pode ser considerado um dos dois anos do plano de recuperação. Quanto muito pode ser um ano zero. A haver um plano de recuperação para as escolas avançarem, esse ano tem de começar no próximo ano. Mas esperamos que os recursos para que as escolas possam dar a resposta indispensável existam. Se não é um faz de conta”, sublinhou.
A posição da Fenprof baseia-se na análise às respostas dos 114 diretores de agrupamentos escolares ou de escolas que responderam a um questionário sobre as condições que encontraram para implementar os planos de recuperação dos alunos.
De acordo com os cálculos da federação, 80% elaboraram os planos de recuperação, mas “não tiveram qualquer tipo de reforço ou crédito horário”, sendo que 89% das escolas ou agrupamentos de escolas respondem que não tiveram reforço ao nível do crédito horário e 83% não tiveram reforço de docentes.
“Isto desmente qualquer intenção séria do Ministério da Educação de fazer um plano de recuperação”, disse Manuela Mendonça, presidente do concelho nacional da Fenprof, a quem coube apresentar o estudo hoje de manhã.
Já Mário Nogueira acrescentou que a Fenprof realizou este estudo também para perceber o grau de envolvimento dos professores nos planos de recuperação, tendo percebido que “há um desgaste tremendo”.
“Não será alheio o número de baixas temporárias ter aumentado muito no segundo período”, concluiu.
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