Como principais fatores facilitadores deste comportamento destaca-se o conforto dos pais (em algumas situações, torna-se mais fácil dormir com a criança, como em processos de amamentação); a crença que esta prática permite alcançar uma maior ligação emocional, enquanto família; e ainda as circunstâncias da vida, pois as restrições de espaço na casa (por exemplo, devido a limitações financeiras) podem exigir que pais e filhos partilhem a cama. Contudo, o que apontam as investigações sobre esta prática?

De acordo com a Academia Americana de Pediatria, é benéfico para os bebés dormir no quarto dos pais até aos seis meses de idade, sendo que partilhar o quarto com os pais jamais significa dormir na mesma cama.

Neste sentido, a partir dos 6 meses, é aconselhável que a criança durma no seu quarto. Inclusivamente, a partir desta idade a transição do quarto dos pais para o próprio quarto da criança torna-se, progressivamente, mais desafiante, pelo que, não existindo motivo clínico, é bom não adiar a decisão.

Segundo a Sociedade Canadiana de Pediatria, existe um risco acrescido de Síndrome de Morte Súbita Infantil, quanto menor for a idade da criança, dada a maior fragilidade e consequentes riscos (por exemplo, asfixia, esmagamento, sobreaquecimento). Esta é uma das principais causas de morte durante o primeiro ano de vida do ser humano.

No âmbito dos riscos associados a dormir com os pais, durante a infância, sabe-se que esta prática pode facilitar a existência de problemáticas como:

- Problemas de internalização (por exemplo, sintomas de ansiedade e/ou depressão; queixas somáticas, como dores de barriga) e de externalização (por exemplo, comportamento agressivo, irritabilidade, baixa tolerância à frustração);

- Dificuldades de atenção e concentração;

- Menor capacidade de adaptação a situações adversas;

- Uma maior dependência aos pais (por exemplo, um maior desejo de estar sempre junto dos pais, necessidade de ajuda dos pais para a maioria das tarefas, birras frequentes).

Já na pré-adolescência, existe um risco acrescido para comportamentos de oposição, dificuldades na gestão das emoções, fragilidades na interação social (por exemplo, tende a ser muito difícil para estas crianças participar nas típicas “festas de pijama” e pernoitar na casa de amigos e colegas) e de uma baixa autoestima.

As investigações reforçam que as consequências não são apenas para as crianças, mas também para os pais. Tome-se como exemplo a fadiga e as fragilidades na vida do casal, o qual perde tempo de qualidade a sós.

Dados os riscos reconhecidos pela literatura, seguem possíveis sugestões para os mais novos abandonarem a cama dos pais e ganharem autonomia no momento de dormir:

  1. Começar a “desacelerar” imediatamente após o jantar. É particularmente importante evitar a exposição a ecrãs antes da hora de dormir, pois interfere com a qualidade do sono. Por exemplo, sabe-se que as crianças com uma idade inferior a 06 anos são sensíveis a estímulos como sombras e ruídos, associando-os a personagens assustadoras a que tem acesso nesses mesmos ecrãs.
  2. Criar uma rotina para dormir. A existência de uma rotina proporciona previsibilidade e, por sua vez, uma maior sensação de controlo e segurança. Inclusivamente, a criança pode participar e orientar as atividades antes do momento de dormir, as quais permitem relaxar, como por exemplo colocar na cama os peluches e manta predileta, selecionar o livro para os pais lerem, escolher o pijama, entre outros.
  3. Proporcionar um momento de tranquilidade: o momento antes de dormir deve ser pleno. Desta forma, a leitura de uma história pode ser acompanhada por uma canção de embalar, uma massagem ou um abraço.
  4. Aproximações sucessivas, ou seja, é fundamental que os pais vão implementando mudanças na rotina do sono até alcançar o pretendido, ou seja, que a criança durma sozinha. Numa primeira fase destacam-se duas estratégias importantes: a) Quando deitar a criança, fique com ela até adormecer. Quando a criança estiver a dormir, pode ir para o seu quarto. No dia seguinte, a criança vai acordar sozinha e, dia após dia, vai compreender que é seguro acordar no seu próprio quarto. Progressivamente, vai chegar um momento em que a criança já não necessita que o pai ou a mãe fiquem no quarto até ela adormecer; b) Durante este processo de ficar no quarto com a criança (deitado na cama ou sentado numa cadeira ou sofá), enquanto a criança ainda está acordada, pode ser benéfico identificar um motivo para uma breve ausência (por exemplo, ir à casa de banho) e, gradualmente, ao longo do tempo, prolongar esse momento fora do quarto. Com o passar do tempo, a certeza de que o pai ou mãe irá regressar ao quarto permitirá à criança confiar que está segura e que os pais não vão desaparecer, facilitado que esta adormeça.
  5. Definir metas e respetivas recompensas com a criança. Por exemplo, para algumas crianças pode ser estratégico estabelecer que a partir de determinado dia, a mãe ou o pai vai deixar de dormir com a criança. Como recompensa por ter a autonomia de dormir sozinha, a criança é presenteada, por exemplo, com uma ida ao cinema. É importante que a remoção gradual do conforto e da presença dos pais na hora de dormir seja substituída pela atenção e carinho antes (durante a rotina de dormir) e depois da hora de dormir (aquando do acordar, elogiar a autonomia).

Este pode ser um processo doloroso, para a criança e pais, mas é fundamental que os pais se mantenham firmes aos protestos da criança. Os riscos não são apenas para a saúde mental dos filhos, mas também dos pais, os quais se encontram, não raras vezes, exaustos. A privação de sono nos adultos encontra-se associada a alterações de humor (tristeza, irritabilidade), dificuldades de atenção e concentração, dores musculares, fadiga, entre outros.

Peça ajuda, não se encontra sozinho(a)!

As explicações são de Sofia Gabriel e de Mauro Paulino, da MIND – Instituto de Psicologia Clínica e Forense.