“Tenho vários professores que admitiram que ficaram praticamente arrasados com as duas últimas semanas de aulas”, contou à Lusa o presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE), Manuel Pereira, defendendo que será preciso “adaptar os horários” dos alunos.
Para tentar controlar a propagação do novo coronavírus, o Governo decidiu em 16 de março encerrar as escolas e avançar com aulas à distância.
Em poucos dias, os professores tiveram de se adaptar às mudanças e começar a ensinar através de plataformas online ou do envio de trabalhos por email.
Foram duas semanas “muito exigentes”, segundo Manuel Pereira. “Os professores entraram num ritmo impensável”, lembrou, explicando que ter cinco turmas em ensino presencial é diferente de ter “cem alunos” à distância.
O ensino à distância obriga a que o professor esteja atento às diferentes realidades de cada aluno e que consiga perceber e acompanhar as dificuldades de cada um. Só no ensino básico e secundário, mais de um milhão de alunos continuou a ter aulas sem sair de casa.
Em poucos dias os professores tiveram de adaptar as aulas presenciais ao ensino à distância. As plataformas digitais passaram a ser as novas salas de aula.
“Havia professores para quem estes instrumentos de trabalho eram desconhecidos e que hoje são verdadeiros craques”, corroborou Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores e Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP).
Além disso, muitos docentes estiveram a dar aulas de casa ao mesmo tempo que também tinham de acompanhar os filhos e fazer refeições, lembram os sindicatos de professores.
Ainda há muitas dúvidas sobre como será o terceiro período, mas neste momento há já uma certeza: “os horários de trabalho terão de ser adaptados”, alerta Manuel Pereira.
“No terceiro período, que já se percebeu que vai começar com o ensino à distância, é preciso ocupar os alunos de forma estimulante. Não há interesse em simplesmente manter os alunos o dia inteiro ligados”, defendeu Manuel Pereira.
“Não é possível que os alunos estejam em casa a cumprir um horário como até aqui. Teremos de planificar o trabalho futuro à luz dos 15 dias de aulas que tivemos”, concluiu Manuel Pereira.
Hoje, os professores começaram as reuniões de avaliação dos alunos e os diretores garantem que estes encontros de docentes, à distância, também estão a servir para discutir métodos de trabalho usados nas últimas duas semanas de aulas.
A Lusa falou com vários professores que reconhecem que não existe uma solução perfeita, já que todas as opções têm vantagens e desvantagens.
Além dos casos dos alunos sem acesso à internet – 5% das famílias com crianças até aos 15 anos – existem outros impedimentos que os docentes dizem estar a enfrentar.
O e-mail é a forma mais acessível, mas não permite uma comunicação imediata com o aluno.
As plataformas de videoconferência recriam um ambiente mais semelhante ao de uma sala de aula mas podem ser impeditivas no caso de haver vários alunos em casa ou pais em teletrabalho: Se não houver um computador para cada aluno, ele pode perder a aula, já que esta tem uma hora para começar e outra para acabar.
Entretanto, o Ministério da Educação falou na possibilidade do regresso de uma espécie de telescola, cujos conteúdos seriam transmitidos em canal aberto, em canais de televisão como a RTP2 ou o Canal Parlamento.
Para os diretores escolares, todas as medidas que permitam aumentar as possibilidades de acesso ao conhecimento são bem-vindas.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de 727 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram perto de 35 mil.
Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.
Em Portugal, o primeiro caso registou-se no inicio do mês e atualmente já existem mais de seis mil casos de infeção e 140 mortes.
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