Nas oito escolas do Agrupamento de Escolas Albufeira Poente há 56 alunos de origem ucraniana e 14 de origem russa, crianças e jovens que terão um papel essencial na integração dos alunos que chegarão a Portugal numa situação de vulnerabilidade e sem conhecer a língua.
A diretora do agrupamento, Sérgia Medeiros, disse à Lusa que os alunos ucranianos refugiados vão começar a chegar esta semana, estando a ser pensado ceder salas de aula à noite para que possam ter aulas na língua materna, enquanto durante o dia seguem o currículo de Portugal.
Dada a quantidade de alunos ucranianos, o ambiente que se viveu nestas escolas quando começou o conflito foi tenso, contou Cristina Pinto, coordenadora do gabinete de apoio ao aluno e à família: “Logo nos primeiros dias foi muito mau. Tínhamos um grupo de alunos a chorar e foi muito difícil acalmá-los”.
Alguns destes alunos têm familiares a combater na guerra entre a Rússia e a Ucrânia e foi feito um apelo aos professores para que se mantenham atentos àqueles que “estão mais nervosos e tristes” para perceber se é necessário encaminhá-los para um apoio mais especializado.
O próximo passo é integrar os alunos que vão chegar e a melhor forma de fazê-lo é através daqueles de origem ucraniana que já ali estudam e que podem ajudar “a criar pontes”, por falarem a mesma língua, disse Joana Silva, provedora do aluno migrante.
“Os alunos que nos chegam mais são os alunos que já cá estão e que estão preocupados com os familiares que estão lá e informando-nos já que virão amigos e familiares e que precisam de ajuda”, referiu.
Yaroslav, de 17 anos, nasceu em Zaporíjia, na Ucrânia, vive em Portugal desde os nove anos e não faz distinção entre russos e ucranianos: “Não é o povo que faz isso [a guerra], para mim ucraniano ou russo não importa. O que importa é a pessoa, como ela é”, disse à Lusa o aluno do 11.º ano.
Em dezembro tinha voltado à Ucrânia para estudar Economia, mas quando aconteceu a invasão russa apressou-se a voltar para Portugal, onde está com a mãe. O resto da família está na Ucrânia. O pai está a combater e o avô e um tio também ficaram, mas conseguiram sair da sua cidade para um local mais seguro.
Extrovertido e de sorriso fácil, vai dizendo que é preciso continuar a sorrir e defende o povo russo: “O povo é bom, eu gosto do povo russo, gosto do povo ucraniano, gosto das pessoas. Não penso que seja correto dizer que os russos são os culpados”.
Nascida na Rússia perto de Moscovo, Liubov, de 14 anos, tem a mesma opinião: “Nós somos países que temos quase a mesma língua e temos de estar unidos. É muito ridículo [a situação de conflito], o povo não tem culpa desta situação, tem tudo a ver com política e nós não temos culpa desse problema”.
A viver em Portugal há sete anos com a mãe e os irmãos - o pai vive na Rússia com a avó –, a estudante do 7.º ano diz que nunca lhe apontaram o dedo por ser do país que invadiu a vizinha Ucrânia, no entanto, sabe de casos em que isso aconteceu.
“Ninguém me está a culpar por isso e ainda bem. Mas conheço pessoas que foram culpadas por serem russas. Temos de estar unidos e não podemos falar mal uns dos outros, porque somos como irmãos”, desabafa.
Artem, de 15 anos e ascendência ucraniana, já nasceu em Portugal e encara os dois países agora em guerra como “amigos”. Fala russo com os pais, pois não consegue falar ucraniano, e só deixou de ir passar o Natal com a família à Ucrânia há dois anos, por causa da pandemia de covid-19.
“Para mim é muito difícil porque tenho lá muita família, gosto deles e fico triste. Até fico a chorar e os meus pais também, com esta guerra. Espero que esta guerra acabe rápido”, lamentou o aluno do 10º ano.
Ekaterina, a quem a família trata por Katia, tem 13 anos, nasceu em Espanha mas vive em Portugal desde bebé. De nacionalidade russa, contou à Lusa que tem "duas bandeiras no sangue": a mãe é russa e o pai, que vive atualmente na Alemanha, ucraniano.
“Não há diferença entre a Rússia e a Ucrânia. Eu vivo com essa situação da guerra e eu percebo que a minha avó está na Rússia e os meus outros avós na Ucrânia [em Kiev]. Eu fico preocupada com eles, porque amo-os muito. Ninguém aqui é culpado nesta guerra. Só esperemos que acabe”, disse a estudante do 7.º ano.
Também Daria, de 12 anos e origem ucraniana sofre pela família que ainda vive na Ucrânia: “Fico triste, dá dor, magoa, tu preocupas-te, mas não podes fazer nada, só os políticos”, refere a aluna do 7.ª ano, considerando que esta guerra é uma “injustiça” e que o povo não pode fazer nada.
Partilhando o mesmo nome e país de origem, Daria, de 13 anos, nascida em Kiev, na Ucrânia, chegou a Portugal há três anos, depois de já ter vivido com os pais na Alemanha. Tem esperança que a guerra termine rápido e tem excelentes memórias do seu país, que diz ser “muito lindo”.
“Sinto-me um pouco triste e um pouco inútil vendo os lugares onde eu tenho memórias e a minha família a sofrer”, relata a aluna que estuda no 8.º ano, sublinhando que a relação entre russos e ucranianos sempre foi “ótima”.
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