O aleitamento materno está preparado para funcionar na perfeição em todos os seus detalhes. Contudo, é um processo complexo, que envolve a ação de diversas substâncias no organismo da mulher e a adaptação do bebé e da mãe ao ato de mamar. Qualquer interferência nestes processos pode introduzir dificuldades na amamentação e dar à mulher a sensação errada de que “o seu leite é fraco” ou de que não é capaz de amamentar.

Ao contrário do que muitos pensam, a grande maioria das mulheres é capaz de amamentar o seu bebé. Compreender como o aleitamento materno funciona pode ser muito importante para ultrapassar algumas dificuldades. Neste sentido, são aspetos a destacar no funcionamento do aleitamento materno.

  1. A produção e a expulsão do leite;
  2. A “pega” do bebé;
  3. A duração e a frequência das mamadas.

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Como ocorre a produção e a expulsão do leite?

A produção e a expulsão do leite materno são mecanismos controlados principalmente por duas hormonas que agem no organismo da mãe: a prolactina e a ocitocina. A hormona prolactina é responsável pela produção do leite, enquanto a hormona ocitocina é responsável pela saída ou expulsão do leite.

Quando o bebé mama, impulsos nervosos saem do mamilo para o cérebro da mãe que “ordena” a libertação da prolactina e da ocitocina. Durante as primeiras semanas após o nascimento, é muito importante que o bebé mame frequentemente para estimular os mamilos da mãe e aumentar a produção de prolactina e de leite.

Um aspeto importante relativamente à prolactina é que esta hormona é libertada em maior quantidade durante a noite. Assim, amamentar o bebé também durante a noite é essencial para uma boa produção de leite. A prolactina tem um efeito relaxante na mãe. Apesar de amamentar durante a noite, a mãe acaba por sentir-se descansada.

Relativamente à ocitocina, o seu papel é ajudar o bebé a extrair o leite da mama da mãe através da contração das pequenas bolsas que armazenam o leite. A sua ação está muito ligada às sensações e sentimentos da mãe. Pode começar a atuar, por exemplo, quando a mãe vê, toca ou ouve o seu bebé, quando sente o seu cheiro ou simplesmente quando pensa nele. Muitas vezes é possível ver o leite a escorrer ou a sair em jatos finos. É a ocitocina a atuar.

Estar junto do bebé desde as primeiras horas da sua vida é muito importante para estimular a ação da ocitocina. Contudo, se a mãe está aborrecida, triste ou tem alguma dor que a incomode, a ação da ocitocina pode ser bloqueada e a saída do leite pode ser mais difícil. Por isso é tão importante que a mãe receba o carinho e o apoio das pessoas mais próximas, se sinta confortável, descanse sempre que possível e tenha o seu bebé perto de si.

A ocitocina e a prolactina ajudam a mãe a reduz o stresse, favorecendo a vinculação mãe-bebé, tão importante para o bem-estar de ambos. A confiança e o apoio da família e dos amigos são essenciais para que este processo decorra bem.

O que é e qual a importância de uma boa “pega”?

Para conseguir fazer com que o leite saia, a boca e a língua do bebé deverão estar bem adaptadas à mama da mãe. Chama-se a isso uma boa pega. Sem uma boa pega, o bebé pode não conseguir mamar bem, o que interfere com a produção do leite e com estabelecimento do aleitamento materno nas primeiras semanas de vida do bebé.

Existem alguns sinais que podem identificar se uma pega está correta ou não. Ao observar estes sinais é possível verificar se o bebé necessita de ajuda para aprender a mamar.

São sinais de uma boa pega, que podem ser observados na ilustração em baixo:

Boa pega
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- Grande parte da aréola está dentro da boca do bebé e a aréola é mais visível acima do lábio superior do bebé do que abaixo do lábio inferior do bebé;

- A boca do bebé está bem aberta;

- O lábio inferior do bebé está virado para fora;

- O queixo do bebé toca ou quase toca a mama.

Conforme pode ser observado na ilustração, quando a pega é correta o bebé faz os movimentos de sucção a partir da mama da mãe e não do mamilo apenas. Com os movimentos, o leite atravessa os canais e o bebé consegue mamar bem. Suga o leite devagar e é possível ouvi-lo a engolir o leite mais ou menos de segundo a segundo. As bochechas do bebé permanecem arredondadas durante a mamada. Quando o bebé está satisfeito, larga a mama espontaneamente. O mamilo pode parecer estar esticado por alguns instantes, mas logo volta ao normal.

O que é e quais as consequências de uma “pega” incorreta?

Má pega
créditos: Direitos Reservados

- Apenas o mamilo está dentro da boca do bebé ou a aréola é mais visível abaixo do lábio inferior do que acima do lábio superior do bebé;

- A boca do bebé não está bem aberta;

- O lábio inferior do bebé está voltado para frente ou virado para dentro;

- O queixo do bebé está longe da mama.

A presença de qualquer um desses sinais pode indicar que a pega não está correta. Conforme pode ser observado nesta ilustração, quando a pega não é boa, o bebé mama a partir do mamilo e não consegue pressionar os ductos para a saída do leite. O leite não sai com facilidade e o bebé não consegue mamar bem. Suga depressa, sem engolir, e as bochechas ficam voltadas para dentro. Dar de mamar será doloroso ou desconfortável. Quando o bebé para de mamar, o mamilo permanece esticado e parece amassado.

Uma pega incorreta pode ter consequências como:

- Mamilos magoados e muito doloridos;

- Mamas cheias demais, vermelhas e doloridas. Pode haver um bloqueio dos ductos e até mesmo uma mastite, que é uma inflamação da mama;

- Ganho de peso insuficiente do bebé;

- Fome e irritação do bebé;

- Mamadas muito longas (mais de meia hora) ou muito frequentes (com intervalos de menos de uma hora e meia).

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Quais são as causas de uma “pega” incorreta e como corrigir este problema?

As causas de uma pega incorreta variam. A utilização de biberões e chupetas antes do aleitamento materno estar bem estabelecido é uma das causas conhecidas. A forma como o bebé posiciona a boca e a língua para chuchar na chupeta ou sugar o biberão é diferente da forma como o faz para mamar ao peito da mãe. Assim, o bebé pode ficar confuso e ter mais dificuldades para fazer uma boa pega e sugar. Outras causas podem ser o facto de o bebé ser ainda muito pequeno ou fraco e alguns problemas funcionais, como mamilos invertidos ou planos, ou mamas muito grandes que dificultam a pega.

É também comum que a posição da mãe e do bebé ao mamar interfiram na pega do bebé. Existem várias posições possíveis para dar de mamar sentada ou até mesmo deitada de lado. O importante é que a mãe esteja confortável, o bebé esteja voltado para a mama da mãe e que seu corpo esteja em contacto com o corpo da mãe e todo apoiado. A cabeça ou o corpo do bebé não devem estar retorcidos ou descaídos.

Quando a mãe observa que a pega do bebé não está correta, deve retirar o bebé da mama para tentarem uma nova pega. Para retirar o bebé da mama, a mãe deve colocar vagarosamente o seu dedo mínimo dentro da boca do bebé até que ele solte o mamilo. Nunca se deve puxar o bebé para que ele largue a mama. Isso pode magoar o mamilo e ser bastante doloroso. Para facilitar a nova pega, a mãe deve experimentar aproximar o mamilo da boca do bebé apenas quando este estiver com a boca bem aberta.

Muitas mães necessitam de ajuda nos primeiros dias logo após o nascimento do bebé para assegurar que o seu bebé mame bem. É importante aproveitar os dias em que está na maternidade e as primeiras consultas de saúde infantil para tirar as suas dúvidas e solicitar a ajuda necessária.

Qual deve ser a duração e a frequência das mamadas?

A quantidade de leite consumido e a frequência das mamadas varia muito de bebé para bebé, de mamada para mamada e também com o passar do tempo. Os bebés que são amamentados a pedido e de acordo com o seu apetite, ou seja, que mamam sempre que têm fome e que param de mamar quando estão satisfeitos, conseguem obter tudo aquilo que necessitam para um crescimento saudável. Por sua vez, a mãe consegue produzir o leite necessário para satisfazer as necessidades do bebé. É muito importante não restringir a duração ou a frequência das mamadas. A mãe vai começar a aprender os sinais do bebé e descobrir que o bebé tem fome antes mesmo de começar a chorar, o que será muito recompensador.

O bebé deve mamar até sentir-se satisfeito. Nesta altura, soltará a mama. Depois de colocar o bebé para arrotar pode oferecer a mama novamente. A mesma, se ainda estiver com leite, ou a outra. O bebé aceitará apenas se quiser.

Se, entretanto, o bebé permanece por mais de meia hora a mamar ou se quer mamar com intervalos de menos de uma hora e meia, pode ser que não esteja a mamar bem e que a sua pega não esteja correta. Verifique com atenção e peça ajuda se achar necessário.

Dica…

Para reconhecer o choro da fome, tenha atenção ao choro do seu bebé quando acorda depois de dormir um período mais longo. Além disso, é importante reconhecer outros sinais.

Nesta etapa, quando estão com fome, os bebés também costumam: ficar irrequietos; abrir a boca quando se aproximam do peito ou do biberão; olhar fixamente para a mãe; sorrir e olhar fixamente para a mãe enquanto mamam.

Para mais informações consulte www.papabem.pt