Assim que recebe a confirmação da gravidez, a sua vida muda radicalmente.

 

A partir desse momento, ao tomar qualquer decisão (seja carregar, ou não, os sacos das compras ou escolher o que vai querer para o jantar) irá, inevitavelmente, pensar no que será melhor para o seu bebé.

 

Em cada situação não lhe faltarão conselhos. Primeiro, dos familiares e amigos mais próximos e, com o avançar da gestação (e do tamanho da barriga), também por parte de pessoas com quem se cruza na rua. É a magia da gravidez. Apesar disso, os aspetos menos positivos da gestação, do parto e do pós-parto, muitas vezes, não são referidos e poderá interrogar-se «porque é que ninguém me avisou?».

 

Não é por mal. Talvez não queiram assustá-la ou talvez porque quem já passou pela experiência (ou esteja ainda a viver noites mal dormidas) tenha a certeza de que ter um filho compensa tudo. Nós pensamos o mesmo, com uma diferença: saber o que se poderá vir a passar ajudá-la-à a estar ainda mais bem preparada, sem medos e dramas ou situações inesperadas.

 

Vai comprar coisas que nunca irá usar

«O marketing à volta do bebé é enorme e o melhor é não comprar tudo antes do nascimento e ir vendo o que é, de facto, necessário», aconselha Tereza Paula, ginecologista obstetra. Alexandre Lourenço dá um exemplo. «No que toca à roupa do bebé, é importante perceber que um recém-nascido com quatro quilos veste o mesmo tamanho que um bebé que nasceu com dois quilos e meio vestirá aos dois meses», recomenda.

Vai transpirar mais

«As alterações hormonais e o ritmo de vida elevam a temperatura basal. Por isso, pode precisar de menos roupa quando está grávida, em especial nas últimas semanas e, em particular, se aumentar excessivamente de peso. Vai notar mais à noite porque está tapada e menos atarefada», refere Alexandre Lourenço.

O raciocínio fica mais lento e a memória mais fraca

«Por si só, a gravidez não leva a alterações cognitivas ou ao nível da memória. Mas se tiver dificuldade em dormir, é natural que fique mais lenta e cansada», diz Tereza Paula. Além disso, após o nascimento, acrescenta Alexandre Lourenço, «a sua atenção vai ficar mais focada nas necessidades do bebé e menos nas suas ou no que a rodeia. Mas vai ver que não se esquecerá daquilo que é importante».

O toque é doloroso

Realizado no final da gravidez, consiste num descolamento intencional das membranas amnióticas. O médico pode optar por fazê-lo por volta da 39ª ou da 40ª semana, «em mulheres que chegam ao fim da gravidez e têm um colo do útero a que chamamos verde, ou seja, rijo, muito fechado e com uma probabilidade de virem a entrar em trabalho de parto muito reduzida», explica Tereza Paula. «É uma prática não farmacológica para ajudar o útero a contrair e a acelerar todo o processo. Na maioria das vezes é doloroso, mas não é obrigatório», conclui.

No final da gravidez, dormir pode ser uma missão impossível


Isto acontece «por causa do volume do abdómen, que não a deixa ficar muito tempo na mesma posição, sendo algumas posições quase proibidas», diz Alexandre Lourenço.

«Mas depois do nascimento ainda poderá ser pior, porque terá de partilhar as horas com o seu bebé e ele nunca vai querer dormir quando você tiver sono», refere. No final da gravidez, durma de lado com uma almofada entre os joelhos.

É mais fácil ter o bebé sentada

É um facto que «tem a ver com a nossa anatomia e fisiologia: é mais fácil fazer força se estivermos de pé ou de cócoras», afirma Tereza Paula. No entanto, em algumas mulheres, «o parto sentado pode ser contraproducente e prejudicar algumas situações osteoarticulares», adverte Alexandre Lourenço.

 

«Se, por um lado, as posições que favorecem o relaxamento do períneo e o fortalecimento da ajuda abdominal às contrações são benéficas, por outro, o conforto e o controlo que a grávida tem do corpo na altura do parto são mais relevantes e determinantes», acrescenta.

Amamentar pode doer


«E muito!», diz Tereza Paula, «principalmente no início, quando há uma distensão muito grande da mama que, por si só, é dolorosa. Além de que, no início, a quantidade de leite produzida é maior do que a que é escoada pelo bebé. Por isso, a mama deve ser completamente esvaziada, quer manualmente, através de massagens com a ajuda da água quente do banho, quer com recurso a bombas».

 

As visitas em casa podem ser saturantes


«Especialmente nos primeiros 15 dias após o parto, altura em que ainda está muito cansada, a dormir muito menos do que necessita e eventualmente com feridas operatórias que a impedem de se sentar ou de andar muito, pode sofrer de ligeira depressão pósparto. No primeiro fim de semana, receba apenas os parentes mais chegados e em dois horários diferentes, tentando não juntar mais de três pessoas», aconselha Alexandre Lourenço.

 

Tereza Paula sublinha que as visitas não são só cansativas para a recém-mamã, uma vez que «o bebé acabou de chegar a este mundo, vindo de um ambiente escuro e protegido  dos sons, por isso é natural que queira calma, em vez de andar de mão em mão».

 

É normal sentir-se triste


Numa altura em que é suposto a mulher sentir uma felicidade plena, algumas recém-mães podem não se sentir assim tão eufóricas. As alterações hormonais que decorrem do parto, o corpo, que não vai imediatamente ao lugar, a falta de sono e a fadiga podem traduzir-se num estado (não de graça) apelidado de babyblues.

 

«Choro fácil, irritabilidade e falta de apetite são os sintomas mais comuns e podem durar até cerca de duas semanas após o parto. É normal», esclarece Tereza Paula. Em casos mais extremos e raros, a situação pode, contudo, prolongar-se e agravar-se. «Fundamentalmente, em mulheres com um historial depressivo, a mãe pode desenvolver o desisteresse por tudo, mesmo no que toca aos cuidados do bebé e falta de pulsão de viver. Neste caso, terá de ser tratada por um psiquiatra, que pode inclusive medicar», diz.

O amor ao filho pode não ser imediato

 

É frequente ouvirmos falar de um laço afetivo imediato entre mãe e bebé, assim como do amor incondicional por um filho, mas nem tudo é branco ou preto.

 

«Fala-se disso, mas se calhar isso é apenas aquilo que é suposto acontecer. Há muitas coisas que se dizem que são puro preconceito», afirma a especialista.

 

«O facto de uma mulher não sentir imediatamente um laço com o bebé pode estar relacionado com o babyblues, por exemplo, em que há um certo desinteresse em relação a tudo e até ao próprio bebé», conclui.

 

Um filho é um teste ao casamento

 

Com a chegada do bebé, chegam os sorrisinhos, as perninhas rechonchudas que brilham no banho, mas também as responsabilidades, o cansaço, a falta de paciência, a rotina. «O nascimento de um filho é sempre uma crise no casal», afirma Tereza Paula.

 

«Crise no sentido em que é um fator externo que vem desestabilizar o casal. A ideia de que um filho pode salvar um casamento é a maior mentira que se pode dizer a alguém. Os casamentos que resistem ao nascimento dos filhos são relações que tendem a durar», esclarece.

 

A líbido vai adormecer

 

No meio de tanta coisa, é possível que o casal se ressinta neste aspeto, mas essa é uma situação que devem combater,  alerta a especialista. «É importante esforçarem-se por regressar à intimidade, mesmo que nem sempre sintam muita vontade, principalmente a mulher, que está mais cansada. A certa altura, pode ficar praticamente assexuada, com o pensamento focado no filho, portanto, é preciso ter consciência disso.
Lembrar-se de que, para além de mãe, continua a ser mulher», termina.

Texto: Paula Barroso com Alexandre Lourenço (consultor em ginecologista e obstetrícia no Hospital de Santa Maria) e Tereza Paula Gomes (assistente hospitalar de ginecologia-obstetrícia da maternidade Dr. Alfredo da Costa)