«O primeiro filho é, geralmente, esperado como um príncipe». Quem o diz é Otília Monteiro Fernandes, autora do livro Semelhanças e Diferenças entre Irmãos. Segundo a investigadora da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, quando o primeiro filho nasce merece dos pais tantos preparativos e expectativas que recebe todo o amor e atenção por um longo período de tempo, exclusividade que termina quando nasce um irmão.

Uma relação amor-ódio tem sido a definição apontada por diversos autores perante as frequentes zangas, ciúmes e rivalidade entre irmãos. Se o anúncio inesperado de que o pai «planta uma semente» na mãe pode significar uma grande alegria para uma criança, o contrário também pode acontecer, garantem os especialistas.

Sentimentos do irmão

«O nascimento de um segundo filho pode gerar sentimentos positivos e sentimentos negativos na criança, e estes podem por vezes ser muito impressionantes e crus», aponta o pedopsiquiatra Pedro Caldeira. Perante a possível ameaça de um irmão pequeno que vem destronar o seu lugar, a criança pode dar sinais de que sente a chegada de um bebé como uma verdadeira intrusão na sua vida. O também chefe de equipa da Unidade da Primeira Infância (UPI), do Departamento de Psiquiatria da Infância e Adolescência do Hospital de Dona Estefânia (HDE) assegura ser normal a ocorrência de sentimentos menos positivos nas crianças. «A criança pode não gostar de ser dividida, e os pais devem ter esta perspetiva», refere, por seu turno, Maria João Nascimento, Enfermeira Especialista em Saúde Mental e Psiquiátrica na UPI.

Se a maioria dos relatos dos pais indica que nem sempre se consegue o equilíbrio perfeito a cada nascimento de um filho, acaba por ser sempre um processo de aprendizagem para o casal. A psicóloga clínica da UPI Leonor Duarte alerta para a importância de os pais deixarem que as crianças expressem livremente os seus sentimentos. Na opinião da especialista, «há pouco espaço para as crianças expandirem a sua agressividade». A chegada de um irmão deve na maioria dos casos ser interpretada como um processo normal que vai provocar desequilíbrios naturais na vida das famílias que as levam a crescer, e não propriamente uma anunciada crise familiar.

Texto: Ana Margarida Marques

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