1. Não atrase a maternidade
Ao contrário do que se passa nos homens (que podem produzir espermatozoides continuamente ao longo da vida, depois da puberdade), as mulheres nascem com um número limitado de folículos ováricos (que darão origem aos ovócitos após a puberdade), que se vão perdendo desde o nascimento até à menopausa: ao nascimento existem 1-2 milhões de folículos, 75% dos quais se perderão até à puberdade (idade em que existirão apenas cerca de 300.000) e os restantes até à menopausa (pelos 50 anos).
O pico da fertilidade da mulher é, por isso, atingido entre os 20 e 30 anos de idade, com um declínio nítido a partir dos 35 anos e muito significativo depois dos 40.
Assim, a decisão (por motivos médicos, profissionais ou pessoais) de adiar a maternidade associa-se sempre a uma menor probabilidade de conseguir uma gravidez no futuro.
2. Se tiver mesmo de adiar uma gravide, considere a criopreservação de ovócitos
Companhias como a Apple, Facebook e Google decidiram oferecer às suas trabalhadoras a possibilidade de criopreservarem os seus ovócitos, no sentido de estas poderem planear a constituição das suas famílias sem o constrangimento do “relógio biológico”.
Se é certo que houve várias críticas a estas iniciativas, que poderiam sugerir a supremacia da atividade profissional à constituição de família, não é menos verdade que há outros motivos (que não os profissionais) que poderão levar ao adiamento da maternidade (motivos financeiros, médicos ou, simplesmente, a ausência do “parceiro certo”).
Seja qual for o motivo, a criopreservação de ovócitos (particularmente se realizada antes dos 35 anos) poderá ser uma forma de preservar o seu potencial reprodutivo até à idade em que pretender ter filhos. A utilização posterior desses ovócitos exigirá, naturalmente, uma técnica de Procriação Medicamente Assistida. De notar que, em Portugal, a idade limite para uma mulher recorrer a técnicas de Procriação Medicamente Assistida é de 50 anos.
3. Tenha um peso normal
A relação entre peso excessivo e obesidade e infertilidade (tanto masculina como feminina) está hoje bem documentada. Há inúmeros estudos que demonstram, de forma inequívoca, que o excesso de peso e obesidade no homem se associam a níveis mais baixos de testosterona e pior qualidade do esperma, com uma redução significativa do número e qualidade dos espermatozoides.
Na mulher, o excesso de peso e obesidade associam-se a diversos desequilíbrios hormonais que se traduzem em disfunção ovárica (maior incidência de ciclos sem ovulação), pior qualidade ovocitária, menor recetividade uterina à implantação do embrião e maior número de complicações durante a gravidez (nomeadamente abortamentos de repetição).
A boa notícia é que, tanto no homem como na mulher, a perda de peso e a obtenção de um peso saudável se associam a uma correção dos aspetos referidos e, por isso, a uma maior fertilidade.
4. Não fume
É sabido que o tabaco contém mais de 4000 substâncias tóxicas que afetam negativamente a saúde. Muitas destas danificam o ADN das células, causando mutações. Para além do risco significativamente acrescido de cancro (do pulmão, laringe, esófago, estômago, bexiga, etc) e doenças cardiovasculares, os fumadores têm também maior risco de infertilidade.
De facto, a taxa de infertilidade é aproximadamente 2 vezes maior em fumadores do que em não fumadores, sendo o risco tanto maior quanto maior o número de cigarros consumidos diariamente.
Os homens fumadores têm, em média, um número menor de espermatozoides e uma maior percentagem de espermatozoides morfologicamente anormais e com menor motilidade, logo, com menor capacidade fecundante.
Quanto às mulheres, o tabaco leva a uma pior qualidade dos ovócitos e menor reserva ovárica, pelo que a menopausa ocorre, em média, 1 a 4 anos antes do verificado em não fumadoras.
Também, a taxa de sucesso dos tratamentos de Procriação Medicamente Assistida, como a fertilização in vitro, em fumadoras é inferior ao verificado em não fumadoras da mesma idade, com menor número de ovócitos obtidos após estimulação e uma taxa de gravidez até 30% inferior.
Por outro lado, os filhos de mulheres fumadoras terão também a sua fertilidade diminuída, tanto no sexo masculino (com menor número de espermatozoides), como no sexo feminino (menor reserva ovárica).
Em conclusão, aceite o conselho: pela sua saúde (e, já agora, pela saúde dos seus filhos), pare de fumar.
5. Evite comportamentos sexuais de risco e doenças sexualmente transmissíveis
As doenças sexualmente transmissíveis (DST) são uma causa indiscutível de infertilidade, sobretudo feminina, que pode ser evitada.
Em particular, a infeção por Chlamydia ou gonorreia pode atingir o útero e trompas e desencadear uma doença inflamatória pélvica, cuja cicatrização poderá originar obstrução permanente das trompas e, consequentemente, infertilidade, obrigando mais tarde ao recurso a tratamento de fertilização in vitro.
Na mulher, estas duas DST podem não causar sintomas, ou dar origem a sintomas ligeiros, pelo que frequentemente não são tratadas atempadamente.
Assim, é muito importante a prática de sexo seguro com recurso ao preservativo, a realização de análises periódicas para rastreio de DST em homens e mulheres com vida sexual ativa e, perante uma suspeita de DST, o recurso rápido ao médico para confirmação/exclusão do diagnóstico e, se necessário, tratamento atempado da doença.
6. Evite o consumo de álcool ou beba com moderação
Em mulheres, o consumo moderado de álcool (até cerca de 12 gramas por dia, o que corresponde a aproximadamente 1 lata de cerveja, ou a 1 copo de 165 ml de vinho) não parece associar-se a menor fertilidade, ou a menor probabilidade de engravidar.
No entanto, acima da quantidade referida (em particular, consumos superiores a 115 gramas de álcool por semana, o que corresponde a menos de 2 latas de cerveja ou de 2 copos de vinho por dia) associam-se a um decréscimo significativo da fertilidade, resultando numa probabilidade quase 20% menor de engravidar.
Consumos elevados de álcool no homem associam-se igualmente a uma redução do número de espermatozoides.
Portanto, se quer engravidar, evite (ou reduza) a ingestão de bebidas alcoólicas e, já agora, se engravidar evite completamente a ingestão de álcool.
7. Consuma café com moderação
Os dados científicos disponíveis não são inteiramente concludentes sobre a influência da ingestão de cafeína na fertilidade feminina, mas a maioria dos estudos revela que o consumo diário inferior a 300 miligramas de cafeína (um café expresso contém entre 70 a 100 mg de cafeína) é provavelmente seguro, não afetando a probabilidade de engravidar.
Ou seja, se bebe até 3 cafés por dia, não tem, necessariamente, de alterar os seus hábitos.
A ingestão de quantidades superiores de cafeína poderá diminuir a sua fertilidade.
Sublinhe-se, no entanto, que não é só o café que contém cafeína, pelo que deverá fazer as contas corretamente. De facto, uma lata de coca-cola contém cerca de 35-40 miligramas de cafeína, as bebidas energéticas o dobro dessa quantidade, e o próprio chocolate negro contém cerca de 40 miligramas de cafeína por cada 100 gramas.
Em conclusão, recomenda-se que não exceda a ingestão de mais de 300 miligramas de cafeína por dia.
8. Tenha uma dieta saudável
A influência da dieta na fertilidade não se reduz exclusivamente à questão do peso.
De facto, a produção de ovócitos e espermatozoides de qualidade pode ser afetada por défices nutricionais.
Assim, é importante manter uma alimentação saudável e variada, tendo em atenção especial a ingestão adequada de alimentos ricos em ferro (não só carne e peixe, mas também vegetais, como espinafres, couve galega, etc), zinco (carne, marisco, leguminosas, sementes, nozes, etc), gorduras saudáveis (como as presentes no azeite e nos alimentos ricos em ómega-3, como a sardinha, cavala, salmão, sementes de linhaça, etc), ácido fólico (hortícolas, em especial de folha verde) e outras vitaminas (fruta e vegetais). Deverá igualmente reduzir a ingestão de açúcar e hidratos de carbono processados.
9. Mantenha uma atividade física regular e moderada
Os dados científicos disponíveis mostram que a atividade física regular e moderada pode melhorar a fertilidade feminina, seja qual o for o peso da mulher.
Os benefícios da atividade física regular e moderada em termos de fertilidade não parecem relacionar-se apenas com a sua influência na manutenção de um peso saudável, mas também com o equilíbrio hormonal, redução do stress, melhoria da qualidade do sono, entre outros fatores.
Nos homens, o exercício físico moderado parece também relacionar-se com melhoria da qualidade espermática (maior número e concentração de espermatozoides), provavelmente devida a um aumento natural dos níveis de testosterona.
Sublinhe-se que atividade física moderada não implica, necessariamente, idas ao ginásio, mas coisas tão simples como andar 30 minutos por dia (de preferência em passo rápido), dançar, andar de bicicleta, etc.
O exercício físico intensivo não está recomendado, salvo no caso de mulheres obesas.
De facto, nas mulheres obesas o exercício físico intensivo melhora a fertilidade, mas em todas as outras associa-se a maior incidência de infertilidade.
Também nos homens, o exercício físico intensivo/extremo parece associar-se a menor produção de espermatozoides e a níveis mais baixos de testosterona.
10. Se não conseguiu engravidar ao fim de 1 ano (ou ao fim de 6 meses se tem mais de 35 anos) consulte um especialista
Quanto mais tarde for iniciada a investigação sobre as causas de uma eventual infertilidade, mais tarde poderão iniciar-se os tratamentos.
Ora, havendo um decréscimo da fertilidade feminina com a idade, com maior repercussão depois dos 35 anos, atrasar uma consulta de Fertilidade pode comprometer o sucesso de uma eventual técnica de reprodução medicamente assistida que possa vir a estar indicada.
Ainda, atente a “sinais de alerta” que possam indiciar perturbação do normal funcionamento do sistema reprodutor feminino ou masculino, como antecedentes de ciclos menstruais muito irregulares, dores menstruais intensas, tratamentos oncológicos prévios ou disfunções sexuais.
Os conselhos são da médica Joana Mesquita Guimarães, especialista em Ginecologia e Obstetrícia e diretora da Clínica PROCRIAR, no Porto.
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