Uma família é um lugar quase mágico, em que tudo começa, em que encontramos os nossos primeiros modelos e em que nos reconhecemos. Apesar de ser na família que vivenciamos as nossas primeiras conquistas, é também na família que acabamos por viver os primeiros conflitos e decepções.

A verdade é que temos a ideia romanticamente errada, de que as famílias precisam de ser perfeitas, precisam de estar sempre em sintonia e que, regra geral, não entram em discórdias e conflitos. Esta ideia não só não é verdade, como perpetua o evitar do conflito para manter uma harmonia, que nem sempre é verdadeira. Quando se evitam pequenos conflitos, não fazemos com que eles deixem de existir dentro de uma família, apenas deixamos de dar espaço a que possam ser elaborados em tempo real e, quando o fazemos, eles acabam por ganhar proporções muito maiores no seio das famílias.

Nunca nos podemos esquecer, que uma família é composta por várias personalidades, várias histórias, várias vivências que se interligam e, por isso, as famílias se tornam tão únicas e tão imprevisíveis. Tudo isto faz com que uma família seja quase um laboratório de grande parte das nossas experiências sociais e relacionais que nos acompanham ao longo da vida, que modelam muitos dos nossos comportamentos, desta forma, é na família que se criam os nossos primeiros padrões que nos vão acompanhando pela vida fora.

É claro que dentro de cada família há sempre papéis que são esperados para cada pessoa, existem expectativas para cada um, há padrões que se repetem e comportamentos que são esperados. No entanto, não nos podemos esquecer do essencial que uma família deve ser, amor e aceitação, e para isso, cada elemento deve ser autêntico e verdadeiro, com os seus lados bons e os menos bons, porque é nessa incompletude que se formam famílias mais felizes.

No fundo, é na família que encontramos uma muralha que nos protege, nos segura e nos alavanca para os desafios do nosso crescimento e do nosso dia a dia, sem a segurança de uma família tudo se tornaria mais difícil. No entanto, ao mesmo tempo que esta muralha nos protege, por vezes - sem que desejemos - pode-nos aprisionar, fazendo-nos repetir padrões menos funcionais, fazendo-nos querer corresponder a expectativas e a sonhos que podem não ser os nossos. Por tudo isto, é importante termos consciência que as famílias são lugares de afeto, mas são desafiantes.

Uma família para ser saudável precisa de espaço para que cada um possa ser em toda a sua essência, para que o contraditório entre cada elemento de uma família possa existir e para que a pluralidade não seja um sinal de alerta na família.

Uma família, é feita de conflito, de conquistas, de sonhos, e de tantos outros ingredientes que cada um de nós possa acrescentar à sua família. Mas, não nos podemos esquecer que cada um de nós tem de dar o seu melhor, para que no final de tudo, aceite a sua família tal como ela é, e que o que conta mesmo, é o amor que têm uns pelos outros.

Um artigo das psicólogas clínicas Cátia Lopo e Sara Almeida, da Escola do Sentir.