A interação ou relacionamento interpessoal que estabelecemos com as pessoas que nos rodeiam envolve o “Pensamento Social”, competência que vamos desenvolvendo ao longo da vida e que diz respeito à capacidade de “pensarmos sobre os outros”.

 

O “Pensamento Social” é capacidade de considerarmos pensamentos, crenças, emoções, intenções, conhecimentos, nossos e dos outros, para nos ajudar a interpretar e responder às situações sociais. Estes pensamentos sobre os outros ajudam-nos a interpretá-los e a adaptarmo-nos a diferentes pessoas e contextos, de modo a que elas respondam da maneira que nós esperamos.

 

O bebé, a criança e mais tarde, o adulto, recorrem desta forma a uma importante capacidade comunicativa. Por exemplo, quando o adulto se esconde e surpreende o bebé ao dizer “cú-cú” e se demora um pouco mais a fazê-lo e o bebé espera já de seguida o que irá acontecer com base no que conhece e antecipa daquela pessoa e daquele jogo partilhado.

 

Mais tarde, quando enviamos uma mensagem a alguém em particular, quando “pensamos no outro” e nas suas reações às nossas ações, em situações mais ou menos familiares, estamos a recorrer a este processo cognitivo, cujo desenvolvimento se inicia nos primeiros tempos de vida, mas que se desenvolve geralmente de forma relativamente inata e intuitiva.

 

Se esta capacidade não estiver desenvolvida há um impacto negativo no modo como as pessoas se sentem à nossa volta e em como nós nos sentimos com elas. O “Pensamento Social” tem implicações, não apenas nas competências sociais, mas também na capacidade de trabalhar em grupo, e no desempenho académico.

 

Contudo, para algumas pessoas este processo parece não se desenvolver da mesma forma, conduzindo a dificuldades de comunicação e a “mal-entendidos”, na medida em que as alterações do desenvolvimento desta função, contrastam, em alguns casos, com um nível cognitivo e intelectual dentro, ou mesmo acima da média.

 

Podemos assim identificar diferentes situações, em que crianças, jovens e também adultos apresentam competências desenvolvidas, por exemplo ao nível do raciocínio dedutivo, em operações concretas como o cálculo matemático ou o raciocínio visuoespacial, mas apresentam défices em competências de comunicação básicas. Estas alterações observam-se, por exemplo, em pessoas com perturbações do desenvolvimento, nomeadamente com Síndrome de Asperger, em que não se verifica uma dificuldade intelectual.

 

As alterações neste domínio parecem assim estar relacionadas com funções específicas, por exemplo, com existência de défices ao nível das “funções executivas” relacionadas com a capacidade de integrar e coordenar, com eficácia, competências, cognições e diferentes formas de informação numa determinada ação.

 

As dificuldades ao nível do “Pensamento Social” relacionam-se ainda com uma menor flexibilidade cognitiva que nos permite desde cedo ter em conta “o outro” e a antecipação do seu comportamento e das suas caraterísticas. Frequentemente observam-se dificuldades específicas que permitem identificar este tipo de alterações, nomeadamente em tarefas e situações como a tomada de perspetiva do outro, a capacidade de seguir o olhar de alguém e também de antecipar a reação da outra pessoa a determinado comportamento ou situação.

 

Pela sua importante implicação na capacidade de adaptação às situações do dia-a-dia é muitas vezes necessário avaliar e intervir no domínio do “Pensamento Social” junto de crianças e jovens que apresentem estas dificuldades, por vezes ignoradas.

Ana Catarina Cunha – Psicóloga Clínica
ana.cunha@pin.com.pt
Ana Paris Leal – Terapeuta da Fala
ana.paris@pin.com.pt

 

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