Neste início de novo ano letivo a preocupação em recuperar os conteúdos programáticos que ficaram por dar, com o medo do prejuízo que estes dois últimos anos letivos interrompidos e híbridos poderão ter na formação de muitas crianças e jovens, contrasta com a insistência em repetir-se erros demasiado semelhantes aos anteriores.

Receia-se o impacto de ter omitido ou ensinado à pressa matérias importantes de disciplinas como matemática, português e história. Acelera-se o passo ainda mal as aulas começaram. E qual o impacto de não ajudarmos os mais pequenos a legendar de forma construtiva tudo o que está a acontecer e já aconteceu?

E qual a fatura de não ensinarmos às nossas crianças a dar nome às suas emoções? E de que forma as ajudamos a crescerem com afetos e competências sociais, promovendo o distanciamento físico, punindo a partilha de material escolar e exigindo o uso permanente de máscaras?

O Kit escola foi rápido a adaptar-se ao Covid-19: máscaras, desinfetantes, toalhitas, material escolar a dobrar. Infelizmente, ainda não se adaptou à pandemia anterior a esta, que está cada vez mais a descoberto: a pandemia da iliteracia emocional e da consequente doença psicológica.

Vejamos: qual o recurso mais importante para os mais pequenos aprenderem seja o que for? Atenção. Atenção de qualidade. Qual o recurso mais importante para tomarem decisões conscientes ao invés de comportamentos impulsivos? Atenção. E o que promove e sustenta essa atenção focada? A capacidade de treinar a atenção, reconhecendo distrações (internas e externas) e ultrapassando-as; o nível de bem-estar emocional e físico; o grau de autoconhecimento; a qualidade do autocuidado psicológico e físico.

Então, se queremos que os alunos tenham aprendizagens bem-sucedidas precisamos garantir que têm disponibilidade mental para prestar atenção e assim reter, integrar, compreender, memorizar e aplicar novos saberes. Precisamos de ajudá-los a construir a sua identidade para aprenderem a motivar-se.

Precisamos voltar a pô-los mais em contato com o papel, que estimula os sentidos e aumenta os níveis de concentração e criatividade. Precisamos convidá-los a descobrir livros impressos na biblioteca da escola. O foco é o recurso mais importante para tudo. O papel é o material que mais promove esse foco.

Assim, para crianças mais atentas e emocionalmente inteligentes, o Kit Escola necessita ter:

1 Baralho de emoções, com pelo menos 4 cartas: Alegria – Tristeza – Raiva – Medo. Assim, ao longo do dia os mais jovens podem ir tendo uma ajuda para reconhecer e nomear as suas emoções e emoções dos que estão à sua volta.

1 Flor e 1 Balão: quando a criança necessitar respirar mais profundamente pode usar a flor como auxílio, inspirando brevemente pelo nariz sentindo o seu cheiro e depois expirando muito mais ar pela boca, enche o balão, o que visualmente ajuda a notar que está a respirar bem. Inspirar pouco pelo nariz e expirar muito pela boca. É divertido e eficaz.

1 Pote da Calma: pequeno frasco preenchido com purpurinas, para ser usado sempre que a criança se sentir irritada, inquieta ou qualquer emoção mais intensa. Bastará agitar o frasco e respirar à medida que nota as purpurinas a assentar no fundo do pequeno recipiente, lembrando-se “tudo passa”

1 Bola “anti-stress” e 1 creme de mãos: quando a criança se sentir distraída, poderá apertar e desapertar a bola na mão e/ou passar um pouco de creme nas mãos, para que os seus sentidos sejam ativados e assim possa trazer-se mais ao momento presente e ao contexto onde está;

1 Espelho: para dizer a si mesmo em todos os momentos que for necessário que tem valor, que as coisas vão melhorar, que faz parte errar, que nunca vamos agradar a todos.

1 Cartão em jeito de Mural de Superações: a criança aqui pode anotar todos os erros e dificuldades que teve nesse dia, o que aprendeu e como superou.

1 Folha de papel para desenhar ou escrever o que lhe fizer sentido, a qualquer momento.

A Pandemia Covid-19 veio reconfirmar uma evidência: nada é permanente, tudo está em permanente mudança. E por entre tantas alterações na sociedade, no mercado de trabalho, no planeta, as escolas devem colocar as competências pessoais e emocionais no topo da sua prioridade; não só assegurar aprendizagens eficazes como garante pessoas preparadas para o futuro.

P.S. O que mais é preciso para os nossos currículos escolares serem atualizados e para a formação de formadores ser ajustada às necessidades atuais?

Um artigo de Filipa Jardim da Silva, Psicóloga Clínica, Coach e Autora (www.transformar.pt)