A publicação de livros infantis tem aumentado nos últimos anos, mas qual a importância das histórias para o desenvolvimento dos mais pequenos?

Muito antes de existirem os meios de diversão de hoje, as histórias infantis ocupavam um lugar de destaque nas famílias. Era através do hábito de contar histórias que as tradições passavam de geração em geração.

Hoje em dia, a vontade de partilhar e contar histórias parece ter regressado e são cada vez mais os ateliers de contos para crianças que existem por todo o país. Mas importa saber, afinal, qual o impacto das histórias no desenvolvimento infantil?

O poder da palavra

Uma história estimula várias áreas do ponto de vista cognitivo que são fundamentais para o bom desenvolvimento da personalidade da criança. Augusto Carreira, pedopsiquiatra, destaca dois aspetos importantes. «As histórias infantis têm um valor por si próprias, pelo que narram, pela temática da história em si e destacam-se num outro plano, que também é fundamental, e que tem a ver com a relação que se estabelece entre quem conta e quem ouve. São dois aspetos que se complementam e são essenciais».

Laços fortes

O pedopsiquiatra sublinha a importância da proximidade entre o ouvinte e o contador da história, uma vez que esta relação reforça laços de afetividade. «Habitualmente quem conta as histórias e começa por interessar as crianças são os pais ou os avós ou outras pessoas de referência mais velhas que despertam nos mais novos a curiosidade e o interesse pelos contos.

Isto significa que quando um adulto conta uma história à criança está a dedicar–lhe tempo e atenção, faz-lhe companhia. Esta proximidade que se cria entre criança e contador de histórias é, também, muito importante para o desenvolvimento da personalidade da criança», exemplifica.

Mensagens a reter

As temáticas das histórias infantis vão quase sempre ao encontro de alguns receios da infância, por exemplo, o abandono ou o medo do escuro. Na opinião de Augusto Carreira, estes temas «ajudam a criança a ultrapassar os seus próprios medos através das histórias, porque, quase sempre, há um final feliz».

«Este aspeto é muito importante para as crianças, porque depois de passarem por histórias terríveis, por momentos dificílimos, as personagens têm, na maioria das vezes, um final feliz. Isto dá, às crianças, um sinal de esperança. Apesar de no dia a dia existirem dificuldades o final poderá ser feliz», sublinha ainda este especialista.

As versões modificadas

As peripécias vividas pelas personagens das histórias infantis parecem, por vezes, não ser apropriadas para os mais novos, uma vez que focam temas muito tristes ou sérios para os mais pequenos.

Nestas alturas costuma surgir a dúvida. Deve contar-se uma versão politicamente correta?

Augusto Carreira é claro neste aspeto. «As histórias devem ser o mais genuíno possível respeitando aquilo que é a trama e a génese da própria história que foi transmitida ao longo de séculos e séculos.

As histórias tradicionais encerram séculos de narração e resultam naquilo que conhecemos. As versões politicamente corretas normalmente correspondem quase sempre mais aos receios e medos dos adultos de que a história possa traumatizar as crianças do que à necessidade de as crianças terem as histórias adulteradas».

4 boas razões para contar uma história ao seu filho

1. A relação com quem conta é fundamental no crescimento e formação da personalidade das crianças. Trata-se do contato que a criança estabelece com as suas figuras de referência, com quem a protege.

2. Os assuntos abordados nas histórias podem ajudar a ultrapassar os medos da infância.

3. Muitas vezes uma história pode ser o ponto de partida para outras atividades, como fazer desenhos sobre o tema da história, o que estimula o lado plástico e artístíco.

4. Ouvir uma história, folhear um livro fomenta o gosto pela leitura. Nas crianças mais novas é comum que tentem imitar o adulto a contar a história, folheando o livro, nas mais velhas estimula a sua vontade de aprender a ler.

Texto: Leonor Noronha com Augusto Carreira (pedopsiquiatra)