Proporcionam o contexto de ternura necessário para confortar, proteger, encorajar e oferecem uma espécie de “escudo” contra os momentos difíceis.

É através das relações que as crianças pequenas começam a desenvolver o seu bem-estar socio-emocional, que inclui a capacidade de constituir relações satisfatórias com os outros, de brincar, comunicar, aprender, enfrentar desafios e sentir emoções.

Para além disso, a promoção das relações é fundamental para o desenvolvimento da confiança, da empatia, da compaixão, da generosidade e da consciência.

O bem-estar socio-emocional é muitas vezes conhecido como a saúde mental da criança pelos profissionais dos cuidados infantis. Em suma, é a capacidade crescente de experimentar e controlar as emoções, constituir relações seguras e explorar e aprender – tudo no contexto da família, da comunidade e dos antecedentes culturais.

Prestação de cuidados responsável
Helena está a dar à sua filha de 8 meses, Joana, cereais. Joana agarra na colher e começa a comer sozinha. Helena quase retira a colher da mão da criança mas, em vez disso, aguarda para ver o que acontecerá em seguida.

A tentativa de Joana de comer sozinha é lenta e suja tudo em redor mas ela consegue levar algumas colheradas à boca. Helena percebe que Joana está realmente empenhada em comer sozinha mas nota também que a criança não está a comer muito. A solução? Helena pega noutra colher e oferece uma colherada de cereais a Joana para complementar os esforços da filha

O que Helena fez pode parecer simples mas pode ser muito complicado. Demora algum tempo a abrandar o ritmo e a olhar para, ou a observar, o que a criança está a fazer para perceber o que tal comportamento poderá significar.

Neste caso, Joana estava a dizer, "Hei, quero comer sozinha. Eu consigo!" Elaine teve de estar disposta a, e ser capaz de, dispor do tempo, aguentar a confusão e descobrir uma forma de responder às necessidades de Joana, quer em termos de alimento (nutrição do corpo), quer em termos de conseguir fazer algo novo (nutrição da mente).

Quantas vezes observa o que o seu filho está a fazer? Pode parecer uma pergunta idiota, com uma resposta do tipo, "Estou sempre a olhar para ele!" No entanto, muitas vezes estamos com as crianças sem de facto as observar.

Observar implica olhar para o que o seu filho está a fazer, ouvir o que ele está a dizer e aprender sobre a forma individual do seu filho abordar o mundo (é uma criança do tipo “vamos a isto” ou uma criança mais “calma”; é “altamente reactivo” mostrando-lhe como se sente no momento, ou é “pouco reactivo” mantendo-se tranquilo, etc.).

Dispor de tempo para se sentar e efectivamente observar o que as crianças fazem pode ser muito instrutivo. Dá-nos pistas sobre o que faz reagir a criança.

Estas pistas permitem-nos ter opiniões mais informadas sobre a forma como a criança se comporta, e ajudam-nos como pais e educadores a responder de uma forma que seja produtiva e apoie o desenvolvimento da criança. Quando as crianças se sentem correspondidas e compreendidas, desenvolvem a confiança e uma boa auto-estima.

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Seja afectuosa e incentivadora
Sónia retira o pequeno João da banheira. "Cheiras tão bem! Mas que lindo bebé!" diz-lhe enquanto o embrulha numa toalha quente e macia e o abraça. João balbucia com prazer e depois aninha-se nos braços da mãe.

A hora do banho é tão divertida — em mais nenhum lado é possível espalhar água e brincar num lado cheio de brinquedos e com a atenção inteiramente dedicada a si! João adora a hora do banho, onde se diverte imenso a brincar e a mãe o protege e o limpa. Ele sabe que está seguro e que é especial para esta pessoa em quem ele confia tanto.

A visão de um bebé rechonchudo faz-nos sorrir, palrar e brincar para conseguirmos arrancar aquele magnífico sorriso do bebé.

Os sentimentos de afecto podem ser mais difíceis de despertar durante crises de choro prolongadas ou birras—mas felizmente, a maior parte dos pais consegue encontrar os seus sentimentos de afecto e protecção dos seus pequenotes mesmo durante os momentos mais complicados.

Tocar, segurar, confortar, embalar, cantar e falar são actos que poderão parecer a forma mais natural de brincar com o bebé ou acalmar uma criança perturbada. Mas estas interacções são mais do que isso – proporcionam exactamente o estímulo que o seu cérebro em crescimento necessita.

As carícias afectuosas e as palavras de incentivo dizem ao seu bebé que ele é especial. E quando o bebé se sente amado por ser quem é, aprende também a amar os outros da mesma forma.

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Ajude o seu filho a aprender a resolver os conflitos de uma forma saudável e adequada
Tiago e Bernardo, ambos com 2 anos, adoram a zona dos brinquedos do infantário. Tiago pega num livro sobre dinossauros. Quando Bernardo vê este livro interessante, não se consegue conter – também o quer! Então arranca-o das mãos de Tiago.

Uma batalha começa a tomar forma, com gritos de "É meu!", "Não! É meu!" e algumas lágrimas de permeio. A educadora intervém para ajudar os meninos. "Bernardo, eu sei que gostas do livro dos dinossauros e que estás triste, mas o Tiago e já estava a brincar com ele e quando lho tiraste ele chorou. E se o lêssemos em conjunto? Eu seguro no livro, o Tiago pode virar as páginas e tu podes fazer o rugido do dinossauro quando chegarmos a essa página!"

Por volta desta idade, as crianças de 1-2 anos começam a desenvolver o sentido do “eu” e partilhar pode ser particularmente difícil.

A criança sabe o que quer e quando o quer, mas o seu cérebro ainda não consegue apreender totalmente os sentimentos ou pontos de vista das outras pessoas. Além disso, o auto-controlo está agora a começar a desenvolver-se.

Embora as crianças de 1-2 anos possam compreender o que diz quando lhe pede para não tirar algo da mão de outros, é-lhes difícil não agir de acordo com os seus impulsos. Pense como é difícil para si, um adulto maduro, evitar comer os tão desejados chocolates assim que decide entrar em dieta.

O controlo dos impulsos no adulto é testado pontualmente; nas crianças, este teste surge várias vezes por dia. A capacidade de exercer um maior auto-controlo vem com o tempo, o amadurecimento do cérebro, a prática e com a ajuda de adultos afectuosos.

Ao ajudar crianças pequenas a identificar os seus sentimentos e ao mostrar-lhes, e praticar, como podem controlar os seus impulsos, irá ajudá-las a conseguir fazê-lo de forma independente ao longo da vida. E isso ajuda-as também a aprender a resolver conflitos de forma independente.

Em seguida apresentamos algumas formas de ajudar as crianças a controlar os seus impulsos e a resolver conflitos

- Proporcione uma boa, e vasta, orientação e inicie jogos de partilha e de dar a vez.

- Compreenda que as crianças de 1-2 anos estão menos dispostas a obedecer quando estão cansadas ou não se sentem bem.

- Utilize elementos de distracção, ou de re-direccionamento, para acalmar e evitar disputas.

- Tenha um comportamento social positivo e uma atitude de partilha nas suas interacções diárias com as crianças e os pais.

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Apoie as capacidades de desenvolvimento do seu filho
O Jorge, de 5 meses, está deitado de barriga para baixo no chão, em casa. Estica-se na manta onde está deitado para chegar ao seu patinho de borracha. Mas o brinquedo não está ao seu alcance.

O pai começa por pegar no brinquedo para o dar a Jorge mas ao aperceber-se de que o Jorge não está muito agitado, decide esperar um pouco. O Jorge está determinado a chegar ao patinho! Estica novamente a mão e, desta vez, quase que lhe toca.

O pai dá um ligeiro empurrão ao patinho para ajudar um pouco Jorge. Mais um esforço e...Jorge conseguiu! Jorge agarra no patinho e alegremente começa a brincar com ele.

O pai do Jorge faz algo que muitos especialistas em desenvolvimento infantil chamam "scaffolding." O “scaffolding” ocorre quando segue a indicação da criança e dá o apoio suficiente para que a criança passe para o nível seguinte sem se sentir frustrada.

O pai do Jorge podia ter dado o patinho ao filho, mas parou, observou e pensou naquilo que o Jorge estava a fazer. O Jorge estava a experimentar os seus músculos e a ver o que conseguia fazer.

Estava também a aprender sobre o que necessitaria fazer para obter algo que queria. O pai do Jorge percebeu que podia deixar o Jorge explorar a situação e depois prestar apenas a ajuda necessária para que Jorge pudesse sentir o sucesso de utilizar as suas novas capacidades de se esticar e agarrar algo.

Ajudar os bebés a aprender desta forma permite-lhes explorar aquilo que são capazes de fazer e demonstra-lhes também que está presente para apoiar os seus esforços.

Ajude o seu filho a sentir a alegria de "dar e receber" nas relações
"Olá minha linda!" diz o pai enquanto sorri para a sua filha de 3 meses. A bebé olha intensamente para o pai e sorri. O pai faz caretas e sorri, levando a bebé dá uma pequena gargalhada. O pai ri em troca e continuam a fazer caretas um ao outro.

A bebé está a aprender muito com um jogo divertido que parece muito simples: "Olha, este é o pai! Ele faz-me sentir bem quando brinca comigo. Quando sorri para mim, dá-me vontade de sorrir também. Tenho a certeza de que ele me acha divertida."

A pequera Teresa está a aprender que os outros gostam dela, gostam de estar com ela e compreendem as suas necessidades. Está também a começar a compreender que as suas acções afectam os sentimentos e as acções das outras pessoas. Neste caso, o que Teresa faz torna as outras pessoas felizes.

Pode também conseguir que uma pessoa continue a brincar com ela. A seu tempo, à medida que for experimentando outras relações satisfatórias, Teresa aprenderá que se sente bem quando faz com que os outros se sintam bem. Isto ajudará Teresa a criar relações saudáveis e a ter uma ideia positiva de si própria, à medida que for crescendo.

Aprender sobre a reciprocidade das relações irá ajudá-la a preparar-se para, mais tarde, brincar com outras crianças e partilhar. Mas a ideia de partilha não será fácil de entender para Teresa. Só mais tarde, por volta dos 3 anos. Teresa está também a aprender a reconhecer os seus sentimentos e a pensar nos sentimentos das outras pessoas.

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Ajude o seu filho a sentir-se seguro
João, de 18 meses, estava a passear com o pai quando se assustou com o ladrar do cão do vizinho, através da vedação. "Então, parceiro, o que se passa? O Champy está a fazer muito barulho?"

João correu de volta para o pai que lhe pegou ao colo e o abraçou. "O Champy também me assustou. Acho que ele hoje está um pouco rabugento."

O João está a aprender que quando se sente em dúvida e assustado, pode contar com as outras pessoas – como o pai— para o ajudar. A resposta sensível do pai contribui também para o sentimento crescente de segurança e confiança de João.

Mostre ao seu filho que ele faz parte de uma rede alargada de afectos e relações
Está a ser um dia complicado. A máquina de lavar loiça vazou, é preciso terminar o teste para a aula de amanhã e Lisa dormiu apenas 2 horas esta noite. A sua filha de 2 meses, Dina, tem tido cólicas e passou a noite a acordar.

"Acho que vou estoirar—não consigo fazer tudo," lamenta-se Lisa ao telefone com a sua amiga Carolina. "Já passei por isso," diz Carolina, "Agora vais para a cama e descansas quando deitares a Dina para a sesta. Eu passo por aí esta tarde e tomo conta da menina enquanto preparas o teste."

Embora Callie possa pensar que está apenas a ajudar a amiga a resolver um dia complicado, está de facto a ajudar Dina, também. Todos nos sentimos “nas lonas” de vez em quando. Tomar conta de crianças pode ser incrivelmente divertido e gratificante mas pode também ser muito cansativo.

É importante ter outras pessoas e locais com os quais possamos contar quando é necessária ajuda, quer seja física, emocional ou financeira. Quando é dado apoio e incentivo às pessoas que tratam de crianças, estas ficam mais aptas a ser pais mais responsáveis e carinhosos.

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Promova o respeito pela diferença
Ana tem quase três anos e está a brincar no parque com a mãe. Olha para outra criança, Bia, que se dirige para o parque infantil. Bia tem espinha bífida e utiliza um aparelho nas pernas para a ajudar a andar.

"O que é isso?" diz Ana em voz alta. "As pernas dela são diferentes!" A mãe de Ana fica envergonhada, "Ana, isso não se diz!" A mãe de Bia está habituada a estes comentários e olha para ambas.

Ao princípio, estes comentários magoavam-na mas depois começou a perceber a curiosidade dos outros – especialmente de uma criança da idade da sua filha. Era uma oportunidade de educar e explicar o que se passava com a sua linda menina.

"Esta é a Bia. Ela tem este aparelho especial para a ajudar a andar. A cor favorita da Bia é o cor-de-rosa e então ela quis um aparelho cor-de-rosa. E ela também gosta muito de bonecos de peluche. Qual é a tua cor favorita?"

Ana é rapidamente cativada por esta nova amiga que adora cor-de-rosa e bonecos de peluche, tal como ela, "Eu tenho um pijama cor-de-rosa!" A mãe de Ana consegue ultrapassar a sua vergonha e toma parte na conversa e as mães orientam as meninas para falar de coisas que ambas gostam de fazer. As meninas começam a brincar na areia—e o aparelho e as mães ficam logo para trás!

Situações como esta podem ser difíceis para as partes envolvidas. As crianças pequenas não estão inibidas pelas regras da etiqueta social e demonstram naturalmente a sua curiosidade sobre as diferenças de tom de pele, tamanho e peso e capacidades físicas que observam.

Os adultos têm um papel significativo ao ajudar as crianças a apreciar as diferenças e a tirar partido das semelhanças. As crianças aprendem também a respeitar os outros quando este comportamento é demonstrado pelos adultos presentes na sua vida. Assim, podem crescer sabendo que cada pessoa é única e merecedora de respeito.

Promova o apreço pela sua própria cultura e pela cultura dos outros
Joana é nova no grupo de crianças e pais da vizinhança. Traz consigo o pequeno André, de 1 ano e senta-o no seu colo enquanto fala com ele em Espanhol e ouve as outras mães a falar das suas vidas com as suas crianças. Vê as crianças a brincar no chão.

Uma das crianças está a lanchar, sentado sozinho. Uma mãe conta como tem sido difícil habituar a filha a adormecer sozinha. Joana pensa na forma como foi criada—como a família valorizava o acto de ajudar as crianças e não necessariamente forçá-las a fazer as coisas sozinhas tão rápido—como dormir ou comer.

Joana começa a pensar sobre como e o que ensina ao seu filho em casa e como as coisas poderão ser diferentes quando ele for para o infantário.

Ela sabia que os problemas da língua iriam surgir, mas agora estas outras questões fazem-na perceber que a cultura implica muito mais. Questiona-se sobre a forma como o seu filho se irá adaptar às diferenças que irá encontrar entre a sua casa e fora de casa.

A cultura dos pais influencia grandemente a forma como a família demonstra os afectos, o carinho e também como lida com as situações. A cultura afecta também o desenvolvimento socio-emocional em muitas outras formas – e ambos se reflectem nas rotinas diárias da criança durante os primeiros anos de vida.

Uma vez que estes valores e crenças afectam os aspectos mais básicos do cuidar da criança, incluindo pegar-lhe, dar banho, alimentar, adormecer, vestir, mudar a fralda e tratar da higiene, é importante discutir estas crenças com os educadores do seu filho.

As diferenças culturais afectam também as decisões sobre quando a criança deverá começar a ser mais independente, como a criança deverá expressar os seus sentimentos e como e quando os adultos deverão falar com os bebés e com as crianças.

Ter um filho poderá fazer muitos pais reflectir sobre os seus próprios valores e crenças pela primeira vez. Os pais e os educadores da criança podem aprender sobre as crenças uns dos outros relativamente a estas questões e poderão decidir em conjunto como proceder, tendo em consideração as suas próprias expectativas e desejos para a criança, as necessidades da criança, a informação sobre o desenvolvimento e as informações prestadas pelos educadores.