Longe vão os tempos em que o bebé, a criança, não existia, era uma criatura que não pensava, sem mente, nem emoções próprias, “gente pequena”, obrigados a trabalhar até ao limite da sua resistência, ou era um ser essencialmente passivo, centrado na sua atividade alimentar e recebendo tudo do meio envolvente, o lactente, algo puramente funcional.
O bebé e a criança são “invenções” recentes. Ter filhos envolve um investimento cada vez maior em várias dimensões: financeira, temporal, emocional, social e ao nível das expectativas de desempenho parental, pelo que o número de crianças por família reduziu e a criança passou a ser vista como “sua majestade, o bebé”, pequena maravilha, criança-brinquedo, cuja vocação e destino será satisfazer os pais.
Ajudar o bebé a tornar-se pessoa
Logo que o bebé nasce, somos chamados a atender às suas necessidades essenciais. Bernard Golse, pediatra, pedopsiquiatra e psicanalista, refere que «o bebé em si mesmo é um mundo» e que cabe aos pais ajudar a que o encontro entre o mundo do bebé e o mundo cheio de sensações que ele descobre à nascença seja possível e frutuoso, isto é, temos de ajudar o bebé a construir-se e a tornar-se pessoa. Para tal precisamos de compreender melhor o seu mundo, para protegê-lo de riscos de uma sociedade capaz de «produzir objetos supérfluos e precários» e de os tornar indivíduos «inúteis e frágeis», ou, nas palavras de Ilana Novinsky, antropóloga e psicanalista, «indivíduos avulso», cuja falta de sentido existencial os deixa suscetíveis a ideologias englobalizantes num mundo solitário.
Texto de Teresa Abreu Com edição de Ana Margarida Marques
Autores consultados Eliane Faria, Psicanalista; Bernard Golse, Pediatra, Pedopsiquiatra e Psicanalista; Ilana Novinsky, Antropóloga e Psicanalista; Francoise Dolto, Médica e Psicanalista.
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