Ainda me lembro pormenorizadamente do meu primeiro dia de férias, depois de ter começado a trabalhar. Com 21 anos, jovem e otimista, tinha passado 12 meses a experimentar a profissão que me acompanharia pela vida fora e tive, finalmente, direito a gozar um curto e merecido descanso. Naquele dia, ao aviso da hora de saída, entrei no meu carro e subi a Avenida do Restelo, sentindo a brisa fresca que entrava pela janela e que me fazia soltar um sorriso enorme de gratidão. Eu ia, então, ter uma semana de férias só para mim. Ia dormir até tarde, ia viajar, ia divertir-me com os meus amigos, ia tratar de pendentes que se arrastavam na secretária de casa e ainda ia, claro está, pensar em tudo menos em trabalho.
E foi precisamente isto que se passou em todas as férias da minha vida.
Até que fui mãe. De uma menina, depois de outra, mais tarde de dois rapazes. E depressa concluí que as férias nunca mais seriam iguais. Obviamente que me continuou a saber pela vida ter uns dias longe dos afazeres profissionais, mas confesso - qual mãe cretina - que houve muitos dias em que me apeteceu largar o aparente conforto para me enfiar novamente no meio dos telefonemas e das propostas burocráticas. Porque, em vez de descanso, as minhas férias acabavam por me dar mais trabalho que um concurso público.
Hoje, os meus filhos já estão (mais) crescidos. Com 14, 13 e 10 anos, exigem-me uma disponibilidade totalmente diferente da que era necessária há meia década. Já não fazem birras por ‘só’ termos ficado quatro horas num parque, já não se enfiam na cozinha a fazer baterias com todas as frigideiras e panelas, já não me obrigam a malabarismos para adormecer os mais novos enquanto as mais velhas se deliciam com as músicas da Floribella. Tudo se tornou, de alguma forma, mais fácil.
Mas, então, chegam as tão desejadas férias e, com elas, a total permanência dos meus filhos em casa. Sem horários, sem grandes obrigações escolares, sem as regras apertadas do resto do ano. “Uma maravilha”, poderão pensar as pessoas sem filhos ou aquelas que, tendo-os, serão claramente dotadas de uma clarividência maternal que eu não herdei.
Porque as férias passaram a ser um frigorífico que parece esvaziar-se uma hora depois de eu ter chegado das compras. E corpos que não largam os pijamas até que eu lhes grite a palavra ‘banho’. E compromissos que me obrigam a ser uma verdadeira taxista, dividindo-me entre os almoços que uma das miúdas marca com amigos, os cinemas que a outra agenda com a turma e os eternos jogos de futebol dos mais novos (como raio é que há torneios de dia inteiro numa sexta-feira santa?). Ah, e as férias passaram também a ser uma sala onde, de repente, aparecem colegas e vizinhos para jogar Minecraft e Fifa. Assim, muito lindo, animado e divertido, durante 15 dias. E vezes quatro.
As férias ainda agora começaram e, todos os santos dias, os meus filhos vivem com ansiedade o hoje e o amanhã. “Hoje podemos ir ao campo de futebol? E amanhã o Tiago pode cá vir passar o dia?”. “Hoje posso ir com as minhas amigas ao centro comercial? E achas que amanhã posso ir a casa da Leonor?”. “Hoje fazes um bolo de chocolate? E amanhã fazes o fondue que provei no Natal?”.
Estamos, então, a viver as boas e maravilhosas férias. Juntos, felizes, divertidos. E, eu, já cansada. Mas também otimista e decidida a aproveitar o mais possível este tempo com os miúdos - um tempo que (e escrevo-o com um sorriso sarcástico nos lábios!) dura só mais 10 dias).
[até porque o verdadeiro otimismo aparece quando me lembro que, ao contrário das férias da Páscoa, as próximas durarão um pouco mais. Uns singelos 92 dias, que se convertem numas maravilhosas 2.208 horas. Vezes quatro!]
Alda Benamor
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