O sonho de Vanessa é poder um dia ter uma casa onde coubessem todos os que lhe são queridos. Venha conhecer melhor esta mãe de coração!
Há quanto tempo estás com o João, o pai do teu filho?
V.O.: Treze anos! Estivemos um ano separados, mas depois voltámos mais seguros um do outro...eu falo disso no livro. Quis contar como foi a surpresa que fizemos no Natal e 2012 à minha família e à dele – e a minha sogra é uma das mães de coração a quem eu dedico o livro – porque foi uma felicidade muito grande, e eu e a minha cunhada estivemos grávidas ao mesmo tempo. Até aos nossos bebés nascerem, eram só meninas, cinco filhos e quatro netas. A minha família é muito mais pequena do que a do João e não havia uma criança na família desde a minha irmã.
E já faziam alguma pressão?
V.O.: Um horror de pressão! Então a reacção foi muito emocionada, foi uma choradeira pegada, toda a gente a chorar agarrada a mim, agarrada ao João, depois eu tinha mandado o João gravar e o João: “Eu estava a sentir-me super ridículo com a câmara na mão”, foi muito engraçado, mas muito emocionante. Depois enjoei o bacalhau e não comi! Eu, que andava a pedir bacalhau há dias! As minhas sobrinhas gémeas, que têm 1metro e 80, e pegaram-me logo ao colo, aos gritos, foi uma festa!
E a gora o teu filho tem um primo da mesma idade, brincam muito?
V.O.: Eles estão na mesma creche, aliás a minha cunhada é educadora do João o que é óptimo! Nós estamos sempre todos juntos, sempre.
Ao fim ao cabo compensa o tamanho da família ser ainda pequeno, não é?
V.O.: Exactamente!
Em termos de valores, de referências, para a tua vida, para a pessoa que tu és, o que é que tu pensas que veio dos teus avós?
V.O.: Veio tudo: a lealdade, o ser correcto sempre com toda a gente... Há uma história que eu não escrevi no livro, já na adolescência. Lembras-te dumas revistas que eram só posters? Eu adorava aquilo, e houve um dia que fui ao quiosque comprar a revista e a senhora, sem querer, dobrou duas revistas numa só. Quando cheguei a casa é que percebi que tinha pago uma revista mas que tinha ficado com duas...eu fiquei histérica! E a minha avó diz-me: “Nem pensar nisso, tu vais já lá abaixo e vais devolver a revista que não pagaste. Isso não se faz, é muito feio. Sei que tu não fizeste por mal porque tu não viste que vinham duas revistas, mas agora estás a ver, portanto não podes ficar com as duas revistas!” Eu nunca mais me esqueci disto percebes? E ela não se chateou comigo, só me explicou que eu não podia fazer aquilo e agora não há ocasião nenhuma em que me dêem um troco errado que eu não o diga, e que fique com o troco. Também herdei a teimosia da minha avó e o mau feitio...são coisas que não evitas. Mas pensando agora na minha vida profissional, há coisas que aprendi com eles. Por exemplo, eu odiava matemática desde a primária. O meu avô dizia: “Filha tu tens de ser boa naquilo que fazes, e isto é o teu trabalho. Quando um dia mais tarde tiveres um trabalho a sério, tens de ser assim - mesmo que tu não gostes muito do que estás a fazer.”
Deu-te a noção do sacrifício por um motivo, por uma causa!
V.O.: Sem dúvida. E ser leal sempre foi importante para os meus avós, são assim com toda a gente.
O teu avô já faleceu há muitos anos?
V.O.: A 28 de julho de 2009. Eu estava a fazer a SIC Ao Vivo e soube que ele estava muito mal a meia hora de entrar no ar mas tive de fazer as três horas em directo, foi das piores coisas que eu passei na vida. Vim para Lisboa depois do programa, e quando cheguei ele estava a dormir. Falámos com os médicos o meu pai sugeriu que fossemos jantar ali por perto. Depois ligaram a dizer que ele tinha morrido...ele estava só à minha espera para poder ir, tenho a certeza.
E as saudades continuam a ser muitas, claro?
V.O.: Isto pode ser um bocadinho cobarde, mas é a minha maneira de encarar as coisas: na minha cabeça ele foi viajar e não está cá.
RC: E foi muito amado enquanto estava cá.
V.O.: Sim, sim! Os meus avós tiveram 58 anos de casamento. Eu vivi com ele a vida toda e assim como ele tratou de mim enquanto eu era pequenina eu tratei dele já no fim. Temos de ter a noção de que os nossos velhos não são velhos dos outros, são nossos. Eu morro de medo de agulhas, mas até agulhas na barriga tive de lhe espetar para lhe dar medicamentos em casa. Pensas que me fazia alguma confusão? Zero!
E como é que têm sido estes últimos seis anos da tua avó?
V.O.: Muito tristes. Não é que a minha avó esteja sozinha, a minha tia e o meu tio vivem com ela porque a casa é muito grande e é mais prático assim. Por isso, sozinha não está nem vai estar, só por cima do meu cadáver! Se a minha tia algum dia tiver de sair de lá, a minha avó vai para minha casa. A solidão dela é a solidão de não ter o marido ao lado. Tem uma cabeça que não está adequada ao corpo dela – e também falo sobre isso no livro, o problema da obesidade – mas com 85 anos ela ainda acha que vai fazer tudo, que vai arrumar o sótão e que vai viajar, vai renovar a carta!
Não é de se resignar com coisa nenhuma.
V.O.: Não, só tem uma tristeza enorme pela perda do meu avô, porque foi um amor de muitos anos.
RC: E como é ela enquanto bisavó do André?
V.O.: O André adora-a! Só não gosta de estar ao colo de ninguém, e ela fica triste mas entende porque ele é assim com todos. Ela tem pena de não poder mexer-se tão bem para andar atrás dele, por isso quando está sentada no cadeirão dela eu ponho os carrinhos à frente e ele brinca e ela vai interagindo. Chama-lhe Vóvo porque é duas vezes Vó!
RC: E os teus pais que tipo de avós é que se tornaram?
V.O.: Eu só compreendi uma data de coisas da minha mãe, de atitudes que a minha mãe teve principalmente na minha adolescência. Por isso, acho que só vou perceber os avós que estragam os netos com mimos quando for avó. É que fico irritada com coisas que fazem , por exemplo: o André dorme muito bem, pede para ir para a cama nove e dorme até às nove da manhã. Mas a minha mãe e a minha sogra ficam sempre lá no quarto à espera que ele adormeça, quando eu não quero que ele se habitue a ter pessoas no quarto. São os avós que fazem tudo aquilo que estraga!
Mas teres a tua sogra por perto facilita.
V.O.: Sem dúvida, durante a semana se o João não pode ir buscá-lo vai a minha sogra e fica com ele. E ele adora os avós mesmo, chora e ri de felicidade quando os vê!
Foi uma vida nova para os avós, para os teus pais principalmente?
V.O.: Então para os meus pais foi inacreditável!
Pensando agora na situação dos velhos em Portugal, porque é que tu pensas que nós chegámos ao ponto a que chegámos?
V.O.: Eu não te consigo dizer porque é tão ridículo na minha cabeça, vou-te dar um exemplo na minha casa jamais em tempo algum os meus avós ou os meus pais ou a minha tia vão ficar sozinhos, e sei que o João nunca deixaria os dele. Não concebo ver velhos abandonados em hospitais, e num lar só precisares de cuidados de enfermagem continuados. Esta é a única razão pela qual eu mandarei um dos meus velhos para um lar.
Mas se há cada vez mais famílias desestruturadas, com tanta separação, com tanto abandono...
V.O.: Escuta: eu nunca digo «nunca», e espero ficar com o meu marido para o resto da minha vida. Mas se eu um dia me separar do João e o odiar, (que eu não acredito que aconteça) se algum dia a mãe do João ou o pai do João precisarem de ajuda, tu achas que eu me vou negar? Jamais, em tempo algum! Eu tinha vinte anos quando entrei naquela casa e também eu era adolescente, por isso eles também me ajudaram a crescer. Deus queira que eu possa ter um dia uma casa grande que é para lá ficarem todos. Há um terreno enorme em frente à minha casa e se um dia eu ganhar o Euromilhões vou mandar fazer casas para nós todos ali. A minha avó fica comigo! Mas se eu só puder ter uma casa que tenha um quarto para os meus pais e um quarto para os meus sogros e outros para os meus filhos já fico contente.
Filhos no plural?
V.O.: Ah sim, eu quero ter três! Primeiro, porque estou a contribuir para a natalidade, depois porque também tenho de ter alguém que cuide de mim quando eu for mais velha. Eu seria muito triste se não tivesse a minha irmã, e se eu tivesse tido mais irmãos não me importava nada. Resumindo, tenho muito orgulho naquilo que a minha família construiu: bases sólidas para eu conseguir dar os primeiros passos, e daqui para a frente o que eu construir será porque eles fazem parte da rectaguarda. E ainda no capítulo das surpresas, que eles adora, fizemos uma que não contei no livro: um “Querido mudei a casa” para a minha avó! Mandei-a quatro dias para Santo André, e quando voltaram os meus pais não a levaram para casa porque ainda estavam a terminar as coisas. Ela começou a ficar nervosa a achar que lhe tinham assaltado a casa, e então a minha mãe depois contou-me que acabou por lhe explicar que tinham chamado os «queridos» mas não lhe ia dizer o que era. Quando o Gustavo foi á casa dos meus pais tipo ela faz logo o brilharete e diz:”Você é o Gustavo do Querido!” Foi uma bela surpresa que lhe preparámos... Somos muito uns para os outros e eu acho que isso é que é importante.
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