Maria Schneider em “O último tango em Paris”

Corria o ano de 1972 quando uma Maria Schneider, de 19 anos, desempenhava pela primeira vez um grande papel no filme erótico “O último tango em Paris”, tendo como coprotagonista o veterano Marlon Brando, de 48 anos.

Em 2007, a atriz confessou, em entrevista ao Daily Mail, a humilhação que sentiu ao filmar uma das cenas mais famosas da história do cinema e como essa situação a atormentou no resto da sua vida. Maria Schneider chegou a afirmar que a única coisa que se arrepende na vida foi ter aceitado esse papel.

“Só me avisaram antes de filmarmos e eu fiquei tão zangada. Devia ter ligado ao meu agente ou ter chamado o meu advogado, porque não se pode forçar alguém a fazer algo que não está no guião mas, naquela altura, eu não sabia isso”.

A famosa cena de violação, com a ajuda de manteiga, não estava no guião original e numa entrevista de Bertolucci para a Cinemateca Francesa, em 2013, mas só colocada online no final de 2016, o realizador assumiu que a ideia partiu de si e de Brando. “A sequência da manteiga foi uma ideia que tive com o Marlon na manhã antes da filmagem”, confessou acrescentando que “não queria que a Maria interpretasse a sua humilhação e raiva, queria que a Maria sentisse a raiva e a humilhação. E depois ela odiou-me para o resto da sua vida”.

Ódio que a atriz confirmou na entrevista de 2007. Apesar de Marlon Brando ter tentado tranquilizá-la em relação à cena em questão a verdade é que a atriz confessou que se sentiu “humilhada e, para ser honesta, um pouco violada, tanto por Marlon como por Bertolucci. Depois da cena, Marlon não me consolou nem pediu desculpa. Felizmente, foi só um take”, não poupando críticas a Bertolucci.

“Ele era gordo, pegajoso e muito manipulador, tanto em relação a Marlon como a mim”, assumiu. “Mais tarde, o Marlon disse-me que se sentiu manipulado, e ele era o Marlon Brando, portanto pode imaginar como eu me senti”, concluiu.

O próprio ator chegou a declarar, em 1973, à Newsweek que “se sentia completamente e interiormente violado por ele [Bertolucci] e que jamais faria outro filme como aquele”.

A discussão explodiu nas redes sociais. “Para todas as pessoas que amam este filme – vocês estão a ver uma rapariga de 19 anos a ser violada por um homem de 48. O realizador planeou este ataque. Sinto-me enojada”, reagiu Jessica Chastain. Já o ator Chris Evans não poupou nas críticas: “Não fazia ideia. Também me sentiria enraivecido. Eles deviam estar na prisão". Anna Kendrick confessou que “Schneider falou disto há alguns anos. Eu costumava levar com revirares de olhos sempre que falava deste tema com outras pessoas ("aka" com rapazes) e Evan Rachel Wood, que recentemente confessou ter sido vítima de violação, partilhou que “isto é de partir o coração e uma afronta. Os dois são pessoas muito doentias para pensarem que aquilo que fizeram não tinha qualquer problema”.

Em Portugal, Miguel Esteves Cardoso foi da opinião que “se Maria Schneider se sentiu violada, foi violada. A manteiga não interessa nada. Tudo o que os outros dizem, incluindo eu, não é minimamente importante. O cabrão aqui é o Bertolucci, que pegou nas suas fantasias nojentas e abusou dela e de Marlon Brando, que disse ter sido exploradíssimo. E agora vem falar disso, quando os outros dois já morreram…”, afirmou citado pelo Público.

Apesar de o filme ter estreado em 1972, em Portugal a sua exibição só foi permitida a 30 de abril de 1974, cinco dias depois da queda do Estado Novo.

Shelley Duvall em “The Shinning”

O clássico do terror de Stanley Kubrick, lançado em 1980, interpretado por Jack Nicholson e Shelley Duvall e inspirado num romance de Stephen King, é ainda hoje uma das referências no cinema e continua a ser um dos filmes mais recordados de sempre.

O que muita gente desconhece é o tratamento que a atriz que interpreta Wendy teve e o que sofreu nas mãos de Kubrick.

A trajetória de Duvall neste filme começou logo com o pé esquerdo. Tudo porque o próprio Stephen King não gostou do casting da atriz para o papel de Wendy, considerando que esta não tinha o talento necessário para interpretar a personagem de uma história com alguma complexidade. O oposto daquilo que ele imaginava para a Wendy da sua história.

Kubrick manteve a sua posição e conseguiu ter a atriz no enredo. No entanto, Duvall estava longe de imaginar o terror por que teria de passar nas filmagens. De acordo com o documentário “Stanley Kubrick: A Life in Pictures”, Jack Nicholson afirmou que o realizador era uma pessoa ótima para se trabalhar mas o mesmo “era um realizador diferente” com a sua colega de cena. Kubrick implicava mais com ela do que com qualquer outra pessoa, chegando a dizer que Shelley Duvall desperdiçava o tempo das pessoas que estavam na equipa de filmagens.

No documentário “Making The Shining”, Vivian Kubrick, filha do realizador, afirmou que uma das táticas usadas pelo pai para puxar pela atriz foi garantir que Duvall  “não recebia nenhum tipo de simpatia” por parte de qualquer pessoa do set de filmagens, sendo visível no documentário Kubrick dizer a Vivian para “não ser simpática com Shelley”.

O realizador incentivava a equipa a ignorar a atriz e a não fazer qualquer tipo de elogio ao seu desempenho. De acordo com o site Movie Pilot, Shelley Duvall chegou a chorar cerca de 12 horas por dia o que fez com que tivesse necessidade de ter consigo garrafas de água para garantir que se mantinha hidratada.

Shelley Duvall
Shelley Duvall

A situação que resume o tratamento de Stanley Kubrick a Shelley Duvall foi o facto de a atriz ter tido de repetir a icónica cena com um bastão de basebol 127 vezes, feito que garantiu o recorde no Guiness como a cena que mais vezes foi repetida na história do cinema. A aparência frágil de Duvall – as mãos a tremer, o nariz vermelho e os olhos inchados – foi o resultado de um choro genuíno e compulsivo por parte da atriz.

Shelley Duvall chegou a falar sobre este tratamento na biografia do realizador “The Complete Kubrick”. “De maio até outubro eu estava realmente com altos e baixos em termos de saúde, porque o stress do papel era tão grande. Stanley puxou por mim de uma maneira que nunca ninguém tinha feito antes. Foi o papel mais difícil que tive de interpretar”, confessou.

Numa entrevista em 1980, quando questionada sobre a experiência de ter trabalhado com Stanley Kubrick, a atriz afirmou: “Foi quase insuportável… mas em outros pontos de vista, muito agradável, acho eu”.

Apesar de hoje em dia o filme ser uma referência, na época “The Shinning” teve duas nomeações nos “Razzies”, os prémios que elegem os piores do ano, com Shelley Duvall, como pior atriz, e Stanley Kubrick, como pior realizador.

Stephen King não perdoou a escolha de Duvall e quando realizou uma minissérie inspirada na mesma obra que deu origem ao filme, em 1997, não poupou críticas à performance da atriz. “É uma das personagens mais misóginas alguma vez colocadas num filme. Ela está lá basicamente para gritar e ser estúpida e não é esse o tipo de mulher sobre o qual eu escrevi”, afirmou.

A história de Shelley Duvall voltou a ser falada em novembro de 2016, depois de uma entrevista no mediático programa "Dr. Phil", onde a atriz confessa que precisa de ajuda porque tem uma doença mental. Na entrevista, Duvall, que vive resguardada numa pequena cidade do Texas há mais de uma década, alega que Robie Williams está vivo.

Vivian Kubrick foi uma das principais críticas de Phil McGraw, mais conhecido como Dr. Phil, por ter explorado e exposto a fragilidade da atriz.

Tippi Hedren em “Os Pássaros” e “Marnie”

A relação que Alfred Hitchcock tinha com as atrizes que escolhia como protagonistas dos seus filmes não era muito pacífica mas no final de 2016, Tippi Hedren, mãe de Melanie Griffith e avó de Dakota Johnson, que interpretou a personagem de Melanie Daniels, no filme “Os Pássaros” de 1963, foi mais longe.

Na sua autobiografia “Tippi: A Memoir”, lançada em outubro de 2016, a atriz, revelou que o realizador tentou beijá-la à força na véspera da gravação da famosa cena em que Melanie é atacada por um bando de pássaros numa cabine telefónica.

Os Pássaros (1963)
Os Pássaros (1963)

A atriz revelou ainda que noutra altura, quando estava a gravar o filme “Marnie”, em 1964, o realizador a chamou ao seu escritório onde cometeu alegados atos de agressão sexual. “De repente, agarrou-me e pôs-me as mãos em cima. Foi sexual, foi perverso e foi feio”, escreveu Tippi Hedren no livro.

Já em 2012, a atriz tinha denunciado o comportamento de Hitchcock para consigo, ao relembrar que durante cinco dias de filmagem teve pássaros vivos a serem arremessados contra si, quando o realizador tinha garantido que seriam pássaros mecânicos, ou presos ao seu corpo através de elásticos. A situação foi de tal forma grave que um médico chegou a exigir que as filmagens fossem suspensas durante uma semana para que a atriz pudesse recuperar física e psicologicamente.

Tippi alega que essa sessão repetitiva de planos começou um dia depois de Alfred Hitchcock a ter tentado beijar à força quando viajavam juntos num carro.

A atriz recordou ainda que Hitchcock tentava estar sozinho com ela depois das filmagens e estava “sempre a insistir num copo de champanhe depois do trabalho". A autobiografia revela ainda que na gravação de “Marnie”, o camarim da atriz era adjacente à sala do realizador e que este entrava diretamente e sem aviso.

Em entrevista ao Huffington Post, Tippi Hedren confessou que depois da gravação de "Marnie" não tinha a intenção de voltar a trabalhar com o realizador, apesar de manter um contrato com ele. Durante dois anos, Alfred Hitchcock pagou-lhe 600 dólares por semana, até o contrato chegar ao fim, para não fazer nada.

Essa atitude trouxe um amargo de boca: assim como Hitchcock lançou Hedren, também destruiu a sua carreira, ao afastar todos os realizadores que tentavam trabalhar com a atriz. "Ele disse: 'Vou destruir a tua carreira'. Eu respondi: 'Faça o que tem a fazer'. E saí porta fora", revelou. Quando questionada se o realizador tinha sido bem sucedido a atriz admitiu que "destruiu, sim senhor".

A relação obsessiva de Hitchcock com Tippi Hedren chegou a resultar no telefilme, “The Girl”, interpretado por Sienna Miller e Toby Jonas, numa coprodução entre a BBC e a HBO.

Meryl Streep em “Kramer contra Kramer”

Não há dúvida de que Meryl Streep é uma das atrizes mais brilhantes da história do cinema ou não fosse a mesma detentora de um número impressionante de nomeações ao Óscar de Melhor Atriz, mais precisamente 20.

No entanto, uma biografia não autorizada da atriz, da autoria de Michael Schulman, lançada no início de 2016, e intitulada “Her Again: Becoming Meryl Streep” vem revelar alguns detalhes sobre a má relação entre Streep e o coprotagonista, Dustin Hoffman, no filme de 1979.

Apesar de o filme “Kramer contra Kramer” lhe ter valido o primeiro Óscar de Melhor Atriz, de acordo com o livro a relação entre ambos era bastante tensa. Segundo a edição de abril de 2016 da revista Vanity Fair, no segundo dia de filmagens, durante uma cena mais emotiva, Hoffman chocou os presentes quando "deu uma forte bofetada na cara de Streep, deixando uma marca vermelha". O livro relata que a atriz, na altura com 29 anos, não reagiu e manteve-se na personagem.

Mas a situação não ficou por aí. As gravações do filme, em 1978, aconteceram pouco tempo depois de o namorado de dois anos de Streep, o ator John Cazale, ter morrido de cancro. Dustin Hoffman aproveitou, alegadamente, esse episódio para provocar e atormentar a atriz, de forma a aumentar a tensão nas cenas e a conseguir uma atuação mais convincente. “Ele picava-a e provocava-a", relatou Richard Fischoff, produtor do filme, a Schulman.

Fischoff garante que Hoffman chegou mesmo a sussurrar o nome do falecido namorado ao ouvido de atriz antes de uma cena dramática numa sala de tribunal, atitude que a deixou "completamente branca" e a fez sair do estúdio, "enraivecida". O produtor acrescentou ainda que Dustin Hoffman “usava coisas da vida pessoal de Meryl Streep para conseguir extrair as reações que ele pensava que conseguiria obter em cena”.

Os métodos polémicos do ator podem ter surtido efeito, com a conquista do Óscar de Melhor Atriz, em 1980, (o próprio Hoffman, venceu o Óscar de Melhor Ator), mas a verdade é que os atores nunca mais voltaram a contracenar juntos.

Os representantes de Meryl Streep apressaram-se a desmentir vários relatos da biografia, alegando que algumas informações eram falsas, com especial ênfase na alegada bofetada sofrida pela atriz. Dustin Hoffman não comentou o assunto.

Outros casos que vieram a público

Lars von Trier é considerado por muitos um génio, por outros uma figura polémica. O realizador é muitas vezes acusado de ter atitudes machistas e a relação com as protagonistas dos seus filmes nem sempre é a melhor.

Aconteceu com Emily Watson em "Breaking Waves", que considerou ter sido levada ao limite, Kirsten Dunst que acusou von Trier de a ter envergonhado na rodagem do filme "Melancolia", ou com Nicole Kidman que alegadamente teve sessões de gritos que demoravam três horas, em "Dogville".

No entanto, a situação mais grave aconteceu com Björk durante as gravações de "Dancing in the Dark", em 2000. As disputas entre a atriz e o realizador resultaram num site pessoal, que Björk mantinha como um diário, onde acusava Lars von Trier de "odiar mulheres". A discussão mais séria entre ambos resultou na fuga de Björk do set de filmagens durante vários dias, e há fontes que alegam que a situação descontrolou-se de tal forma que a atriz cuspiu na cara do realizador, rasgou a roupa que tinha vestida e comeu pedaços do tecido.

Depois desta experiência, Björk nunca mais voltou a representar, apesar de o filme ter vencido a "Palma de Ouro", no festival de Cannes.

Outra situação polémica aconteceu entre Faye Dunaway e Roman Polanski, durante as gravações do filme "Chinatown", em 1974. A relação entre ambos era tão difícil que o realizador só falava com Dunaway aos gritos. Há testemunhas que relatam que Polanski chegou a arrancar cabelos à atriz, por estarem a atrapalhar o enquadramento e que o realizador chegou a proibi-la de fazer uma pausa para ir à casa de banho.

A utilização de métodos controversos também deu que falar durante a gravação do drama erótico "Nove semanas e meia", em 1986. O realizador Adrian Lyne chegou a pedir a Mickey Rourke que tratasse mal Kim Basinger, alegadamente espalhou vários boatos entre a equipa técnica do filme e proibiu que lhe dirigissem a palavra de forma a isolá-la e a criar mau estar na atriz, de forma a refletir-se no filme.

Lyne chegou a confirmar algumas situações, em entrevista. “A Kim é como uma criança. Para a enfurecer, eu gritava com ela e ela gritava comigo. O Mickey também fazia isso. Fizemos de propósito”, afirmou.