Luísa Sobral foi a mais recente convidada do programa de Daniel Oliveira, ‘Alta Definição’, onde falou sobre a sua conquista na Eurovisão, uma vez que foi a autora da canção mais voltada do festival.

Vindo de uma família muito unida, os irmãos Sobral saíram de casa aos 16 anos para irem estudar para os EUA. A paixão pela música levou-os a Kiev, onde saíram de lá com o troféu nas mãos, muita alegria e emoção no coração.

Semanas depois do Festival da Eurovisão, Luísa Sobral confessa estar “sensível”. “Mesmo quando as pessoas falam do momento das votações acabo por reviver um bocadinho, acho que estou tão sensível como quando fui mãe. Parece que, de repente, começo a chorar com todas as coisas”, começa por explicar a artista.

A cantora acredita que, provavelmente, nunca mais vai voltar a viver um momento como o que viveu quando chegou de Kiev, no domingo, e foi recebida por centenas de pessoas no aeroporto de Lisboa.

Ter aquele mar de gente e as pessoas a gritarem o nome de Portugal como se fôssemos os heróis. É incrível. Depois, ao mesmo tempo, saber que não podia falar com cada pessoa, crianças com poster a dizer: ‘Eu quero dar um beijinho ao Salvador’. Mas não conseguimos fazer isso. Não dava para parar ali no meio, era muita gente. Senti-me muito agradecida e um orgulho enorme. Chegamos à carrinha e eu desatei a chorar, o meu irmão desatou a chorar”, confessou.

Para Luísa Sobral, o melhor de ser a autora da canção mais votada da Eurovisão é o tipo de música que foi e “o que é que isso significa para a música”.

Tenho recebido muitas mensagens de músicos, mesmo de outros países da Europa, a felicitar-me por ter levado uma canção assim, por ter escrito uma canção que é uma canção, no fundo, e ter mostrado que as pessoas ainda sentem as coisas que são verdadeiras, puras, simples e que essas coisas ainda prevalecem e são mais apreciadas do que, se calhar, as outras que são tão construídas para serem bem sucedidas”, continuou.

Luísa e Salvador são pessoas que “sabem dar valor às coisas importantes da vida” e os pais tiveram um papel fundamental nas suas vidas. Ambos acompanharam os filhos nesta etapa, em Kiev. “Eles têm imenso orgulho em nós”, afirmou, referindo que a presença dos pais naquele momento único foi mais importante na parte “emocional” porque “aquilo era um bocadinho desgastante”.

Para o meu irmão não foi sempre fácil. Ele sentia-se deslocado e eu tentei sempre estar do lado dele e fazê-lo sentir-se bem. Não mudamos aquilo que somos para encaixar na Eurovisão, nunca fizemos isso, por isso, acho que ele tinha que estar orgulho de estar ali. E, às vezes, eu sentia que ele se ia um bocadinho abaixo e eu queria estar do lado dele, mas depois eu às vezes eu também me ia abaixo e tinha a minha mãe e o meu pai”, contou.

Na altura que foi anunciado o vencedor da Eurovisão, os irmãos Sobral não perceberam desde logo que tinham sido os vencedores, mas depois perceberam e “só queriam celebrar”.

Também nos sentimos muito felizes por dar essa vitória à RTP porque eles também merecem ganhar. Eles vão lá todos os anos e muitas vezes vêm embora antes da final”, afirmou.

Recordando a entrevista do irmão no mesmo programa, Daniel Oliveira questionou a artista sobre uma viagem na infância, para o Algarve, em que Salvador acabou com os ouvidos a sangrar por causa da cantora lhe mexer com uma caneta.

“O meu irmão acha que todas as viagens que fazíamos eram para o Algarve. Essa viagem não foi para o Algarve. Acho que ele contou que foi com uma caneta, mas não é verdade. Eu fui com a unha a escarafunchar no ouvido dele”, retificou.

Em relação ao Festival da Canção, Luísa Sobral recorda que “não foi muito bom” ver o irmão vencer, uma vez que sabia que ele não iria poder viajar para Kiev por causa da doença.

Era suposto ser uma coisa ótima, mas nós nunca pensamos que fôssemos ganhar o Festival da Canção. A ideia de ir a Kiev foi completamente fora para nós, tínhamos a certeza que nunca íamos ganhar com uma canção destas. Então convidei-o para cantar. Queria que as pessoas conhecessem a voz dele. O mágico quando ele canta. Os meus concertos desde que ele começou a tocar ao vivo são diferentes por causa dele, ele é mesmo uma inspiração para mim”, começa por explicar.

Quando chegaram à final e sentiram que a atuação de Salvador tinha sido “meio viral”, Luísa Sobral começou a preocupar-se mais.

Nós não estávamos a dizer às pessoas que ele tinha esse problema e que não podia viajar e, se chegássemos a esse ponto, tinha sido eu a pô-lo naquela posição e ele ia querer ir e não podia, ia sentir-se triste e as pessoas iam votar por ele e ele não podia ir. Senti-me tão culpada nessa altura de ter decidido que ele devia participar nisto, pô-lo nesta posição. Ninguém fala da doença dele e agora está toda a gente a falar sobre isto. Pessoas a escreverem coisas horríveis, nas capas das revistas, e tinha sido eu a pô-lo naquela posição”, continuou, recordando o momento da votação.

“Lembro-me de estarmos na votação e ele dizer 'agora quero ganhar' e eu dizer: ‘Não queres não, porque tu não podes ir. E se tu ganhares o que é que vamos fazer?’ Entretanto ganhamos, vieram os jornalistas todos numa conferência de imprensa e eu lembro-me que estava com tanta vontade de chorar e pensar como é que ia responder”, acrescentou.

Mesmo apercebendo-se que o irmãos podia ir, Luísa Sobral não ficou aliviada. “Ele pode ir, mas e se alguma coisa acontece e ele não está cá, a culpa é minha outra vez. A única altura que eu não sentia que a culpa era minha foi quando ganhámos. Aí senti que a culpa era toda dele”, rematou.