Juan Carlos I estará na República Dominicana mas terá admitido regressar a Espanha já no próximo mês. O rei emérito espanhol de 82 anos viu-se forçado a abandonar o país para não prejudicar (mais) a monarquia do país vizinho nem a governação do filho, Filipe VI, mas fê-lo, segundo fontes citadas pela imprensa espanhola, contrariado e preocupado com o descrédito que fica para a história. "Os que têm menos de 40 anos só me recordarão pela Corinna, pelo elefante e pelas malas", lamenta o ex-governante.
De acordo com o El País, o desabafo terá sido feito por Juan Carlos I a um amigo há três semanas, numa altura em que já estaria a ser pressionado para anunciar publicamente ao país que pretendia abandonar Espanha. Em 2010, segundo o jornal, o monarca, então com 72 anos, terá confessado na intimidade que só não abdicava a favor do filho por ter medo que o dinheiro não lhe chegasse para a vida de luxo que fazia questão de ter. Dois anos depois, iniciava-se a espiral destrutiva que o levaria a passar de bestial a besta.
Em plena crise económica, os espanhóis eram confrontados com a notícia da queda do rei, que partiu a anca no Botsuana, em África, para onde tinha ido caçar elefantes, na companhia da amante, a socialite e empresária dinamarquesa Corinna Larsen, também conhecida como Corinna zu Sayn-Wittgenstein, nascida na Alemanha. Instalado num luxuoso resort na companhia de empresários sauditas, Juan Carlos I, que está a ser investigado por causa de um contrato de construção de uma linha ferroviária de alta velocidade na Arábia Saudita que lhe terá rendido um montante avultado, terá gasto 42.000 euros no safari africano.
A divulgação das contas que alegadamente terá mantido ilegalmente na Suíça e das viagens que o advogado Arturo Fasana terá feito com malas cheias de dinheiro a mando do ex-governante foram, nas últimas semanas, a machadada final numa reputação que a passagem de testemunho ao filho, Filipe VI, nunca voltaria a recuperar. "Os jornalistas que cubriram a fase final do seu reinado afirmam que, com a idade e as enfermidades, deixou de ser um homem simpático e acessível", escreve Antonio Jiménez Barca.
"Passou a ser um tipo resmungão, com mau fio, que se irritava quando tropeçava ao caminhar de bengala ou de muletas", revela o jornalista espanhol. "O afastamento do Palácio da Zarzuela [depois de abdicar], o cansaço, a idade ou, pura e simplesmente, o egoísmo diminuiram-lhe o instinto político que lhe permitiu, noutras alturas, perceber como é que a sociedade estava a evoluir", critica. "Nem sequer para intuir como terminaria a questão das contas [bancárias] suíças", analisa Antonio Jiménez Barca.
"Nem para se dar conta de que os espanhóis com menos de 40 anos que o veem como o rei da Corinna, do elefante e das malas [de dinheiro] são, em muitos casos, os que governam [atualmente] o país", refere ainda. "O amigo dele [que está na origem do desabafo agora tornado público] garante que, quando o viu [pela última vez], há três semanas, não o encontrou particularmente abatido por causa da situação, que nem sequer o parecia afetar demasiado", confidencia, todavia, Antonio Jiménez Barca.
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