Retratos Contados: Façam-nos os vossos Retratos Contados da vossa.
Joana Marques: Conhecemo-nos em 2009.
Daniel Leitão: Penso que em Junho para aí.
J.M: Junho? Que especifico, mas já nos conhecíamos antes.
D.L: Cruzámo-nos por acaso nas Produções Fictícias, estava a trabalhar lá há algum tempo. Havia lá uns workshops à noite, havia formação, aulas de escrita criativa… O Daniel já tinha uma vida completamente diferente que não tinha a ver com esta área, tinha a ver com Gestão, e resolveu arranjar esse hobby. Foi lá tirar o curso de escrita criativa e acho que foi lá que começámos a conversar.
D.L: Não ser conversar! Era dizer “Boa noite”!
J.M: Já é uma conversa…
D.L: Sim, e a Joana às vezes respondia-me.
D.L: Depois começámos a falar com mais regularidade porque as Produções Fictícias estavam a fazer um projeto de curtas metragens, e precisavam especificamente de quem fizesse o papel de gordo… Então umas raparigas que também estavam a fazer o mesmo curso que eu, lembraram-se de mim e convidaram-me. Passámos uma tarde juntos com mais 50 pessoas, foi aí que falámos mais um pouco e depois fomos começando a falar no facebook e por aí fora .
J.M: O facebook do Daniel era muito incipiente, não se passava lá nada, era um facebook muito vazio. É engraçado que este tema costumamos falar nos espetáculos porque se tornou cómico. Temos vários episódios normais da nossa vida que vistos à distância se tornam cómicos. O nosso primeiro jantar, o Daniel convidou-me e não me disse onde é que íamos e fomos ao sítio que eu mais odeio que é um restaurante indiano. Eu detesto tudo o que lá há. Então ainda era aquela fase da cerimónia, onde a pessoa finge que até gosta e eu a pensar “Que horror! Tudo é picante! Só quero beber água!”
R.C:O Daniel não se informou antes de quais as tuas preferências?
D.L: Não! Eu realmente gosto muito de comida indiana. Mas não foi só a pensar em mim, porque houve uma conversa qualquer, que alguém lhe tinha prometido se ela fizesse um favor qualquer, (um favor decente), que ia levá-la na altura a um restaurante que é…
J.M: Goês.
D.L: Goês, muito conhecido e eu pensei “Se te ofereceram isso é porque realmente gostas de comida indiana ”. Como eu também gosto, vou fazer essa surpresa e realmente foi uma surpresa!
J.M: E foi uma surpresa, mas não pela positiva! Eu às 5 da manhã ainda estava com calor daquele picante do caril!
D.L: Podia ser de mim…
J.M: Mas não era!
D.L: Ora bolas…
R.C: Quando é que surgiram os “Altos & Baixos” na vossa vida?
J.M: A ideia do “Altos & Baixos”, surgiu por acaso como quase todas as ideias. Em 2012 eu estava no Canal Q a fazer um programa e o Daniel também estava a fazer alguns programas. Ganhou lá um concurso que era o “Caça ao Cómico”, para descobrir novos comediantes e depois a ideia era ter um programa lá, depois de ter ganho esse concurso. Em Setembro eu lembro-me que ia estrear um programa com o Nuno Markl, mas esse programa estava atrasado porque o Markl tinha muita coisa para fazer ao mesmo tempo. Como tal, tiveram de adiar a estreia só para Outubro, e então havia ali um mês, em que precisavam de pôr um programa no ar. Então lembraram-se de fazer um programa só para preencher aquele vazio. Era para ser programas, uma vez por semana, para fazer o mês e encher grelha.
J.M: Na altura o desafio que nos fizeram, era aquele formato já mais que visto, dos programas em que se analisam vídeos, de pessoas a cair e acidentes… Nós não nos identificámos muito com aquilo, mas eles pediram-nos se nós fazíamos os dois em dupla um programa com esse tipo de vídeos e nós aceitámos. Mas um bocadinho reticentes… Da minha parte, eu não tinha grande interesse em fazer o programa. O Daniel já estava mais habituado a aparecer, a fazer stand-up,etc e eu era guionista e não estava muito interessada em passar para o outro lado do ecrã. Por outro lado, a história dos vídeos das pessoas a cair e dos gatinhos e cãezinhos, não achávamos hilariante. Chateava-nos poi era um bocadinho mais do mesmo. Portanto, o que é que aconteceu? Fizemos um primeiro programa assim e dissemos “Se é para fazer, vamos fazer à nossa maneira”. Com outro tipo de vídeos e um programa que tivesse mais a ver com a nossa identidade. Sempre naquela ideia de que iam ser só 4 episódios. Aquilo começou a correr bem e fomos continuando e não parámos mais até agora .
D.L: Queríamos fazer um programa que fosse o nosso estilo e que nos divertíssemos ao mesmo tempo…
R.C: Quando olham para trás, como fazem os Retratos Contados dos Altos & Baixos?
J.M: Eu acho que é sempre como na história da roupa quando vemos fotografias nossas do 5º ano e pensamos “Que ridículo, porque é que estava assim vestida?” Vamos ver daqui a 10 anos como estamos hoje e também vamos achar péssimo.
D.L: É como quando comparamos os CDS das bandas de musica. O último CD é sempre pior do que o anterior… Depois sai mais um, não o anterior é que era bom, este não é tão bom.
J.M. – Começámos em 2012. Já são quase a anos de Altos & Baixos.
D.L: É o segundo ou terceiro programa mais antigo do Canal Q.
J.M: Sim, talvez a par com o do Aurélio Gomes com o “Baseado Numa História Verídica”. Teve umas trocas de título mas, foi sempre o Aurélio Gomes e no fundo é sempre o mesmo programa com algumas alterações de formato, talvez seja dos mais antigos. Nós começámos a fazer o Altos & Baixos e divertir-nos, acho que esse foi o segredo, porque se nós tivéssemos continuado a fazer aquela coisa com gatinhos e pessoas a cair…
J.M: Teriam sido só os 4 episódios e a muito custo.
R.C: Apesar de ser um programa muito divertido não deve ser nada fácil de fazer, requer muita pesquisa?
J.M: Sim, a maior parte do tempo que “se perde” é com pesquisa, depois de encontrar o que se pretende escreve-se rápido, quase que se escreve sozinho porque está lá tudo. Há semanas em que há 3 ou 4 bons vídeos, outras em que é um deserto e não há nada. Temos agora alguma sorte de as pessoas já nos sugerirem coisas. Ao início era mais difícil, agora já temos assim uma comunidade fiel de seguidores do programa, muitas vezes mal acontece situações enviam-nos. Às vezes quando é assim uma coisa muito marcante no mesmo dia recebo 10 mensagens se for preciso com o mesmo conteúdo. É engraçado que as pessoas veem as situações e acham graça, mas mesmo assim têm interesse em ver a nossa análise.
R.C: E as criticas como é que têm sido?
J.M: Têm sido boas, depende do que entendermos por criticas, quando falas em criticas eu penso mais em pessoas…As criticas negativas, eu gostava que aparecessem de facto criticas, que pudessem chamar-se assim a dizer ”Vocês fazem isto mal ou não têm graça”
D.L: ”Não gosto por isto ou por aquilo”
J.M: Qualquer coisa fundamentada, minimamente construtiva. Normalmente surge mais aquela ofensa um bocadinho gratuita e normalmente surge na sequência da pessoa apenas ir ao Facebook despejar a sua frustração.
D.L. – Ou então claramente porque não têm coragem de dizer ao vivo. Até porque ao vivo nunca acontece.
A única pessoa que até hoje me disse que não gostava do programa foi a senhora da cantina do meu trabalho. Disse-me “Faz um programa na televisão,não faz? “É que o meu marido é o seu maior fã, ele gosta muito do programa mas tenho de ser sincera, eu não gosto, não acho graça, mas pronto tenho que ver pois ele quer ver.”
J.M: Coitadinha, tem de arranjar outra televisão para ter noutra divisão da casa.
D.L: Mas normalmente as pessoas vêm ter connosco e nunca é para dizer mal.
J.M: Sim na rua normalmente dizem sempre bem. Quanto às ofensas do facebook eu ainda acho que têm menos valor porque, muitas vezes vêm na sequência de gozar com alguma coisa que as pessoas gostam, uma espécie de orgulho ferido.
R.C: Não gostam que briquem com os clubes de futebol…
J.M: Gozaram com o Benfica, independentemente do Daniel ser do Benfica ou não ser, as pessoas ficam cegas. Gozaram com o Benfica ou gozaram com o Jorge Jesus e isso significa retaliação. Não é uma crítica assim imparcial, digamos assim. Viram uma coisa, ficaram ofendidos e a forma que têm de ofender é “Ele é gordo” … É assim muito superficial, não é uma crítica de facto!
D.L: Sim normalmente são as fãs das pessoas que são visadas que, são as pessoas mais ofensivas.
J.M: Sim muitas vezes a pessoa visada nem sequer se incomoda…
D.L: Muitas vezes usam esse tipo de insulto para também afagar o ego da pessoa que foi visada. ”Ah não lhe ligues pois és maravilhosa e eles são isto ou aquilo”
J.M: Como se o nosso objetivo fosse mandar essa pessoa abaixo.
R.C: O vosso humor é muito inteligente porque vocês gozam com vocês mesmos.
J.M: Começamos logo por aí, esse tem de ser o segredo.
D.L: E temos exemplos de pessoas conhecidas que já nos pediram para falar com elas.
J.M: Acho que as pessoas minimamente inteligentes, não é minimamente inteligentes,é com autocrítica, percebem que isto é uma brincadeira e que não é para ser levado a sério, não é para destruir nada ninguém. Nós não fazemos as coisas com uma agenda. Eu não gosto do Nelson portanto vou gozar com o Nelson, ele fez-me isto…e por isso… Nós partimos ao contrário, é uma coisa engraçada, vamos brincar mesmo que conheçamos as pessoas.
R.C: É um humor muito inofensivo e inteligente.
J.M: Todos temos sensibilidades diferentes e a pessoa visada pode sempre não achar graça ou sentir-se ofendida, mas a nossa intenção não é essa normalmente.
D.L: A prova disso é que já houve 1 ou 2 casos que escrevemos um programa, gravámos um programa e por acaso do destino aconteceu uma coisa menos boa a essa pessoa essa semana e nós pensámos ”Não faz sentido pois a altura não é apropriada por isso mais vale não ser transmitido”
J.M.: Até porque o objetivo não é achincalhar nem denegrir a imagem da pessoa ou gozar com elas por isto ou por aquilo. O que gostamos é de pegar em momentos que possam ser engraçados que toda a gente vai ver.
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