O programa da TVI, 'A Quinta' já chegou ao fim e a grande vencedora foi Kelly. Como já é costume, a concorrente foi até ao programa de Manuel Luís Goucha e Cristina Ferreira para falar sobre a sua participação.

Após o mesmo, o apresentador fez questão de mostrar a sua indignação perante determinados comentários com que se deparou nas redes sociais.

"Estou-me absolutamente "nas tintas" para quem ganha ou deixa de ganhar um “reality show”, seja ele qual for, mas encanitam-me comentários do género: "Que vergonha! Um programa português ser ganho por uma estrangeira!". Isto a propósito do que se vai bolsando em algumas redes sociais, quanto ao facto de ter sido uma brasileira a ganhar a última edição de 'A Quinta'. Mas será que é tão difícil de entender que, a partir do momento em que a nacionalidade do(a) concorrente não constitui impedimento à sua entrada em competição, este(a) terá de estar em pé de igualdade com os demais, podendo, por isso, conquistar a vitória?. Se assim não fosse seria, no mínimo, uma atitude desonesta da parte de quem convida", começa por escrever no seu blogue.

"Ao ler tão xenófobos arrazoados, lembrei-me da Ann-Kristin, a dinamarquesa que chegou à final da segunda edição do MasterChef Portugal e que se destacou, ao longo de toda a competição, e com toda a justeza, pela sua criatividade, técnica e bom gosto culinários. Imagino o que teria sido se ela tivesse ganhado o título maior! Olhe que foi por um triz, ela não é, de forma alguma, menos brilhante que o Manuel vencedor", afirma.

Entretanto, Manuel fala também sobre a importância de se saber acolher as pessoas:

"Estes exemplos que têm a ver com programas de televisão, e apenas isso, levam-me a extrapolar para algo mais interessante ou seja o comportamento primário de muitos de nós. Não gosto de fazer aos outros o que não quero que me façam, por isso não me passa pela cabeça que alguém de outra nacionalidade a viver no meu país não tenha os mesmos direitos que eu. Também isso fará com que esse indivíduo se integre plenamente numa sociedade de acolhimento, respeitando, é claro, as regras que balizam esse coletivo.

É por isso que entendo, por exemplo, a aprendizagem da língua do país que acolhe, como vital para a desejável assimilação. Somos um país que recebe, que anfitria, e não devemos esquecer quantos dos nossos tiveram um dia de emigrar, sem recursos, nomeadamente educacionais, para lutarem por uma dignidade que o país lhes recusava. Conseguiram-no, na maioria dos casos, à custa de muito trabalho mas também, sabemo-lo, de muitas humilhações. Passaram muitos anos, e um regime, desde os idos de sessenta, quando se ia a salto, pagando o que não se tinha, que há sempre quem se aproveite dos mais fracos e desesperados, para se acabar num imundo "bidonville", signo de uma escravatura moderna, à espera de melhores dias.

Os que partem hoje, na sua maioria, levam consigo a mesma esperança, mas uma determinação e estrutura diferentes, por força de uma formação mais consistente. Passaram muitos anos, é certo, mas o primitivismo de algumas cabeças continua a querer marginalizar, asfixiar, aniquilar. Como se o exemplo dos que partiram não tivesse servido de nada para os que agora recebem".

"Vale isto para uma brasileira que ganhou um mero programa de televisão, mas a sermos mais exigentes, vale isto para qualquer indivíduo que, fugindo do terror, procura no nosso chão a dignidade que só um povo livre lhe pode dar", termina.