Em Elephant and Castle, o bairro latino de Londres, a ausência de imagens da rainha Isabel II é notável. “Ninguém exibiu a sua foto, elas só são vistas nos pontos de autocarro”, disse à AFP Mauricio Holguín, um colombiano de 40 anos que vive no Reino Unido há três anos.

"As pessoas estão aqui por outros motivos, estamos aqui apenas para trabalhar, é preciso viver muito tempo aqui para apreciar a rainha", diz Carlos, que prefere não dar o sobrenome.

"Desperdício ridículo"

Outra colombiana, Araceli Rodríguez, de 70 anos, está no Reino Unido desde 1978. “A monarquia em geral não me dá nada, de que adianta ter uma rainha ou um rei?”, questiona, considerando o enorme “desperdício em impostos”, que considera “ridículo”.

“Tantas filas para homenagear uma senhora que tinha tudo”, lamenta Rodríguez, criticando que “até os cachorros da rainha tinham o seu próprio quarto”, enquanto muitas pessoas enfrentam um custo de vida exorbitante no Reino Unido.

O país regista sua pior inflação em 40 anos, que deve ultrapassar 13% em dezembro e coloca muitas famílias em sérias dificuldades. "A pobreza que se vê agora em Inglaterra não era vista quando eu cheguei", diz Rodríguez, aposentada.

Segundo John Plassard, analista da empresa financeira Mirabaud, "o custo total do funeral está estimado entre 34 e 37 milhões" de dólares.

Entre a indiferença e a indignação com o luxuoso funeral real: a outra realidade de Londres
Entre a indiferença e a indignação com o luxuoso funeral real: a outra realidade de Londres Ruas são limpas para o funeral da rainha Isabel II créditos: EPA/GUY BELL

Muitos ficaram chocados com essa despesa e com a colossal fortuna de Isabel II, 370 milhões de libras em 2022, segundo o Sunday Times.

"Há também os que discordam porque as monarquias exploraram muito o mundo, principalmente a inglesa, que se expandiu pela África, Ásia e América", considera Héctor Ariel Fandiño, empresário colombiano de 43 anos, numa mercearia de Elephant and Castle.

A menos de 5 km ao sul, no colorido mercado de Brixton, onde vivem muitos migrantes das ex-colónias britânicas do Caribe, as camisas com a inscrição "Jamaican Queen" não trazem a foto de Isabel II, mas o perfil de uma jovem com um penteado afro.

"Viemos do Caribe, então não somos fãs da monarquia", disse Liam, um jovem jamaicano que trabalha como cozinheiro.

“Ela saqueou o lugar de onde viemos com violência e escravidão por centenas de anos, então por que faríamos qualquer tipo de comemoração?” pergunta indignado.

É "triste", reconhece, que "alguém tenha perdido a avó, a mãe". Mas "que as pessoas paguem pelo facto de ela ter morrido e pela cerimónia fúnebre, eu não concordo", acrescenta.

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