Tinha prometido à irmã viver, pelo menos, até aos 100 anos mas ontem a notícia da sua morte aos 94 deixou milhões em choque. Três dias antes de morrer, Charles Aznavour foi o convidado especial do programa de televisão "C à vous". Bem disposto durante a entrevista, o cantor francês que um dia cantou Lisboa falou da vida e da carreira e revelou que tinha escrito uma canção para o dia em que regressasse aos palcos.

Depois de ter regressado do Japão, onde deu os primeiros concertos depois de uma queda que o obrigou a parar, o intérprete de êxitos como "La bohème" e "Hier encore", que continuava em convalescença, foi entrevistado por Anne-Élisabeth Lemoine, naquela que seria a sua última aparição pública. "Sinto-me vivo. A idade não existe", garantia. "Continuo a trabalhar. Tenho tudo o que preciso para me tratar em casa", disse.

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"Nado e ando de bicicleta dentro de água", confidenciou. "Mas tem de ser. Não vou [voltar a] aparecer perante o público como um triste. Dada a minha idade, escrevi uma canção sobre o envelhecimento que lhes vou cantar da próxima vez", revelava. "Ainda não danço mas, a pouco e pouco, lá chegarei", garantia Charles Aznavour.

"Eu vou [sempre] em frente. Comigo, não há marcha-atrás", assegurava o cantor, que viveu uma longa amizade com a fadista portuguesa Amália Rodrigues, que ouviu cantar num espetáculo num casino no estrangeiro.

Em 72 anos de carreira, iniciada em 1946, gravou mais 1.300 canções em oito línguas e vendeu mais de 180 milhões de discos. Um dos momentos mais emocionantes da última entrevista foi a revelação do pacto que tinha com a irmã. "Decidimos os dois que iríamos ultrapassar a barreira dos 100 [anos]. Está escrito! Ela não tem o direito de se desmazelar e eu também não", afirmou, na altura, convicto. Três dias depois, chegava o fim.