
“Uma noite no jardim" foi o tema da coleção escolhida por Miguel Vieira para a primavera/verão 2026. O veterano da moda nacional, que encerrou o quarto dia da 54.ª edição do Portugal Fashion, decidiu regressar às origens da sua marca ao apresentar uma coleção monocromática numa cor que sempre foi, por excelência, o símbolo da sua marca: o preto.
Este ano, que marcou o seu regresso às passerelles de Milão depois de uma pausa de três estações e o regresso do Portugal Fashion, o designer quis assinalar a data com uma proposta especial. "Queria regressar outra vez ao meu ADN, então resolvi fazer uma coleção toda em preto", diz em entrevista ao SAPO Lifestyle momentos antes do desfile.

O Museu do Carro Elétrico transformou-se num jardim noturno onde os modelos, como flores em movimento, embelezavam a passerelle com as suas criações. A elegância, a sofisticação e o requinte marcaram tanto as propostas masculinas quanto as femininas. "Esta é a linha que eu tenho mantido estes anos e não queria fugir disso, porque os meus clientes são assim", afirma.
As silhuetas oversize e com movimento, vistas em vestidos, camisas ou calças, misturaram-se com cortes mais slim e estruturados, como coletes, tops e blazers, criando um jogo de contrastes marcado pela inclusão de alguns toques metalizados e de branco. Para mostrar que o preto não tem de ser uma cor aborrecida, o estilista apostou nos detalhes.
Para além da pedraria e dos bordados em missangas, destacaram-se os chapéus que desfilaram na cabeça dos modelos masculinos, as fitas de cetim que adornaram vestidos e saias de vários comprimentos, e as aplicações de pele maxi em formato de tulipas, jarros e camélias, que enfeitaram as lapelas dos blazers de homem. "É uma coleção, sobretudo, que tem algumas peças que são feitas em edições muito pequenas e limitadas, de 50 ou 60", refere o criador que, em 2006, foi distinguido com a Comenda da Ordem do Infante D. Henrique.

Questionado se tem alguma criação preferida, Miguel Vieira diz que, apesar de olhar para as suas peças como se fossem filhos, explica que a parte mais desafiante de todo o processo criativo é fazer "peças um bocadinho mais arrojadas e que são clássicas, mas que consigo dar um twist para dar um ar mais moderno e mais contemporâneo." Nos pés dominaram as propostas envernizadas e com berloques vistas em slides, loafers ou botas.
Em termos de tecidos, deu continuidade aos materiais de qualidade que já são habituais nas suas coleções, como é o caso de Cerruti, Loro Piana ou Zegna. Nos 44 coordenados apresentados, os acetinados surgem na passerelle em looks totais para ele e para ela, assim como as lantejoulas reversíveis que podemos ver em vestidos e tops.
Sobre o formato anual que o Portugal Fashion adotará a partir de agora, Miguel Vieira admite que "é um conceito diferente", "bem pensado", mas que ainda não sabe que temporada irá apresentar nas edições que se seguem.

Miguel Vieira, que desde de 1997 tem seguido o percurso das marcas internacionais e apresentado as suas coleções nas principais Fashion Weeks de todo o mundo, revela que a vida de designer é marcada por momentos de muito stress, adrenalina e imprevistos. Exemplo disso foi este desfile, que esteve por um triz para não acontecer, uma vez que as peças que vindas de Milão ficaram retidas num armazém. "Foi das semanas mais complicadas que tive na minha vida", diz, confessando que foi algo inédito em quase 40 anos de carreira. "A coleção chegou hoje, à hora do almoço, e eu tinha duas hipóteses: cancelar o desfile hoje ou fazer acontecer."
Questionado sobre o que motivou o atraso, o criador foi claro e direto: deve-se ao consumo desenfreado imposto pela indústria de fast-fashion. "Diariamente chegam à Europa e aos Estados Unidos, vindos da China, 80 boeings carregados de mercadoria. Nós, designers, não fazemos as coisas massificadas, as Sheins da vida fazem e têm prioridades. As primeiras encomendas a serem entregues são as deles, porque têm contratos com as grandes empresas de distribuição e os outros, a seguir, são esquecidos, que é o nosso caso", conclui.
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